No próximo domingo, dia 1º de dezembro , será realizada a prova discursiva do vestibular da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). E uma das características mais interessantes desse vestibular é que o tema da redação já é divulgado antes da prova. Neste ano, os candidatos terão que escrever um texto baseado no livro “ O Conto da Aia ”, de Margaret Atwood.
A UERJ sempre exige uma redação dissertativa bem estruturada, com introdução, dois argumentos e uma conclusão. Para garantir uma boa nota, uma estratégia eficaz é revisar os temas de provas anteriores e praticar dentro do formato exigido pela universidade. Para ajudar você a se preparar, reunimos os temas dos últimos 10 vestibulares, todos comentados por dois especialistas: Leonardo Baroni , analista pedagógico da Redação Nota 1000, e Diogo D’ippolito , autor de língua portuguesa do Sistema de Ensino pH.
Confira!
2024: “Qual seria, para você, a moral da história narrada em ‘O menino do pijama listrado’?”
A proposta de redação foi baseada na leitura da obra “ O menino do pijama listrado ”, de John Boyne. O livro conta sobre a amizade entre Bruno, filho de um oficial nazista, e Shmuel, uma criança judia prisioneira, durante a Segunda Guerra Mundial.
“O contraste entre a pureza do olhar infantil e o horror do Holocausto evidencia que a intolerância e o ódio são construções sociais aprendidas, em oposição à empatia e ao afeto, que são inatos. Assim, a narrativa convida a refletir sobre o impacto devastador do preconceito e a necessidade de cultivarmos valores que promovam a compreensão e a paz desde a infância”, diz o professor Leonardo. “O estudante poderia construir o texto dissertativo-argumentativo trazendo esses momentos do romance e relacioná-los a comportamentos modernos para justificar a sua visão de moral da história”, complementa.
+ Como fazer uma boa redação da UERJ
2023: “A capacidade de se opor a um destino socialmente estabelecido fortalece nossa humanidade?”
Nesse ano, o tema da redação foi baseado no livro “ Não me abandone jamais ”, de Kazuo Ishiguro, em que é abordada a razão pela qual os clones foram criados. “Apesar de serem semelhantes aos humanos, dois aspectos os distinguem de nós: eles não se reproduzem e não se revoltam contra seu destino”, cita a prova.
Para o professor Leonardo, o estudante poderia falar sobre o exercício da liberdade e da consciência crítica. “Ao desafiar papéis ou expectativas impostas, como os de classe social, gênero ou etnia, reafirmamos a possibilidade de transformação individual e coletiva. Essa oposição exige coragem e criatividade, qualidades que fortalecem não apenas nossa individualidade, mas também a sociedade como um todo, ao romper com padrões limitantes e abrir caminhos para mais equidade e justiça. Dessa forma, a resistência a um destino predeterminado é um ato que alimenta o progresso humano, reafirmando nossa capacidade de escolher e moldar o futuro”, reflete o docente sobre o tema.
2022: “O princípio ‘certeza não é verdade’ deve orientar as pessoas na condução de suas vidas públicas e privadas?”
Nesse caso, a banca propôs um grande questionamento: “certeza não é verdade”. E para isso, trouxe como referência o livro “ Uma janela em Copacabana “, do autor carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza. O romance policial aborda assassinatos na famosa praia e foi o ponto de partida para debater a ideia de que certeza e verdade podem andar separadas. O trecho usado na prova mostra personagens refletindo sobre conceitos como verdade, fatos, conclusões e até uma expressão curiosa: “certeza íntima”.
A pegada aqui foi instigar o estudante a pensar sobre como nossas certezas nem sempre correspondem à realidade. “O estudante poderia refletir sobre a importância de questionar certezas. Na esfera pública, essa atitude fortalece a democracia, promovendo debates mais conscientes e inclusivos. Na vida privada, fomenta o autoconhecimento e o respeito às diferenças”, sugere Leonardo.
2021: “A mentira programada é uma arma política válida para conquistar o poder e sustentá-lo?”
Aqui um tema super atual e polêmico: o uso de fake news como arma política, inspirado pela ideia de “mentiras programadas” do clássico “ 1984 “, de George Orwell. Escrito lá na década de 1940, o livro mostra como o controle da informação pelo Estado se torna uma ferramenta de manipulação poderosa.
“Essa discussão ressoa fortemente no cenário atual, em que a disseminação de notícias falsas, potencializada pelas redes sociais, polariza opiniões, deslegitima instituições e compromete a democracia, principalmente quando consideramos a manipulação de opiniões”, afirma o professor Leonardo. Para o docente, esse tema fez com que os candidatos precisassem questionar não apenas a ética por trás do uso da mentira programada, mas também os perigos de sua normalização como estratégia política, que pode gerar um ciclo de desinformação e alienação.
2020: “O que leva pessoas, em condições semelhantes às de Fabiano, a se considerarem inferiores às demais?”
A pergunta se refere ao personagem do livro “ Vidas Secas ”, de Graciliano Ramos. Segundo o professor Leonardo, Fabiano, um homem simples, marcado pela miséria e pela falta de acesso à educação e aos direitos básicos, representa a interiorização da opressão: ele se enxerga como “inferior” porque foi condicionado por uma estrutura social que desumaniza os pobres. A ausência de perspectiva e de voz, simbolizada pela dificuldade de comunicação do protagonista, reforça a sua submissão, tornando-o refém de um ciclo de exclusão.
