Enem terá novo calendário, decide Justiça

Liminar obtida pela Defensoria Pública da União também amplia prazo de pedido de isenção da matrícula do Enem em 15 dias por causa do Covid-19

Provas deverão ser adiadas
Foto: Toffetti / A7 Press / Agência O Globo
Provas deverão ser adiadas

A 12ª Vara Cível Federal de São Paulo decidiu liminarmente que o calendário do Enem seja adequado à realidade do atual ano letivo, que teve aulas suspensas por conta da Covid-19 . Isso significa que o Enem não poderá ser realizado na data marcada caso a quarentena se prolongue.

"Manter os atuais prazos e datas do calendário elaborado pelo Inep fere os princípios darazoabilidade e da proporcionalidade, regentes de todos os atos da Administração Pública. Levando emconsideração que o calendário foi publicado durante o fechamento das escolas, quando grande parte dosalunos que se submeterão ao ENEM não têm acesso à informação e não estão tendo acesso ao conteúdoprogramático necessário para a realização da prova, não se mostra razoável que os réus mantenham ocalendário original elaborado", afirma o texto da decisão.

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Na prática, o MEC terá que ouvir outros órgãos, como secretarias estaduais e universidades federais, para compatibilizar os calendários. O texto também adia em 15 dias o final do prazo de pedido de isenção, que terminaria nesta sexta-feira.

Horas antes da decisão ser publicada, o ministro da Educação, Abraham Weintraub , reafirmou que as datas do Enem não seriam alteradas por conta do coronavírus. Ele argumentou que o exame é uma competição e, por isso, ficou mais difícil para todo mundo.

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"Isso que tem que paralisar tudo é bobagem. O Brasil não pode parar, não vai parar", afirmou. "Todo ano querem acabar com o Enem. Só que a argumentação deles é totalmente equivocada. Eles dizem: as pessoas não estão podendo se preparar. Mas está difícil para todo mundo. É uma competição. A gente vai selecionar as pessoas mais preparadas para serem os médicos daqui dez anos, os enfermeiros, os engenheiros, os contadores".

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A Defensoria Pública da União (DPU) entrou com uma ação na Justiça, na última quinta-feira, pedindo para que o calendário do Enem seja readequado com novas datas conforme a evolução da pandemia da Covid-19 no Brasil.

"De acordo com os dados colhidos pelo TIC Educação 2018 e pelo TIC Domicílios 2018, sabe-se que as condições de ensino à distância para os estudantes brasileiros são desiguais. Afinal, 30% da população não possui acesso à internet, assim como 43% das escolas rurais. Além disso, cabe ressaltar que nem todos os alunos possuem livros didáticos e materiais de estudo em casa e devido a orientações médicas e sanitárias, bibliotecas foram fechadas, dificultando ainda mais o acesso a materiais didáticos e a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)", diz a ação.

Na avaliação do ministro, “aula à distância é aula normal, é aula dada”. Ele ainda afirmou que a decisão da quarentena foi “precipitada, de responsabilidade de governadores e prefeitos”.

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"E o que eu quero é que, daqui dez anos, quando vier uma outra epidemia mundial lá da Ásia, a gente tenha os melhores médicos. Interromper o Enem e deixar só para 2021 seria matar uma geração", afirmou o ministro, na live. Aí você fala. "Não é justo? E quem não tem internet?" No passado, há três anos, dois anos, quem não tinha internet também tinha essa dificuldade de fazer o Enem. Não mudou nada. Mesmo porque a inscrição do Enem é feita através da internet.

Colégios privados – que concentram 17% dos alunos no ensino fundamental brasileiro e 12% do médio – estão encontrando alternativas para repor as aulas. As estratégias são tão diversas quanto os desafios. Há desde classes ao vivo até plataformas que permitem a interação entre os estudantes.

Na rede pública, os meios adotados variam entre os estados, mas há o predomínio do uso de ferramentas on-line. São Paulo, por exemplo, estreará hoje seu sistema. A rede usará um aplicativo de aulas à distância e também transmitirá conteúdos pela TV Cultura. Já o Rio, assim como outros estados, usará ferramentas do Google Classroom. Na plataforma, o aluno entra em sua turma virtual para ter acesso às lições. Já no Maranhão, além da TV, também haverá sessões diárias de ensino pelo rádio.

O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) também pediu novas datas. "Não há dúvidas de que os estudantes do terceiro ano do Ensino Médio são os que sofrem o maior impacto. Por isso, a importância do diálogo e do olhar para os mais afetados neste difícil momento de pandemia da Covid-19", diz a nota.