Uma pesquisa realizada pelo World Weather Attribution (WWA), um grupo internacional de cientistas especializados em assuntos climáticos, apontou que a seca que atingiu a Amazônia em 2023 teve como principal causador as mudanças climáticas. Segundos os resultados publicados nesta quarta-feira (24), o fenômeno natural El Niño, que costuma fazer com que a região tenha grandes secas, teve uma influência menor no último ano.
A Bacia Amazônica vem enfrentando uma forte estiagem desde meados de 2023. Em algumas regiões, os rios chegaram a atingir os níveis mais baixos em mais de um século. A floresta acabou sofrendo com o aumento dos incêndios, o que contribuiu para a maior poluição do ar. Já a fauna da região acabou sofrendo com a temperatura elevada da água, como a morte de 150 golfinhos cor-de-rosa, que está na lista de animais ameaçados de extinção.
O estudo da WWA, que juntou cientistas de universidades e agências meteorológicas no Brasil, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, mostrou que as mudanças climáticas têm diminuído as precipitações e aumentando a temperatura na Amazônia. Tais fatores elevaram em 30 vezes as chances de seca na região, tendo um impacto maior que apenas o El Niño.
Para o estudo, os cientistas examinaram os impactos das mudanças climáticas no período de seca. Eles então compararam o clima atual, que apresenta cerca de 1,2ºC de aquecimento global, com o clima pré-industrial, sem os impactos do ser humano.
Na Bacia Amazônica , dois índices foram usados para avaliar a gravidade da seca: o Índice Padronizado de Precipitação (SPI) — modelo que leva em consideração a baixa precipitação e mede a seca meteorológica —; e o Índice Padronizado de Precipitação Evapotranspiração (SPEI) — modelo que avalia a baixa precipitação e evapotranspiração, medindo a seca agrícola.
Desta maneira, foi possível analisar a seca sem a influência do El Niño, entendo qual foi o papel do evento natural na seca. Dessa maneira, entendeu-se que, ainda que o El Niño tenha contribuído para a seca, as mudanças climáticas foram o principal fator.
O estudo foi um alerta para o mundo. Segundo os cientistas, o cenário ideal seria com temperaturas 1,2°C mais baixas em todo o mundo, o que traria uma seca considerada menos intensa.
No caso das mudanças climáticas, os principais fatores ressaltados são as emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima de petróleo, gás e carvão. Caso o planeta esquente mais de 2ºC, secas como as vistas no último ano deverão acontecer quatro vezes mais.