O uso de pesticidas e outros chamados ‘defensivos agrícolas’ ganhou força desde o início do governo Bolsonaro. Os agrotóxicos liberados aumentaram e colocaram o Brasil entre os líderes globais no quesito de liberação de substâncias que podem fazer mal à saúde.
De acordo com números oficiais, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2021 foram aprovados 552 agrotóxicos para uso no Brasil, dos quais 96 eram produtos contendo ingredientes ativos biológicos. Outros 181 eram produtos técnicos com ingredientes ativos químicos que entram na produção de outros agrotóxicos. Por fim, 275 eram produtos com ingredientes ativos químicos formulados.
Segundo um estudo encomendado pelo Ministério Público Federal, Ministérios Públicos Estaduais, órgãos do Poder Judiciário federal e dos estados, as permissões apontaram para uma escalada de produtos altamente perigosos no ano passado. O pacote inclui itens banidos na União Europeia (UE) há mais de 20 anos ou que jamais conseguiram ser liberados justamente por causa dos possíveis riscos.
“A proibição desses produtos na UE está associada aos efeitos adversos a humanos e a outros organismos resultantes da exposição aos ingredientes químicos de agrotóxicos”, destaca a professora Sonia Corina Hessem, uma das líderes da pesquisa, em parecer público sobre o tema.
Entre os agrotóxicos aprovados está a atrazina, usada para matar as chamadas ervas invasoras. O produto foi princípio ativo de 25 dos mais de 500 produtos liberados no ano passado no Brasil. A atrazina foi banida na União Europeia em 2004.
O princípio ativo da atrazina está associado a diversos tipos de câncer, como estômago, próstata, ovários, tireoide, ao desenvolvimento da Doença de Parkinson e do Mal de Alzheimer. Segundo a ANVISA, outros produtos do tipo podem gerar consequências maléficas à saúde humana, como dificuldade para dormir, esquecimento, aborto, impotência, depressão, problemas respiratórios graves, alteração do funcionamento do fígado e dos rins, anormalidade da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, incapacidade de gerar filhos, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças.
Outro exemplo de agrotóxico maléfico em uso no Brasil é o fipronil. Desenvolvido para matar insetos, formigas e cupins, o produto é associado a alterações bioquímicas no sangue e é tóxico ao fígado e ao sistema nervoso central. Mesmo assim, é princípio ativo de 21 produtos liberados para o agronegócio no ano passado. Em 2019 foram nove e em 2020, 15.
Possível letalidade
Um relatório publicado no dia 28 de abril deste ano pela rede de organizações ambientais ‘Friends of the Earth Europe’ apontou que, a cada dois dias, uma pessoa morre de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, e cerca de 20% dessas vítimas são crianças ou adolescentes de até 19 anos.
Ainda de acordo com o relatório, a permissividade do governo brasileiro está relacionada aos lobbies de empresas agroquímicas europeias, que buscam expandir mercado e veem no Brasil um potencial agrícola grande. Ao mesmo tempo, o setor do agronegócio nacional, segundo o estudo, compactua com o lobby e recebe incentivos fiscais para usar os agrotóxicos.
O objetivo final seria a ratificação de um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul que aumentaria as exportações de safras para a Europa, ao custo de pesadas importações de agroquímicos perigosos para o Brasil.
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