O ex-vice-presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, foi nomeado como o novo presidente do país, nesta quarta-feira (22). O partido que tem a maioria no Legislativo, a União Nacional Africana de Zimbábue-Frente Patriótica (ZANU-PF), escolheu o nome de Mnangagwa, após a renúncia de Robert Mugabe , que mergulhou o país em instabilidade. A posse deve acontecer na próxima sexta-feira (24).
O conflito pela liderança do país começou exatamente quando, no dia 6 de novembro, Robert Mugabe destitui Mnangagwa do seu cargo de vice-presidente. A decisão foi considerada uma manobra da primeira-dama, Grace Mugabe, para se desfazer de seu principal rival na corrida pela sucessão do marido no poder. Mnangagwa, conhecido pelo apelido de "Crocodilo", fugiu do país, alegando que recebeu ameaças de morte.
No dia 14 de novembro, a demissão prontificou as Forças Militares do país a cercaram a capital do país, Harare, e colocarem Mugabe sob prisão domiciliar. Durante o último fim de semana, uma multidão foi às ruas da cidade para fazer pressão, pedindo que o presidente renunciasse ao cargo.
Em seguida, no dia 19 de novembro, o ZANU-PF, fundado e até então também comandado por Mugabe, o retirou da liderança do partido e colocou Mnangagwa no lugar. Mesmo sem aliados, o presidente afirmou que não deixaria o cargo . No entanto, o Parlamento iniciou o processo de impeachment contra ele e nesta terça-feira Mugabe cedeu à pressão.
Aos 93 anos, Mugabe estava há 37 anos no poder, após a independência do país do Reino Unido, em 1980. No entanto, o Zimbábue entrou em uma grave crise econômica nos anos 2000, com hiper inflação e desvalorização praticamente total da moeda local.
No discurso em que anunciou sua saída do ZANU-PF, o presidente do Comitê Central do partido, Obert Mpofu, se referiu a ele como “um presidente em fim de mandato”, ainda elogiando a intervenção das Forças Armadas, que segundo ele “abrem uma nova era, não só para o partido, mas também para o país”.
Ditadura disfarçada
O ZANU-PF é o partido que liderou a libertação do Zimbábue do colonialismo europeu e tem sua imagem ligada ao seu fundador maior, Robert Mugabe. De acordo com a constituição do país, o partido que tem a maioria no Parlamento do país (o ZANU-PF atualmente) pode nomear um indivíduo de sua escolha para o cargo de presidente, caso o cargo fique vago, como aconteceu nesta quarta-feira (22).
No entanto, a constituição também determina que com o cargo de presidência vago, um dos dois vice-presidentes do país automaticamente assumiria o poder. Mnangagwa já havia sido demitido, então o outro vice, Phelekezela Mphoko, seria o novo presidente. Mas ele é ligado à Grace Mugabe e temendo por sua segurança, não estava no Zimbábue durante o processo de tomada do poder dos militares.
Segundo associações de direitos humanos do país, ouvidas pelo jornal New York Times , todas as reais decisões políticas acontecem nos bastidores e o processo de sucessão seria legal somente nas aparências, em uma ‘ditadura disfarçada’.
Agrippah Mutambara, herói da guerra de libertação e mais tarde embaixador do país, disse ao New York Times que "o ZANU-PF nunca pode representar Mugabe de maneira ruim", já que os dois seriam ‘indissociáveis’. E completou: "O que acontecerá é que toda a culpa será aplicada à esposa".
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De fato, Obert Mpofu, o presidente do Comitê Central do partido, afirmou que Mugabe “tinha feito um grande trabalho até que Grace e seus parceiros se aproveitaram dele quando envelheceu”.