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Kim Kataguiri critica Ricardo Nunes e diz que ‘não há prefeito em SP’

Pré-candidato pelo União Brasil à prefeitura da capital paulista, Kataguiri critica gestão municipal e cidade ‘abandonada’.

Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados
Kim Kataguiri é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo

Pré-candidato à prefeitura de São Paulo, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) alfinetou o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e criticou a gestão da cidade nos últimos anos. O parlamentar disse 'não haver prefeito' em São Paulo e afirmou que a capital está 'abandonada'.

Em entrevista ao iG , Kim Kataguiri afirmou que ‘assumiria a prefeitura’ caso seja eleito no pleito do ano que vem. Ele citou a segurança pública como um dos principais problemas da cidade, que registra mais de 287 mil casos de furtos e roubos em 2023, segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado.

“Nos últimos três anos, eu já fui assaltado seis vezes [em São Paulo]. Então o risco é manter essa gestão, essa mentalidade de que são diferentes, mas que para mim é igualmente incompetente e corruptível dessas duas primeiras pessoas que estão nas pesquisas. A sociedade de São Paulo está absolutamente largada — para o crime principalmente”,

“Eu assumiria a prefeitura! Esse é o primeiro ponto, hoje não tem prefeito".

Outro fator citado por Kataguiri é a falta de agentes de segurança na região central de São Paulo, onde se concentra a Cracolândia. Ele vê omissão da prefeitura ao não incluir câmeras com reconhecimento facial.

O parlamentar aproveitou para criticar a demora na colheita de depoimentos em casos de crimes na região dos dependentes químicos. Ele sugeriu dar mais poder para a Guarda Civil Metropolitana e Polícia Militar – por meio da operação delegada – para agilizar as investigações.

“[É preciso] a presença ostensiva de rondas da Polícia Militar e da Polícia Civil. A Polícia Civil precisa estar lá porque a gente tem um problema estrutural na nossa polícia, que é um problema a ser resolvido a nível federal, e que infelizmente a gente não consegue resolver no curto prazo. O policial militar que vê um crime, pega um crime em flagrante, ele não pode colher depoimento da vítima, ele não pode colher depoimento de testemunha, a vítima precisa aceitar ir até uma delegacia para fazer um B .O. para depois não dar em nada”, defendeu.

Aos 27 anos, Kim Kataguiri deve ser o candidato mais novo na disputa pela principal prefeitura do país. Entretanto, o parlamentar enfrenta forte resistência do núcleo municipal do União Brasil, liderado pelo presidente da Câmara Municipal, Milton Leite.

Leite é defensor do apoio ao atual prefeito, Ricardo Nunes, e chegou a sugerir a possibilidade de se candidatar à vice do emedebista. A ideia, porém, deve ficar apenas no imaginário e o vice de Nunes tende a ser do PL.

Kim garante que tem apoio do partido para ser candidato e admitiu conversas com Milton Leite para contar o apoio do líder da Câmara Municipal. Ele vê uma ‘grande possibilidade’ de chegar ao segundo turno, mesmo disputando votos com o atual chefe da prefeitura.

“O vereador Milton Leite, vendo o crescimento da minha candidatura e vendo que o crescimento da candidatura não só mostra viabilidade para vencer as eleições, mas mostra também que o partido ter uma candidatura própria aumenta a sua bancada de vereadores pelo voto de legenda, pela visibilidade, por estar no debate nacional, acredito que ele próprio, ao longo do tempo, vai se convencer de apoiar a minha candidatura. Por enquanto, ele ainda apoia o prefeito. É uma posição legítima dele”, disse.

Confira a entrevista completa

iG - Deputado, o senhor está no seu segundo mandato na Câmara e já se arriscando a prefeitura por um partido que é grande — um dos maiores do Brasil. Por que se arriscar tanto para a prefeitura de São Paulo nesse momento, no alto dos seus 27 anos?

Kim Kataguiri - Bom, primeiro porque eu não acho que seja um risco disputar a prefeitura de São Paulo. Eu acho que o risco seja eu não disputar a prefeitura de São Paulo e deixar os dois candidatos que estão em primeiro nas pesquisas vencerem. Nos últimos três anos, eu já fui assaltado seis vezes [em São Paulo]. Então o risco é manter essa gestão, essa mentalidade de que são diferentes, mas que para mim é igualmente incompetente e corruptível dessas duas primeiras pessoas que estão nas pesquisas. A sociedade de São Paulo está absolutamente largada — para o crime principalmente. Mas, também o asfaltamento está um desastre. Essa semana teve o tribunal de contas falando que uma mesma avenida que estava com tapa-buraco estava com asfaltamento novo. Ou você faz uma coisa ou você faz outra, aí estava em duplicidade. [Só] depois que foi denunciado por um jornal e pelo tribunal de contas que a prefeitura falou: “vamos parar de fazer o tapa-buraco, vamos fazer só o asfaltamento”. Mas, [enquanto] isso você está fechando duas, três vias que está deixando o trânsito da cidade um completo caos, e é o principal programa da prefeitura hoje. Agora você vai ver a educação: não há indicadores de qualidade de educação infantil. Você vai ver saúde: há mais de 450 mil pessoas esperando na fila. Então, não existe nenhum setor da cidade de São Paulo que estejam indo bem, e daí [surge] a minha decisão de disputar a prefeitura de São Paulo, de saber que miséria aumentou 10 % nos últimos meses, que existe mais de 700 mil miseráveis, mais de 50 mil moradores de rua, mais de 350 mil pessoas em moradias precárias. Então, não existe nenhum problema da cidade de São Paulo que tenha sido solucionado nos últimos oito anos! É um negócio que você precisa ter uma pessoa que de fato tenha um plano, que queira executar esse plano e que tenha competência pra executá-lo.

