Escolas que não focam no Enem mostram que educação alternativa é possível

Indo contra a maioria, escolas tiram Enem e vestibulares do foco principal e desenvolvem competências sociais que, além de tudo, ajudam nos exames

No IFPR Jacarezinho os alunos são livres para escolher a própria grade horária
Foto: Reprodução/Facebook IFPR Jacarezinho
No IFPR Jacarezinho os alunos são livres para escolher a própria grade horária

Com a proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem ) e dos vestibulares, escolas de todo o Brasil estão completamente focadas no desempenho de seus alunos nos exames. O esforço para essas provas geralmente começa no primeiro ano do ensino médio – ou até antes –, no entanto, há instituições subvertendo a lógica em busca de melhores resultados a longo prazo.

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A Escola Viva, em São Paulo, por exemplo, adota um currículo pensado em todo o percurso formativo do aluno, ao invés do foco no Enem e nos vestibulares. A diretora Silvia Kawassaki explica que é preciso formar o aluno para que ele saiba lidar com escolhas, uma vez que hoje em dia “o percurso escola, faculdade e emprego não necessariamente acontece nesta sequência e não necessariamente vai acontecer com todo mundo”. E vai além: “Fazer faculdade não te garante um emprego”. 

As escolhas também são um componente chave do currículo da unidade de Jacarezinho do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Lá, a metodologia foi completamente reformulada em 2015, quando foram abolidas as disciplinas, a hierarquização e as séries. Agora, os estudantes têm unidades curriculares, que são aulas interdisciplinares nas quais há espaço para que os docentes exerçam sua criatividade. Os alunos devem cumprir uma carga horária mínima de cada área do conhecimento (Linguagens, Ciências da Natureza e Matemática e Ciências Humanas, além do curso profissionalizante) e podem montar o cronograma de aulas da maneira de preferirem.

O professor de inglês e português David Silva explica que a transformação radical se deu porque em 2014 perceberam que já no começo do ano os estudantes estavam sofrendo um alto nível de stress devido a uma carga horária muito pesada aliada às pressões do Enem e dos vestibulares. Segundo David, alguns estudantes tiveram reações patológicas e até foram parar no hospital. 

Diante deste cenário, a direção e os docentes começaram a refletir sobre onde queriam chegar com aquele tipo de ensino. Eles então repensaram o currículo escolar para que ele possibilitasse que o estudante se desenvolvesse tanto academicamente quanto socialmente. “Essa mudança de lógica da relação do estudante com o espaço escolar transcende a finalidade do instituto e passa a respeitar as outras dimensões do estudante enquanto sujeito que tem desejos e planos”, explica o professor. 

Para Flávio Bassi, coordenador do programa Escolas Transformadoras da organização internacional Ashoka, realizado no Brasil em parceria com o Instituto Alana, “a gente tem uma dificuldade cada vez maior desses jovens reconheceram e criarem uma identidade própria que não passe pela obrigatoriedade de passar em exame, seja o enem, sejam os vestibulares”. “Do jeito que está não funciona mais, então a gente precisa tentar um outro modelo”, diz.

Flávio também defende que as habilidades desenvolvidas quando se tira o foco das provas  são também necessárias para que se estude bem. “É muito difícil para um jovem focar nesse período de vida, se ele não desenvolver essas habilidades mais pessoais, de saber se auto regular, de ter disciplina etc. E isso não dá para colocar num livro, é um produto da vida social, da vida escolar, da vida em família”, explica. 

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Como lidar com Enem e vestibular em um ambiente sem este foco?

Foto: Reprodução/Facebook Escola Viva
A Escola Viva considera que é importante oferecer uma grande variedade de atividades

Os exames, porém, não são ignorados. Tanto Silvia quanto David explicam que há também opções voltadas para os muitos estudantes que buscam seguir o caminho da universidade. Na Escola Viva são realizados simulados com o objetivo principal é treinar aspectos das provas como o gerenciamento do tempo, por exemplo.

No IFPR Jacarezinho desde 2017 são oferecidas algumas unidades curriculares voltadas para a preparação para os exames. “A gente compreende absolutamente que, embora a gente tenha um discurso que contesta o vestibular como ensino de coerção, a gente não pode ignorar que existe uma família, uma expectativa e até um sonho do próprio estudante de ingressar na universidade”, afirma David.

Flávio ressalta que manter um foco principal no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais não significa que a parte acadêmica e a preparação para os exames serão ignoradas. “Não só não é um jogo de soma zero, que tem que escolher entre um ou outro, mas muito mais do que isso, desenvolver esse tipo de habilidade social, relacional, contribui para as outras habilidades tidas como mais acadêmicas que são as que são cobradas nas provas tipo enem, vestibulares e outras”, explica.

Resultados

Para os profissionais, os maiores benefícios de não focar exclusivamente no Enem e nos vestibulares é a formação completa do aluno. Para Silvia, desta forma ele sai mais preparado não só para o mercado de trabalho, mas também para todas as escolhas da vida adulta. Da mesma forma,David afirma que após a transformação no método de ensino do IFPR Jacarezinho houve um salto na qualidade da relação do estudante com a escola.

“Quando a prioridade é colocar o estudante no centro, em geral isso tem um efeito de preparar ele melhor para tudo. Para o Enem, mas também para a vida profissional, para a vida de estudante”, explica Flávio Bassi.

Os resultados nas provas são também animadores. Na Escola Viva , a maior parte dos estudantes que desejam cursar a faculdade acabam passando na sua primeira opção. “Isso nos dá um retorno de que o aluno está sendo preparado para o que ele quer na vida”, diz a diretora.

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O professor do IFPR Jacarezinho também relata que o desempenho tanto dentro da escola quanto no Enem tem sido dentro ou acima da média. “Só tem vantagem. Todo mundo sai ganhando. Quando o estudante vai para a escola feliz, isso faz toda a diferença”, diz.