Relatório da ONU mostra que o Brasil pode ter o triplo de inundações
Este ano, chuvas arrasaram regiões de RJ, SP, MG e BA. No RS, temperatura bateu recorde histórico com 42,9 graus em Uruguaiana, o que reforça desequilíbrio
A ONU apresentou aos governos mundiais, nesta segunda-feira (28), uma parcial do mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês). O documento alerta que os riscos climáticos estão aparecendo de forma mais veloz e, portanto, tendem a se tornar mais graves num prazo ainda menor. Neste domingo (27), o Rio Grande do Sul registrou a maior temperatura de sua história: 42,9 graus na cidade de Uruguaiana. Há duas semanas, um temporal em Petrópolis matou pelo menos 229 pessoas, uma tragédia de proporções sem precedentes e que ainda é contabilizada. Antes, as chuvas já haviam provocado estragos e mortes também em Minas Gerais, Bahia e São Paulo. Os impactos desta crise climática, analisam especialistas, tendem a atingir de forma crescente as populações mais vulneráveis.
"O relatório mostra que os impactos da crise do clima são irreversíveis. A população em situação de vulnerabilidade, que já sofre com o descaso de nossos governantes, será a mais impactada. É urgente que haja uma mudança rápida nas políticas públicas de adaptação no Brasil e no mundo, com orçamento adequado para perdas e danos das populações atingidas", comenta Fabiana Alves, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.
'Savanização' da Amazônia
O relatório destaca que, no Brasil, as chuvas fortes — que resultam em inundações e deslizamentos de terra, como acompanhadas por vários estados do país este ano — devem se intensificar consideravelmente tanto em magnitude quanto na frequência com que elas acontecem nos próximos anos. No cenário considerado o mais otimista pela ONU, de aumento de 1,5 graus até o fim do século, os pesquisadores estimam que o número de brasileiros imapctados por inundações causadas pela chuva deve dobrar ou mesmo triplicar.
Outro ponto de destaque no documento é a possibilidade de que a Amazônia sofra uma transição gradual de savanização, deixando de ser floresta tropical. Segundo os estudiosos, o risco cresce enquanto a região apresenta números que indicam um aumento médio de 2 graus até o fim do século.
No Brasil e na América Latina, os principais pontos de alerta destacados incluem:
- Segurança hídrica;
- degradação dos ecossistemas dos recifes de corais;
- riscos para a segurança alimentar devido a secas frequentes ou extremas;
- danos à vida e à infraestrutura devido a inundações, deslizamentos de terra, elevação do nível do mar, tempestades e erosão costeira
No contexto mundial, os estudiosos da ONU afirmam que os efeitos do aquecimento nos ecossistemas acontecerão mais rápido, são mais difundidos e com consequências de maior alcance do que o previsto, e pontuam que não estamos preparados sequer para os impactos atuais, e isso já está custando vidas. Conclui-se que, para evitar o agravamento dos eventos extremos e garantir a segurança das populações, planos de adaptação climática são primordiais
Os cientistas reforçaram ainda a necessidade de limitar o aquecimento a 1,5 graus, o que reduziria "substanciamente" as perdas e danos projetados. Pedas essas que já são graves e se tornaram irreversíveis. Além disso, afirmam que é necessário restaurar e proteger pelo menos 30% da Terra.