“O tema provoca uma reflexão sobre como a pobreza extrema não apenas limita as condições materiais de vida, mas também afeta a autoestima e a percepção de valor do indivíduo, perpetuando as desigualdades e a falta de mobilidade social”, explica o docente.
2019: “É justificável cometer um crime para vingar outro crime?”
“ O seminarista ”, de Rubem Fonseca, foi a obra escolhida para compor o tema de redação desse ano. O personagem principal é um matador de aluguel, que conta como ele se vinga de outro matador, responsável pelo assassinato de sua namorada.
O livro levanta um tema pesado: como a justiça com as próprias mãos pode virar uma bola de neve de violência. A vingança, em vez de resolver o problema, muitas vezes só espalha mais caos e destruição, tanto no mundo ao redor quanto dentro da cabeça de quem busca vingança. “A discussão proposta pelo tema transcende a narrativa literária, convidando o estudante a questionar se é possível restaurar a justiça por meio de novos crimes, ou se essa prática apenas contribui para a desumanização e a ruptura das bases éticas que sustentam a convivência civilizada”, avalia Leonardo.
2018: “A verdade pode ser estabelecida com base em uma única perspectiva?”
Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Essa dúvida clássica da literatura brasileira pegou carona nesse tema de redação. “ Dom Casmurro ”, de Machado de Assis , traz um narrador-personagem que apresenta aos leitores apenas a sua versão da história, cabendo ao leitor acreditar ou não.
Para o professor Diogo, o candidato deveria refletir sobre a complexidade do conceito de verdade, discutindo a possibilidade de alcançá-la de forma plena a partir de uma única perspectiva. “A redação poderia abordar questões como a subjetividade humana, o papel da pluralidade de visões e a construção coletiva do conhecimento. A argumentação poderia explorar fatos históricos, científicos ou sociais que demonstram os limites de uma visão unificada, contrapondo-se à importância de múltiplas interpretações para se aproximar de uma compreensão mais ampla e equilibrada da verdade”, sugere.
2017: “Cidade maravilhosa: para quem?”
O tema de redação usou um quadro do pintor inglês Augustus Earle, de 1822, em que é retratado Rio de Janeiro da época. Também trouxe um trecho do livro “ Cidade Partida ”, de Zuenir Ventura, para discutir a segregação existente na cidade, a partir do deslocamento de parte da população para morros e periferias. A ideia era relacionar as duas obras com o título de “cidade maravilhosa” – de 1900 – com a realidade atual.
“A banca esperava que o candidato analisasse a caracterização de ‘cidade maravilhosa’ de forma crítica, refletindo sobre as desigualdades sociais, econômicas e espaciais presentes na cidade. A discussão deveria considerar como esse título contrasta com a realidade de exclusão e marginalização enfrentada por parte da população”, diz Diogo. Segundo ele, o texto poderia abordar temas como acesso a serviços públicos, oportunidades culturais, segurança e moradia, propondo reflexões sobre os desafios de tornar a cidade mais inclusiva e justa para todos os seus habitantes.
2016: “Necessidade de conhecer experiências históricas de violência e opressão, para a construção de uma sociedade mais democrática”
Aqui a banca propôs uma reflexão, usando uma ilustração sobre a Comissão Nacional da Verdade e um trecho da obra “ Magia e técnica, arte e política ”, do filósofo alemão Walter Benjamin. A ideia era discutir como experiências desumanizadoras do passado podem nos ensinar a construir um futuro menos opressor.
“A expectativa era que o candidato refletisse sobre a importância de conhecer e analisar episódios históricos de violência e opressão como forma de evitar a repetição de erros do passado e de promover uma sociedade mais democrática”, explica Diogo. “A argumentação poderia refletir sobre como a memória histórica contribui para a conscientização social, fortalecendo valores como justiça, igualdade e respeito aos direitos humanos. Exemplos de regimes autoritários, lutas por liberdade e movimentos sociais poderiam ser interessantes para destacar como essas experiências fornecem lições fundamentais para a construção de um futuro mais inclusivo e igualitário” complementa.
2015: “É preciso levar em conta a leitura de literatura para avaliar a formação e os valores de uma pessoa”
O tema de redação se baseou no argumento do psicanalista e escritor italiano Contardo Calligaris, extraído do texto “ Qual romance você está lendo? ”. A proposta pedia aos estudantes que adotassem uma posição sobre a visão defendida pelo autor, que questiona o impacto dos romances em nossas vidas e como eles podem influenciar a maneira como percebemos o mundo.
“Esperava-se que o candidato discutisse o papel da literatura na formação do indivíduo, analisando como o hábito de ler contribui para o desenvolvimento crítico, cultural e ético de uma pessoa. O texto deveria abordar a relação entre a leitura literária e a construção de valores, explorando como a literatura amplia horizontes, promove empatia e influencia reflexões sobre a condição humana”, fala Diogo. Para o educador, o candidato poderia também enriquecer sua argumentação com exemplos de obras literárias que possuem impacto significativo na formação de valores, destacando a importância de considerar a leitura como um indicador do desenvolvimento pessoal e social.
Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.