Em 1971, a vida de Marcelo Rubens Paiva mudou para sempre. Aos 11 anos, ele ouviu a mãe explicar aos cinco filhos que teriam que se mudar do Rio de Janeiro para São Paulo. Eunice Paiva , que sempre havia sido uma mulher elegante, figura conhecida entre a elite paulistana e carioca, repentinamente assumia uma outra figura. Mesmo sem ter um corpo para enterrar, já sabia que havia se tornado a viúva de Rubens Paiva , deputado cassado, torturado e morto pela Ditadura Militar . Em 2015, Marcelo reuniu as memórias de Eunice e as próprias para recontar no livro “ Ainda estou aqui ” a luta que sua família travou dali em diante.
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O relato autobiográfico, de pouco mais de 200 páginas, situa o leitor exatamente no escuro e angústia que atravessou a família de Rubens Paiva. O engenheiro, que já havia sido cassado e atravessado um período de exílio, foi cercado pelos militares em sua própria casa, em janeiro de 1971, no Leblon. A partir deste momento, as versões sobre o que teria acontecido foram muitas – a maioria delas, mentirosas.
Os órgãos oficiais ora alegavam que Rubens Paiva havia sido sequestrado por desconhecidos e tirado da custódia dos militares, ora afirmavam que havia fugido para Cuba e mantinha uma segunda família. Eunice Paiva não titubeava: sabia que o marido era uma vítima da Ditadura, e exigia que seu desaparecimento fosse investigado.
Com o passar dos anos, relata o livro, a luta da viúva se tornou a busca pelo corpo e pelo esclarecimento do que havia acontecido. O atestado de óbito só veio em 1996, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei dos Desaparecidos. O corpo do ex-deputado, no entanto, nunca foi encontrado.
Anos depois, já no contexto da Comissão Nacional da Verdade , algumas informações sobre a morte de Rubens Paiva vieram à tona. Foi torturado e morto no Destacamento de Operações de Informações (DOI) do I Exército, na Tijuca, Rio de Janeiro. Teve o corpo enterrado e desenterrado algumas vezes, já que os militares temiam que os restos mortais fossem encontrados. Acabou arremessado no mar dois anos após seu assassinato.
O livro de Marcelo Rubens Paiva, jornalista autor do best seller “ Feliz Ano Velho “, acaba de ser adaptado para os cinemas por Walter Salles (Central do Brasil). Exibido pela primeira vez no Festival de Veneza, neste domingo (1), o filme foi ovacionado e aplaudido por quase 10 minutos. Eunice Paiva, cujas memórias foram a matéria-prima da história, faleceu em 2018, depois de conviver por 14 anos com o Alzheimer.
Ainda estou aqui
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