Aproximadamente 2,3 mil crianças já foram tiradas de seus pais desde que a nova política migratória dos Estados Unidos
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Aproximadamente 2,3 mil crianças já foram tiradas de seus pais desde que a nova política migratória dos Estados Unidos

Nas últimas seis semanas, pelo menos oito crianças brasileiras foram separadas de seus pais ou guardiões legais após atravessarem a fronteira nos Estados Unidos. O período coincide com o início da política de tolerância zero com relação à travessia ilegal de imigrantes, implantada pelo governo do presidente Donald Trump.

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As informações são do jornal Folha de S.Paulo , que entrevistou o consulado brasileiro em Houston. Para a entidade, o número de casos de crianças separadas de pais e outros familiares é alto, comparado ao passado, quando essa situação afetava duas ou três crianças.

Com idades entre 6 e 17 anos, as crianças brasileiras encontram-se em abrigos nos estados da Califórnia e Arizona. Segundo relatos, muitas choram pela distância da família.

Segundo o consulado, as mães de algumas crianças estão detidas no Texas ou no Novo México, cerca de 500 quilômetros de distância dos filhos. Muitas ficaram sem informação sobre o destino das crianças por semanas, até serem informadas pelas autoridades brasileiras.

A situação de cada criança brasileira deve depender de fatores individuais. Por exemplo, uma delas está perto de completar 18 anos, e será transferida para um centro de detenção para imigrantes .

Já em outros casos, se a prisão dos pais for prolongada, poderá ser considerada a possibilidade de deportação do menor para a família no Brasil.

Condições dos abrigos

O maior problema das crianças é a separação. Os abrigos, segundo a avaliação do consulado, estão em boas condições e não há notícias de maus-tratos.

No entanto, a lotação é uma preocupação. Em seis semanas, pelo menos 2 mil crianças imigrantes foram separadas dos pais nos EUA , de acordo com o governo de Trump. Isso colaborou para que os abrigos atingissem quase 100% de sua capacidade.

Imagens mostraram que, em um centro de imigrantes na fronteira, crianças dormem em colchonetes no chão, cobertas por mantas térmicas, com aspecto de papel alumínio.

No entanto, na terça-feira (19), um  áudio de crianças desesperadas chorando após serem separadas de seus pais na fronteira norte-americana aumentou a polêmica envolvendo a política migratória de Trump.

Na gravação, divulgada pela organização de jornalismo investigativo ProPublica é possível ouvir uma criança dizendo em espanhol “Papai! Papai!”.

Segundo a ativista Jennifer Harbury, o áudio foi gravado na última semana e entregue à imprensa por um informante. Em oito minutos, também se ouve outras crianças chorando e um agente de custódia dos Estados Unidos fazendo um comentário sarcástico: "Aqui temos uma orquestra, mas falta um maestro".

Apesar de não haver indícios de onde a gravação teria sido feita, a agência Associated Press visitou um armazém antigo no sul do Texas onde centenas de crianças ficam dentro de gaiolas de metal, com água e sacos de batatas fritas. São crianças desacompanhadas e sem documentos que tiveram problemas na imigração - ou os pais foram barrados pelos EUA e separados dos filhos.

Tolerância zero

A nova medida estabelece que todo adulto pego atravessando a fronteira ilegalmente deve ser criminalmente processado. Caso seja capturada, a pessoa será encaminhada a um centro federal de detenção de imigrantes até que se apresente a um juíz.

Apesar de não mencionar a separação de crianças, essa é uma consequência inevitável, já que os menores não podem ser mantidos nos centros de detenção.

Antes, ao chegarem na fronteira sem autorização, as famílias podiam entrar em território americano e pedir refúgio. O processo demorava um tempo, e nesse período o imigrante podia ou não ser detido, dependendo de uma série de fatores, ou então deportado.

Críticas

Trump tem sido alvo de uma avalanche de críticas. Tanto por parte dos democratas quanto por republicanos, além de organizações internacionais e outras personalidades enxergam o endurecimento da medida com desaprovação.

Até mesmo a esposa do presidente norte-americano, Melania Trump, se posicionou contra a atitude radical que o país está tomando . "A primeira-dama odeia ver crianças separadas de suas famílias e espera que ambos os lados [democratas e republicanos] possam se unir para obter uma reforma migratória de sucesso", disse a porta-voz de Melania , Stephanie Grisham, no último domingo (17).

"Ela acredita que devemos ser um país que segue todas as leis, mas também um país que governe com o coração", acrescentou. Já a ex-primeira-dama Laura Bush publicou um artigo no jornal The Washington Post afirmando que a separação de pais e filhos é "cruel, imoral e desoladora".

Por sua vez, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (Acnudh) qualificou essa política como "inadmissível", enquanto a ONG Anistia Internacional afirmou que essa é uma "forma de tortura".

O objetivo do governo dos EUA é dissuadir pessoas que estejam pensando em cruzar a fronteira ilegalmente com suas famílias. "Não queremos que aconteça conosco o que está acontecendo com a Europa com a imigração ", escreveu Donald Trump em sua página nas redes sociais da internet, afirmando que "o povo da Alemanha está se virando contra sua liderança".

Ele se refere à crise que ameaça o mandato da chanceler Angela Merkel, cuja política de acolhimento é criticada por parte de sua base conservadora. Trump também acusa os imigrantes ilegais de serem "ladrões e assassinos" e de usarem crianças para "entrar no país".

Saída do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Reprodução/CNN
"Não queremos que aconteça conosco o que está acontecendo com a Europa com a imigração", escreveu Donald Trump

No mesmo dia em que o áudio da criança no abrigo foi divulgado, na noite desta terça-feira, os EUA anunciaram sua retirada do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas . A notícia foi dada pela embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley.

A decisão vem após os EUA receberem críticas do Conselho de Direitos Humanos pela determinação Trump que separa crianças imigrantes de seus pais perto da fronteira com o México.

Os americanos alegaram, contudo, que seus esforços para reformar o órgão sediado Genebra foram em vão. "Nenhum país teve a coragem de participar da nossa luta", comentou, classificando de "hipócrita" o Conselho ao lidar com assuntos mundiais.

Haley, porém, afirmou que a saída dos EUA não altera o compromisso do país com os direitos humanos.

O secretário-geral da ONU, o português Antonio Guterres, lamentou a saída dos EUA. "Eu preferiria que os EUA permanecessem no Conselho dos Direitos Humanos".

Apesar de vários países terem criticado a decisão, Israel, também alvo de reprimendas do Conselho por suas ações violentas contra a Palestina, elogiou a medida. "O Conselho de Direitos Humanos há muito tempo é um inimigo daqueles que têm colocado o coração nos Direitos Humanos do mundo", disse Danny Danon, embaixador de Israel na ONU.

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