O ano letivo de 2022 está prestes a começar para as crianças de São Paulo. A partir de amanhã (2), alunos das rede estadual e municipal de ensino voltarão às salas de aulas em todo o estado em meio a onda de incerteza causado pela variante ômicron da covid-19.
O momento deixa pais e mães divididos: ao mesmo tempo que comemoram a volta das crianças a um ambiente de socialização preparado para o aprendizado e comemoram a chegada da vacina, temem o contágio pela doença.
Para Carolina Borges, ativista do Ocupa Mãe e mãe de Clarisse (9) e Ana, esse é um momento de grandes expectativas. "Elas perdem muito ficando tanto tempo com aulas à distância, precisam socializar. Funcionou bem por uma época, mas agora... Não é que eu sou contra o ensino remoto - acho muito bom - mas entendo que é mais saudável estar em um ambiente com outras pessoas que incentivam o conteúdo, que vão apoiar os estudos, estar focados na aprendizagem delas, do que ficarem em casa com uma mãe sobrecarregada", avalia.
A opinião é compartilhada por Nativa Areas, comerciante e mãe de Lua (6), que vai para o primeiro ano do ensino fundamental. Durante os meses mais severos da pandemia, ela e o marido - que é professor - tiveram que lidar com o trabalho remoto enquanto as aulas ainda estavam suspensas. Ela conta sobre o desafio.
"Eu entendo, claro, as aulas terem sido suspensas em 2020, no ápice da pandemia, só que arrastaram isso muito tempo. Muitos serviços foram voltando, e as escolas não. E não se falava sobre. Acho que isso mostra a posição da educação na lista de prioridades da sociedade e do governo. As crianças foram simplesmente deixadas. Fiquem em casa, vocês que lutem. Falo no meu lugar de mãe do ensino infantil. No caso dela, não tinha online, não tinha assistir aula em casa, mas o trabalho já tinha retornado. E como fazer?", questiona.
"Você tem uma criança em casa, e depende da escola para poder trabalhar. De repente você tem que trabalhar e não tem a escola. Eu achei que ninguém estava nem aí, as famílias que deem um jeito, e a corda estourou para o lado que sempre estoura: as mulheres tiveram que sair dos seus empregos para cuidar das crianças em casa", desabafa.
Nativa considera que a educação foi um dos serviços mais negligenciados durante a pandemia. "Os professores por muito tempo falaram que não era seguro, entendo a preocupação, e falo isso como uma pessoa formada em licenciatura. Acho que o governo deveria ter feito tudo para garantir a segurança e incentivar o retorno", opina.
Carolina conta que um dos momentos mais felizes da filha mais velha foi quando passou pela escola para entregar atividades e foi convidada a assistir uma aula presencial pela diretora. "Ela me disse que foi uma das melhores coisas que ela fez nos últimos tempos", conta.
Mãe de três, a publicitária Daniela Maio levou seus filhos de 13, 11 e 4 anos para escola enquanto pode em 2021, e em 2022, com dois deles vacinados, não será diferente. Levei porque entendi que a pandemia chegou em um estágio onde não dá para parar de viver, e isso serve para que eles aprendam a lidar com isso", conta.
Aguardando pelas máscaras PFF2 que comprou pela internet, ela espera que o conteúdo perdido nesses dois anos possa, mesmo que em partes, ser recuperado.
"Eles perderam muito conteúdo porque as escolas se tornaram um ponto de contato com a população, se mobilizando para dar conta de repassar para as famílias merendas e cestas básicas. Teve período de aula, mas foram muito falhos. Primeiro, os professores ainda não estavam vacinados, depois teve greve, uma série de coisas que causaram 'buracos'. Eles fazem o possível para atender a todos. Eu acreditava, antes da Ômicron, que a escola traria projetos de recuperação. Agora, ainda acho que vão ficar resolvendo questões para que as famílias tenham o mínimo e estejam minimamente protegidas."
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Nativa diz confiar nos protocolos adotados pelas escolas. "Senti a escola preocupada, consciente, rigorosa com os protocolos, cobrando muito das famílias e das crianças. Minha filha, por exemplo, nunca teve problemas, nunca reclamou, crianças são muito adaptáveis. Elas estavam felizes estando na escola, iam seguir o que fosse. A maioria dos casos de contaminação não ocorreram na escola, mas nas próprias famílias", conta.
Na casa de Daniela, João Pedro, Marcos Vinícius e José Bento também não tiveram problemas com adaptação aos protocolos na sala de aula. "Não temos mais resistência com máscara, com álcool em gel, deu uma certa relaxada com relação a por a mão no rosto, na máscara, é uma coisa que voltamos a falar. Ouvi dizer que as escolas não conseguirão fazer o distanciamento. Mas as duas têm áreas abertas, sei que a parte dos lanches é feita na área externa. São bem ventiladas, então fico mais tranquila".
O que deixa a mãe preocupada, no entanto, são as conversas e comentários sobre as informações oficiais. "As informações vão chegando pelas redes sociais, conhecidos, e isso vai mexendo com a gente", conta ela.
Na rede municipal, serão mais de 1 milhão de estudantes de volta no dia 7 (segunda-feira). Por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), a Prefeitura de São Paulo informou que "todos os protocolos sanitários serão mantidos, como a aferição de temperatura, uso de máscara e higienização das mãos e ambientes, além da utilização de álcool em gel".
As Mães Guardiãs, contratadas no ano passado para auxiliar na fiscalização das exigências, terão seu vínculo renovado até o mês de dezembro. A pasta afirma também ter comprado máscaras tipo PFF2 - as mais indicadas contra a variante Ômicron - e cirúrgicas, que serão destinadas aos servidores. A vacinação contra covid-19 não será obrigatória.
A rede estadual adotou regra diferente. No sábado, a Secretaria Estadual de Educação do Estado (Seduc) determinou que todos os estudantes apresentem o comprovante de vacinação completo, com as vacinas já tradicionais e covid-19, no ato de matrícula e rematrícula.
A medida vale para todas as escolas situadas no estado de São Paulo - públicas ou privadas - sob a observação do Ministério Público. As instituições são obrigadas por lei a informarem ao Conselho Tutelar caso alguma família não apresente o documento.
Vacinação
Segundo o governo do Estado, às vésperas do retorno, mais de 1 milhão de crianças já foram vacinadas com a primeira dose da vacina contra covid-19. O número corresponde a 25,01% do público infantil de 5 a 11 anos.
Vale lembrar que o uso de máscaras não é recomendado para crianças menores de dois anos, segundo orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). De dois a cinco anos de idade, a orientação é que o equipamento de segurança seja utilizado sob supervisão constante, bem como as de seis a dez anos, quando além da supervisão, a criança já consegue auxiliar e colaborar com o procedimento de uso.