Nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU Antonio Guterres alertou que o mundo avança "de olhos fechados em direção à catástrofe climática". Ele disse que, mesmo com a "gravidade" da situação, as grandes economias continuam a aumentar suas emissões de gases do efeito estufa. A declaração foi feita durante uma conferência sobre o desenvolvimento sustentável organizada pelo jornal The Economist, em Londres.
Guterres também declarou que o objetivo de limitar o aumento das temperaturas da Terra a 1,5°C em relação à era pré-industrial, o mais ambicioso do Acordo de Paris, está em "tratamento intensivo".
Segundo os levantamentos feitos pela ONU, seria preciso reduzir 45% das emissões até 2030 para conter o aumento a 1,5°C. Porém, as emissões continuam em alta e o planeta ganhou em média 1,1°C desde a era pré-industrial, culminando em temperaturas extremas, secas, tempestades e inundações catastróficas.
"O problema se agrava", declarou Guterres em um mensagem de vídeo gravada. Ele mencionou que em 2020, os desastres climáticos "tiraram de suas casas 30 milhões de pessoas - quase três vezes mais que o número de migrantes gerados por conflitos".
"Se continuarmos assim, podemos dizer adeus ao objetivo de 1,5°C. O (objetivo) de 2°C também poderia ficar fora de alcance", afirmou.
Aquecimento catastrófico
Segundo pesquisas feitas pelo Grupo de especialistas sobre a evolução do clima da ONU (IPCC), ainda as nações cumpram os compromissos feitos em Paris, as emissões podem aumentar 14% antes do fim da década, levando a um aquecimento "catastrófico" de 2,7°C.
Criticando o "otimismo inocente" que surgiu após a COP26, em Glasgow, em outubro, o secretário-geral chamou de "loucura" a dependência dos países de energias fósseis."Esse vício dos combustíveis fósseis nos conduz em direção à destruição coletiva", afirmou.
A delcaração de Guterres foi feita momentos antes de uma reunião, que deve durar 14 dias, com a finalidade de validar o relatório histórico do IPCC sobre os cenários que ajudariam a reduzir e limitar o aquecimento do planeta. O documento divide as possibilidades por grandes setores, que poderiam aumentar a captura e a absorção do carbono.
Consequências da invasão da Ucrânia
De acordo com Guterres, a situação entre Ucrânia e Rússia poderia atrapalhar ainda mais a ação a favor do clima. Isso porque, se os países decidirem correr atrás de novos fornecedores de gás e petróleo para substituir as importações russas, eles estarão contribuindo para a dependência de combustíveis fósseis.
Um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) feito em 2021 chegou à conclusão que limitar o aumento das temperaturas a 1,5°C é um objetivo incompatível com novas explorações de petróleo, gás e carvão.
Quebrando o protocolo de não acusar um país em particular, Guterres reprovou a Austrália e outros "recalcitrantes" por não terem apresentado planos "significativos" a curto prazo para diminuir as emissões.
Também dependentes do carvão, a China e a Índia não aderiram plenamente ao de 1,5°C e não fixaram objetivos mais ambiciosos de diminuição de emissões a curto prazo.
"A boa notícia é que todos os governos do G20, incluindo a China, o Japão e a Coreia, aceitaram não financiar mais o carvão estrangeiro", relativizou Guterres. "Agora eles devem fazer o mesmo no plano interno, com urgência", completou.
O secretário-geral da ONU ainda atribuiu aos países ricos a responsabilidade pelo financiamento, tecnologia e outros instrumentos essenciais para ajudar as economias emergentes a eliminar o carvão de suas matrizes energéticas.
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* Com informações de agências internacionais