Opositor de Erdogan diz que é preso político no Brasil por ameaças de extradição

Empresário Ali Sipahi prestou depoimento nesta sexta-feira na 7ª Vara Criminal da Justiça Federal e fez duras acusações ao governo turco

Ali Sipahi foi preso no Brasil e gerou discussão na comunidade da Turquia pela oposição a Erdogan
Foto: Divulgação / Centro Cultural Brasil-Turquia
Ali Sipahi foi preso no Brasil e gerou discussão na comunidade da Turquia pela oposição a Erdogan


Preso desde o último 6 de abril a pedido do governo da Turquia , o empresário Ali Sipahi prestou depoimento nesta sexta-feira na 7ª Vara Criminal da Justiça Federal, em São Paulo . Opositor do presidente turco Recep Tayyip Erdogan , Sipahi faz parte do movimento Hizmet , ligado ao religioso muçulmano Fethullah Gülen . A organização, contudo, é classificada de terrorista pelo governo da Turquia, embora esteja presente em mais de 100 paises ao redor do mundo.

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O Hizmet era próximo a Erdogan até 2013, quando um jornal ligado ao movimento publicou denúncias de corrupção contra o governo turco. Desde então, o presidente se afastou de Güllen e persegue membros da comunidade em todo o mundo. Os ataques levaram Güllen a se exilar nos Estados Unidos. Em 2015, o governo turco atribuiu a Gülen e a seus seguidores uma tentativa fracassada de golpe. No Brasil, o Hizmet é responsável pelo Centro Cultural Brasil-Turquia.

Na audiência realizada na manhã desta sexta-feira, Sipahi disse que foi surpreendido pelo mandado de prisão e que não havia sido notificado pelo governo turco antes de ser abordado pela Polícia Federal.

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Residente no Brasil há 12 anos, ele disse ser um preso político e que, se estivesse envolvido com terrorismo, o governo brasileiro já teria conhecimento. A prisão preocupa lideranças da comunidade turca, que teme outras prisões lideranças do Hizmet no país. Há cerca de outros 300 integrantes do Hizmet no Brasil.

Segundo o pedido feito pela Turquia, uma das evidências que justificam sua prisão são depósitos feitos em uma conta no banco Asya-o, ligado ao Hizmet, entre 2013 e 2015. A defesa de Sipahi diz que se trata de um depósito comum em uma conta pessoal.
A Turquia pede a extradição de Ali e o caso deve ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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"Eu acredito no Brasil. Aqui tem democracia, aqui tem justiça. Nós esperamos que as autoridades brasileiras entendam que isso é uma perseguição e que libertem o meu marido", afirmou a esposa de Ali, Merve Betul Sipahi, com quem tem um filho de quatro anos.

A defesa de Ali Sipahi espera que o turco consiga a liberdade em breve. Presidente do CCBT, o turco Mustafa Goktepe está nos Estados Unidos, onde foi em viagem com a família.

"A expectativa no curto prazo é a libertação do Ali. Nós temos uma petição há 24 dias, então a qualquer momento pode vir uma decisão", disse o advogado do turco, Theo Dias

Theo disse estar otimista com a liberação e a não extradição porque não consegue imaginar outra definição do caso. Segundo ele, seu cliente não é mais um homem comum, mas um "homem público", e que ele certamente sofrerá represálias de Erdogan caso retorne à Turquia.

"É a primeira vez que acontece esse julgamento no Brasil. No mundo já existia exemplos, nos Estados Unidos, Canadá, Europa, África. Vários empresários e jornalistas foram julgados com pedido de extradição para a Turquia e, até hoje, nenhum foi extraditado. E sempre a decisão final foi a respeito de que o movimento Hizmet não tem nenhuma ligação com organizações terroristas", declarou o porta-voz do Centro Cultural Brasil Turquia (CCBT).

O movimento se autodenomina uma iniciativa civil mundial, enraizada na tradição espiritual e humanística do Islã. Seus princípios básicos seriam o amor pela criação, o respeito às diferenças, a empatia pelo ser humano, a compaixão e o altruísmo. O movimento é particularmente forte na Turquia, onde criou escolas, um banco, jornais, e outros movimentos culturais. Erdogan e Gülen chegaram a ser politicamente próximos, mas se afastaram a partir de 2013, após denúncias de corrupção por um jornal ligado ao Hizmet.

A Embaixada da Turquia afirma que, na visão do governo turco, a FETÖ (ou Hizmet) é uma organização terrorista. O documento cita que Fethullah Gülen é o mentor do golpe na Turquia em 15 de julho de 2016.

"Todas as evidências reunidas até agora, durante as investigações e julgamentos, demonstram que o ataque terrorista mais sangrento da História da Turquia foi orquestrado pela FETÖ sob as instrução de Fetullah Gülen", afirma a embaixada, que conclui que a organização está presente em cerca de 160 países, com milhares de escolas, empresas, ONGs e agências de mídia, agindo da mesa forma em todo o mundo para, ainda segundo o governo turco, se infiltrar e ampliar sua influência econômica e política global, constituindo uma ameaça direta à segurança de qualquer país onde operam.

Quando procurada na última semana, a Procuradoria Geral da República afirmou que o pedido de prisão para fins de extradição foi feito no final de março, acatando pedido do governo Erdogan . "O processo de extradição ainda não foi finalizado, e deve haver novas manifestações da PGR ao longo do procedimento, mas não é possível adiantar o teor ou o sentido", afirmou a Procuradoria.