Depois de um professor do curso de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) virar notícia na semana passada ao anunciar que iria ministrar a disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” , o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade de Campinas (Unicamp) decidiu seguir o exemplo.
Por isso, a Unicamp também terá uma disciplina de mesmo nome, que terá basicamente o mesmo conteúdo da oferecida pela UNB, sobre o ' golpe de 2016 '. Nessa matéria, os alunos serão submetidos a estudos a respeito dos "elementos de fragilidade do sistema político brasileiro que permitiram a ruptura democrática de 2016, com a deposição da presidente Dilma Rousseff”, como afirma o programa do curso.
Na Unicamp, porém, o curso não será ministrado por um só professor. Em Campinas, cada docente dará uma palestra na disciplina. O ato ocorre em solidariedade ao professor Miguel, que acabou comprando uma briga direta com o ministro da Educação, Mendonça Filho.
Afinal, na quinta-feira passada (22), o ministro reagiu às notícias sobre a disciplina e anunciou que acionará o Ministério Público Federal para apurar suposto “ato de improbidade” por parte do docente da UNB.
Ele afirmou que a universidade “não pode ensinar qualquer coisa”. Para Mendonça Filho, “se cada um construir uma tese e criar disciplina, as universidades vão virar uma bagunça geral”. O ministro também disse que o Brasil é um país democrático e que o impeachment seguiu os ritos legais, de forma que a disciplina nada mais faria que “reverberar a tese petista”.
Tais declarações foram repudiadas pelos docentes da Unicamp que, em solidariedade ao colega de trabalho braziliense, enviaram uma nota em nome do Departamento de Ciência Política da universidade, "em defesa da liberdade de cátedra e da autonomia universitária". Confira a íntegra da nota:
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"O Departamento de Ciência Política da Unicamp vem a público manifestar irrestrita solidariedade ao professor e pesquisador Luis Felipe Miguel, da Universidade de Brasília, que ministrará neste semestre a disciplina 'O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil'.
Repudiamos as declarações e ameaças do ministro da Educação do governo golpista contra nosso colega da UNB. Elas são a demonstração cabal de que vivemos em um contexto político autoritário, no qual a máxima autoridade federal no campo educacional infringe a liberdade de cátedra e a autonomia universitária contra um docente e cientista político que apenas cumpre seu dever de ofício: pesquisar, elaborar cursos sobre a realidade e ensinar.
Manifestamos nossa mais profunda indignação contra os ataques à Universidade Pública e aos seus membros que temos assistido nos últimos meses no Brasil. Não é esse o caminho pelo qual transformaremos o Brasil em um país soberano, justo e livre. Estamos e estaremos juntos na luta para mudar a atual situação política do País."
A palavra 'golpe'
Após receber as críticas do MEC, o professor Luis Felipe Miguel rebateu em sua página nas redes sociais os comentários do ministro.
“O que causou reboliço foi o uso da palavra "golpe" já no título da matéria. Tenho razões muito sólidas para sustentar que a ruptura ocorrida no Brasil em se classifica como golpe", escreveu.
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"Continuarei discutindo essas razões com estudantes e com colegas e com a sociedade civil. Não vou, no entanto, justificar escolhas acadêmicas diante de Mendonça Filho ou de seus assessores, que não têm qualificação para fazer tal exigência”, pontuou o professor da matéria 'golpe de 2016'.