As reuniões da COP29 em Baku, Azerbaidjão , têm enfrentado problemas . Os principais são a resistência da Arábia Saudita em abrir mão do uso de petróleo e a sensação de países insulares e em desenvolvimento de não estarem sendo ouvidos.
Durante a reunião da COP29 deste sábado (23) houve, inclusive, abandono de reunião de delegações de países mais vulneráveis do projeto. Isso acarreta na prorrogação da aprovação do texto, que, pelo cronograma, deveria estar pronto na sexta-feira (22).
A COP, ou Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), é um encontro anual para discutir e verificar ações contra a mudança climática no mundo.
Países abandonam reunião da COP29
Durante as reuniões da COP neste sábado, delegações de países insulares e subdesenvolvidos saíram do recinto após ouvir o texto-proposta. Os responsáveis o fizeram como protesto.
De acordo com os representantes dessas nações, o texto não levou em consideração as necessidades das nações, nem tampouco a dificuldade de acesso a alimentos, dinheiro e mais que a população dos países poderia sofrer caso o texto passe.
O presidente do grupo de países subdesenvolvidos da ONU escreveu no Twitter: "Saímos temporariamente das consultas porque sentimos que o texto não reflete o motivo pelo qual viemos aqui."
Uma das grandes questões é que o novo texto, além de baixar o financiamento dos países ricos, não considera o fato dos países pequenos não contribuem muito para emissão de gases causadores do efeito estufa, mas acabam sofrendo os principais impactos da mudança por falta de recursos.
Camila Jardim , especialista em política internacional do Greenpeace Brasil , disse ao g1: "Não existe consenso possível sem que essa demanda dos países em desenvolvimento e pequenas ilhas sejam levados em consideração e, apesar de repetidas consultas e de estarmos já na prorrogação da COP, a presidência apresentou um texto muito longe das demandas e necessidades desses países.”
Para ela, o texto valoriza os países ricos, e isso se reflete no fato de que eles mostraram o interesse de seguir, ao passo que países em desenvolvimento não aceitam:
“Os únicos que queriam debatê-lo eram os países desenvolvidos, o que mostra o desequilíbrio da proposta apresentada. Sabemos que a necessidade de financiamento é de trilhões de dólares, o que mostra que a demanda atual dos países em desenvolvimento é muito razoável.”
Arábia Saudita bate pé em petróleo
Outra controvérsia da COP29 é a Arábia Saudita . De acordo com The Guardian , o país supostamente editou trechos do texto oficial da negociação. A questão é que isso não é de praxe, e os textos deveriam ser iguais e não editáveis para todos os países na mesma fase do processo.
Ao poucas partes terem acesso à edição, corre o risco de um colapso no acordo, pois essas dificultam o trâmite e podem ser parciais. O documento em questão é sobre o Just Transition Work Program (JTWP), projeto para ajudar os países a avançar para um futuro mais sustentável.
Basel Alsubaity, do Ministério da Energia Saudita, teria feito duas edições no documento, incluindo a exclusão de um trecho que “incentiva as partes a considerarem caminhos de transição justos no desenvolvimento e implementação de NDCs, NAPs e LT-LEDSs” (as siglas são, respectivamente, sobre estratégias para emissão de baixos carbono, estratégias para lidar com impactos climáticos e compromisso para reduzir emissão de gases de efeito estufa.)
O trecho garante que os países seguirão as regras do Acordo de Paris , acordo global para combater mudanças climáticas.
´Porém, a Arábia Saudita é uma das grandes produtoras de combustível fóssil, especialmente petróleo, do mundo. O não-uso desse tipo de combustível afeta diretamente o país. Albara Tawfiq , representante do país da COP29, deixou claro que o país do Oriente Médio não aceitará proibições ou dificuldades mais duras no uso do petróleo.
** Jornalista pelo Mackenzie e cientista social pela USP, trabalha com redação virtual desde 2015 e teve passagem em grandes redações do Brasil. Curte cultura, política e sociologia.