Duas semanas depois de um primeiro turno acirrado, os franceses voltam às urnas neste domingo (7) para escolher seu próximo presidente. As urnas foram abertas às 8h locais (3h, pelo horário de Brasília) e fecham às 19h (14h de Brasília) na maioria das cidades e às 20h (15h em Brasília) em grandes cidades como Paris, Lyon e Marseille.
Leia também: Segundo turno das eleições na França começou neste sábado em territórios ultramarinos
A votação se desenha tranquila para o centrista Emmanuel Macron, do movimento Em Marcha!. Nos 14 dias de intervalo entre o primeiro e o segundo turnos, o ex-ministro das Finanças manteve uma vantagem de pelo menos 20 pontos sobre sua adversária, a ultranacionalista Marine Le Pen, da Frente Nacional. Além disso, seu desempenho contundente no debate da última quarta parece ter consolidado seu favoritismo nas eleições da França .
Para empreender uma virada que seria histórica, Le Pen aposta na fidelidade de seu eleitorado, muito mais mobilizado que o de Macron, e em uma abstenção elevada - no primeiro turno, o índice de comparecimento foi de 77,77%, número que tende a cair neste domingo, já que sobraram apenas dois candidatos. No total, 47 milhões de pessoas estão aptas a votar.
O atual presidente da França, Fraçois Hollande já votou. Ele escolheu seu sucessor em Tulle, região central do país. O candidato Emmanuel Macron votou em Le Touquet, no norte da França, praticamente no mesmo momento em que a candidata Marine Le Pen votou em Hénin-Beaumont, ao norte da França, reduto do partido Frente Nacional, por volta das 7h.
MacronLeaks
Além disso, ainda não se sabe quais serão os efeitos do vazamento de milhares de documentos da campanha do centrista, revelado na sexta-feira passada (5), último dia da campanha eleitoral. O caso já foi apelidado de "MacronLeaks" e, segundo a equipe do ex-ministro, teve como único objetivo prejudicá-lo.
Leia também: Favorito nas pesquisas, candidato a presidente da França vira alvo da Justiça
Seriam ao todo nove gigabytes de arquivos relacionados à candidatura de Macron, incluindo emails e recibos. Neste sábado (6), a comissão eleitoral da França lançou um apelo para a imprensa e os cidadãos não divulgarem o conteúdo vazado, salientando que a difusão de tais documentos, "obtidos de modo fraudulento", pode ter "consequências penais".
Segurança
A denúncia feita pela campanha de Macron acabou encobrindo as ameaças do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que pouco antes havia instado seus simpatizantes a cometerem atentados nas eleições de domingo. Assim como em 23 de abril, quando foram mobilizados 50 mil agentes, o segundo turno transcorre sob forte esquema de segurança.
O temor de novos ataques no país aumentou três dias antes do primeiro turno, quando um suposto jihadista matou um policial na avenida Champs-Élysées, símbolo de Paris, em uma ação reivindicada pelo EI. O terrorismo foi um dos principais temas da campanha, já que a França é a nação europeia mais atingida pelo extremismo islâmico.
A disputa
Dissidente socialista, Macron foi ministro das Finanças do presidente François Hollande entre 2014 e 2016, mas rompeu com o governo por discordar dos "dogmas da esquerda" e para lançar sua corrida ao Palácio do Eliseu.
Ele se apresenta como uma espécie de terceira via liberal e europeísta e conseguiu cativar o eleitorado com um discurso carismático, lembrando as ascensões de Tony Blair, no Reino Unido, e Matteo Renzi, na Itália.
Aos 39 anos, Macron pleiteia se tornar o mais jovem presidente da história da França e já foi chamado por seus adversários de "Justin Bieber" e "Beppe Grillo vestido de Giorgio Armani", em referência ao líder antissistema italiano.
Com um movimento criado há apenas um ano, o Em Marcha!, ele assumiu a liderança nas pesquisas graças à derrocada do Partido Socialista e aos problemas judiciais do conservador François Fillon, arrancando votos nas duas frentes.
Mais experiente, Le Pen, 48 anos, também encampa o discurso contra o establishment e os partidos tradicionais, apesar de pertencer a uma legenda existente desde 1972. Seu pai, Jean-Marie Le Pen, chegou a disputar o segundo turno em 2002, mas foi massacrado por Jacques Chirac (82% a 18%) e, anos mais tarde, abriria espaço para sua filha.
Os dois romperam politicamente em 2015, em meio à tentativa da candidata de modernizar a imagem da FN e se afastar do discurso antissemita e negacionista de seu genitor. A ultranacionalista tem como principais propostas retirar o país da zona do euro, retornando ao franco, e convocar um referendo sobre a presença do país na União Europeia.
Seu programa econômico é intervencionista e prevê aumento de impostos sobre a contratação de estrangeiros, além da retomada do controle sobre as fronteiras francesas. Le Pen ainda quer bloquear totalmente a imigração clandestina e limitar a entrada de imigrantes legais em 10 mil por ano.
Se ela vencer, se tornará a primeira mulher presidente o país. Em um continente onde a tradição dominante é a do parlamentarismo, o país adota um sistema político um pouco diferente, um semipresidencialismo que dá amplas atribuições ao chefe de Estado, mas mantém a figura do primeiro-ministro para lidar com o dia a dia do governo.
Leia também: "Trump da França", Le Pen vai ao segundo turno e dá força à extrema-direita
O mandato é de cinco anos, porém o novo presidente da França terá de esperar até junho, quando serão realizadas as eleições legislativas, para saber se terá maioria no Parlamento. Formar um governo exigirá habilidade tanto de Macron, que representa um movimento novato, quanto de Le Pen, que terá dificuldades para emplacar muitos deputados no sistema distrital, majoritário e em dois turnos usado para eleger a Assembleia Nacional.
* Com informações da Agência Ansa.