Jovem é absolvido por abuso sexual ao alegar "não ter sentido prazer no ato"

Juíz determinou que, como não houve intenção carnal no crime, não pode ser considerado assédio sexual; ativistas de direitos humanos criticam decisão

Diego Cruz foi um dos quatro jovens acusados pelo abuso sexual de uma colega de classe em escola de elite de Veracruz
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Diego Cruz foi um dos quatro jovens acusados pelo abuso sexual de uma colega de classe em escola de elite de Veracruz

Um juiz mexicano inocentou um jovem acusado de sequestrar e abusar sexualmente de uma garota menor de idade. A absolvição aconteceu porque, supostamente, o agressor não sentiu prazer durante o abuso.

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Diego Cruz, de 21 anos, foi um dos quatro jovens acusados por abusar sexualmente de uma colega de sala. Todos os acusados são de famílias importantes em Veracruz e estudavam com a garota em escola de elite. Apesar de o abuso ter acontecido em uma festa de Ano Novo em 2015, a sentença só se tornou pública na última segunda-feira (27).

Cruz foi acusado de tocar nos seios da vítima e penetrá-la com seus dedos, mas o juiz Anuar González, responsável pelo caso, determinou que o ataque não poderia ser considerado assédio sexual "já que não houve intenção carnal".

González também afirmou que, por mais que a vítima, que tinha 17 anos quando sofreu o ataque, tenha sido forçada a entrar no carro de um de seus agressores, ela nunca esteve realmente indefesa. Dois dos outros três jovens são acusados por penetração.

O réu havia fugido para a Espanha, mas foi extraditado de volta ao México para passar por julgamento. Sua absolvição revoltou ativistas dos direitos humanos e marcou um novo ponto negativo em um julgamento que já havia reforçado a percepção de que pessoas com dinheiro e influência política estão acima da lei em Veracruz.

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“Ele a tocou sexualmente, mas porque não aproveitou não é assédio sexual?”, disse a ativista da questão de gênero, Estefanía Vela Barba. “Já que não houve prazer no ato, foi para causar humilhação. Eles estavam a tocando e a incomodando; então, para o juiz, se não foram movidos pela excitação, não é assédio sexual”.

O caso se tornou um exemplo da impunidade da elite mexicana. Quinze meses após o ataque, a vítima descreveu sua experiência em publicação no Facebook, como uma forma de forçar as autoridades a tomarem uma atitude.

“Eu não tenho nada do que me arrepender”, escreveu. “Eu bebi, fui a festas, usei saias curtas como muitas garotas da minha idade... E estou sendo julgada por isso? Por esses motivos eu mereci o que aconteceu comigo?”.

Veracruz

A população ficou ainda mais indignada com o caso porque aconteceu no estado de Veracruz, região que se tornou símbolo do fracasso do governo do México ao garantir que a lei seja seguida.

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Em meio à crescente rivalidade entre gangues, casos de abuso e sumiço de mulheres, foram encontrados 250 crânios humanos no começo do mês, no que se acredita ser um cemitério clandestino dos cartéis de drogas. Enquanto isso, o ex-governador do estado está foragido por ter sido acusado de roubar dinheiro público.