Escola vazia
Governo do Estado de São Paulo/Divulgação
Escola vazia

Mesmo que adote as medidas necessárias, os alunos brasileiros do fim do ensino médio só vão conseguir recuperar em 2021 de 35% a 40% da perda de aprendizagem prevista até o fim do ano. A estimativa é de um estudo do Instituto Unibanco e do Insper divulgado nesta terça-feira.

— Mesmo com a mitigação, as perdas serão imensas — afirma Ricardo Paes de Barros, economista e professor do Insper, que liderou a pesquisa.

A pesquisa, chamada “Perda de aprendizagem na pandemia”, aponta que os estudantes que chegaram, em 2021, ao terceiro ano do ensino médio já perderam nove pontos de aprendizagem na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em Língua Portuguesa e dez em Matemática.

Continuando o cenário de mesmas condições de 2020, essa perda de aprendizagem passará de 9 e 10 para 16 e 20 pontos, respectivamente. Num ano típico, os estudantes brasileiros no ensino médio estavam aprendendo, em média, 8,8 pontos em Língua Portuguesa e 7,1 em Matemática.

Em Língua Portuguesa, segundo o estudo, o Brasil atingiria o patamar de 275 pontos na escala Saeb ao fim de 2021 se não houvesse a pandemia. Com o ensino remoto e o atual nível de engajamento dos alunos, a nota poderá cair para 259 até dezembro deste ano.

Nesse patamar, cada estudante terá uma perda de renda ao longo da vida de R$ 20 mil a R$ 40 mil. Juntos, os alunos formados no ensino médio de 2021 terão R$ 1,5 trilhão a menos.

Na avaliação dos pesquisadores, o Brasil precisa adotar três medidas principais para evitar o pior cenário: é preciso pelo menos dobrar o engajamento dos alunos, controlar a pandemia para adotar ensino híbrido ao longo de todo o segundo semestre e criar programas de reforço escolar.

— É preciso otimizar o currículo. Ou seja, descobrir exatamente o que é fundamental que o aluno aprenda, o núcleo duro do currículo, daquela série para isso ser recuperado — diz Paes de Barros.

Mesmo assim, o resultado só será de 35% a 40% melhor, no máximo, segundo a pesquisa. Em Língua Portuguesa, por exemplo, em vez de 259 pontos na escala Saeb, o país atingiria 264. Esse resultado está 11 pontos abaixo do que teria alcançado sem pandemia. Já em Matemática, em vez de 20 pontos, seriam 12 a menos.

— As simulações realizadas são a melhor evidência que possuímos neste momento e apontam possíveis caminhos de mitigação, importante para guiar políticas públicas — afirma o economista Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco.

Para chegar ao resultado, a pesquisa levou em consideração três fatores: a menor efetividade do ensino remoto em relação ao presencial; o impacto do absenteísmo na aprendizagem; e os possíveis impactos de medidas de reforço.

Segundo o levantamento, o ensino remoto com total engajamento dos alunos já acarretaria uma perda de três pontos na escala Saeb em Língua Portuguesa. Essa queda, afirmam os autores, era inevitável. No entanto, se as aulas à distância não tivessem sido implementadas, essa perda seria de 12 pontos em 2020.

No fim do ano, ela ficou em nove pontos, na estimativa dos pesquisadores. Isso porque em 2020, o número de alunos que cursou, efetivamente, uma jornada ideal de 25 horas semanais de estudos foi de apenas 36%, segundo a Pnad Covid, do IBGE.

 Há entraves para o engajamento. Faltou conectividade, acesso a equipamentos e os jovens perderam a vontade de participar das aulas, houve pouca atração. Isso que precisa ser corrigido — diz Paes de Barros.

Segundo o economista, faltou coordenação nacional para que estados que tiveram pior engajamento dos alunos pudessem adotar as medidas que deram certo em locais que obtiveram melhor engajamento.

— Essa era uma tarefa do MEC, com certeza. Mas a sociedade não pode ficar esperando que isso aconteça. O Brasil tem um sistema de educação muito pouco preocupado em aprender uns com os outos. No Chile, por exemplo, todo fim de ano se publica um livro de boas práticas de escolas para escolas. Temos grandes educadores no nosso país, não à toa todo ano temos sempre um professor entre os dez melhores do mundo, mas precisamos compartilhar melhor essas práticas — afirma.

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