COP29: Financiamento de US$ 300 BI é "desastre” e “traição” para países em desenvolvimento

Países em desenvolvimento pediram US 1,3 trilhão para ajudar em causas ambientais, e texto apresenta US$ 300 bilhões

Pessoas caminham em frente ao logotipo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática COP29, em Baku, em 11 de novembro de 2024
Foto: Alexander Nemenov
Pessoas caminham em frente ao logotipo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática COP29, em Baku, em 11 de novembro de 2024


Depois de atrasos e desavenças, a COP29 , conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), chegou a um acordo financeiro para o texto final. Durante o sábado (23) as negociações em Baku, Azerbaidjão,  combinaram em fechar em US$ 300 bilhões anuais em financiamento de países pobres.

A COP ficou dias travadas no embate de dinheiro e ganhou o apelido de “ COP das finanças .” O pedido inicial dos países em desenvolvimento era que países ricos financiassem US$ 1,3 trilhão para ajudar em ações contra as mudanças climáticas.

O valor inicial apresentado do texto, no entanto, foi muito abaixo: US$ 250 bilhões - número cerca de cinco vezes menor do que o pedido. Depois de discussões durante o sábado (23), no entanto, o número subiu para US$$ 300 bilhões.

Cúpula foi um “desastre”

O texto final da COP29 deveria ter sido entregue na sexta-feira (22). Porém, o fechamento desta reportagem é na noite de sábado (23) e não há texto final. Foi dificil para os quase 200 países na cúpula chegarem a um acordo sobre planos ecológicos e econômicos para o futuro.

Países em desenvolvimento não ficaram nada contentes com o valor destinado ao financiamento. Mohamed Adow , diretor do think tank Power Shift Africa, disse: "Esta COP foi um desastre para o mundo em desenvolvimento. É uma traição às pessoas e ao planeta, por parte dos países ricos que afirmam levar a sério as alterações climáticas". Além disso:

  • A Índia também se declarou abertamente contra o acordo, e não queria assinar.
  • A Bolívia disse que o documento  "consagra a injustiça climática" e "consolida um sistema injusto".
  • Em nome dos pequenos Estados Insulares, Samoa disse: "Consideramos que não fomos ouvidos".

A decisão dos R$ 300 bilhões vem depois de, durante reuniões de negociação, representantes levantarem e abandonarem discussão como forma de protesto. 

Entendendo briga da COP29

O Acordo de Paris estabeleceu que, a partir de 2020, países ricos deveriam ajudar países mais pobres no combate à mudança climática e, principalmente, se prepararem para as consequenciais de tais mudanças. 

Os países desenvolvidos, no entanto, não cumpriam a meta. Desde a COP27, de 2022, esperava-se que o assunto viesse à tona e houvesse uma medida para estabelecer regras mais óbvias.

Quando isso não aconteceu, começou uma pressão e atitudes claras dos países em desenvolvimento para, na COP29, ser definido de modo claro uma meta financeira e um valor exato. 

"Sem um acordo concreto para o Novo Objetivo Coletivo Quantificado de Financiamento Climático [NCQG, na sigla em inglês] os países em desenvolvimento ficarão sem apoio financeiro essencial após 2025, o que comprometerá o Acordo de Paris", disse Natalie Unterstell , presidente do Instituto Talanoa, think tank do Brasil, ao g1.

Especialistas calculam ser necessários trilhões de dólares para “pagar a conta” dos impacto climáticos e e reverter alguns desses processos. Por isso, os países pediram o valor inicial de US$ 1,3 trilhões - e explica a decepção da proposta de US$ 300 bilhões. 

** Jornalista pelo Mackenzie e cientista social pela USP, trabalha com redação virtual desde 2015 e teve passagem em grandes redações do Brasil. Curte cultura, política e sociologia.