O que que você faria diferente do atual mandatário Ricardo Nunes, porque é uma pessoa que você vai disputar a votação. Nós vamos entrar nesse quesito daqui a pouco, mas vale ressaltar que Ricardo Nunes está três anos e meio na gestão aqui na cidade de São Paulo. O que você faria de diferente do Ricardo Nunes caso seja o prefeito?

Eu assumiria a prefeitura! Esse é o primeiro ponto, hoje não tem prefeito. Como coloquei anteriormente, há mais de 280 mil furtos e roubos só nos primeiros meses na cidade de São Paulo. Eles ocorrem tanto em zonas perigosas, zonas mais ricas como Pinheiros e a zona central. Você pega a Avenida Paulista, uma das principais avenidas símbolo da cidade de São Paulo, com um recorde de furto e de roubo e você não tem um cercamento eletrônico com câmeras com reconhecimento facial para pegar os criminosos? Isso é uma coisa que funcionou bem, tem um chamado programa que eu estudei, e isso é uma coisa que eu tenho feito muito: estudado e até ido para outros países para estudar as melhores políticas públicas que funcionaram em grandes metrópoles. Até aqui no Brasil [eu tenho] buscado soluções em prefeituras de capitais que tenham funcionado para a gente implementar aqui na cidade de São Paulo.

Eu citei isso porque em Londres tem o chamado “Anel de Aço”, que é justamente um cercamento eletrônico com câmeras, que tem o reconhecimento facial e que tem o reconhecimento das placas dos carros para você não deixar nem entrar nem sair nenhum veículo furtado ou roubado de dentro da cidade. Você identificar imediatamente aquele veículo para a polícia pegar e devolver o bem para a pessoa.

Sobre iluminação, uma coisa básica, função da prefeitura. Quando você pega as regiões que mais tem cometimento de crimes à noite e você coloca o mapa de iluminação da cidade de São Paulo em cima, você vê que são exatamente essas regiões que você tem o maior número de cometimentos de crimes!

Em Nova York teve o programa de ruas e calçadas seguras, que foi justamente de iluminação pública. Salvador fez uma iluminação 100% em LED. Isso poderia muito bem ser feito na cidade de São Paulo, o que diminuiria o custo da energia, diminuiria o impacto ambiental das lâmpadas que são usadas hoje e aumentaria a sensação de segurança.

Foto: Reprodução
Kim Kataguiri criticou gestão de Ricardo Nunes e disse que São Paulo 'não tem prefeito'

Na educação, primeiro é necessário criar um indicador de educação infantil. Hoje, nós não sabemos se a educação infantil está boa ou ruim. Essa é a principal atribuição da prefeitura na educação, nós não sabemos e o prefeito voa “às cegas”. Nós não temos nenhuma política pública para garantir que aquela criança de fato esteja aprendendo. Para mim, você precisa ter inclusive um programa de medição nacional. A alfabetização é medida aos 7, 8 anos de idade para saber se tem analfabetismo infantil ou não. Para mim, na cidade de São Paulo, aos 6 anos de idade você já tem que ter uma medição se o sujeito está alfabetizado ou não, porque é na primeira infância que se forma 85% do cérebro. É na primeira infância que você tem uma diferença de centenas de palavras de vocabulário que hoje estudam em creches privadas, e que pais mais ricos e com vocabulário mais rico fazem com que essa criança tenha uma vantagem cognitiva em relação às crianças mais pobres para o resto da vida delas. Nós não temos um programa voltado para isso, para medir a qualidade da educação infantil na cidade de São Paulo, para saber se a criança está sendo bem alimentada, para saber se os brinquedos são adequados para a educação daquela criança. Isso precisa ser solucionado! O prefeito disse que zerou a fila em creches, só que quando você vai puxar nos dados públicos, não há essa informação. Ou o prefeito está escondendo as informações sobre as vagas em creches — que deveriam ser públicas, inclusive pela legislação federal —, ou ele está mentindo que não zerou a vaga em creches e por isso está escondendo. O dado que a gente tem é do FNDE, porque você não consegue o dado aqui na Secretaria de Educação de São Paulo. Mas, a nível federal, os números são de que pelo menos 20 creches receberam recurso federal para construção. A prefeitura recebeu recursos federais para fazer de creches, e elas não foram construídas por quê? A prefeitura devolveu esse dinheiro? Eu entrei com um pedido de via LAI para saber se devolveu ou se não esse dinheiro, porque, senão devolveu, está cometendo uma ilegalidade.

Área da saúde. Mais de 370 mil pessoas na fila esperando. Não estou nem falando de cirurgia, estou falando de exame, que é competência do município. Isso é uma atenção básica, uma atenção primária. Você não tem uma orientação da prefeitura e de vários profissionais. É preciso que a prefeitura tenha uma campanha de orientação para as pessoas saberem para onde ir por quê? Você tem UPA, Unidade de Atendimento de Urgência e Emergência, de pronto atendimento, você tem a UBS, você tem a AMA, mas as pessoas não sabem qual é o lugar mais adequado para elas serem atendidas! Às vezes ela precisa de uma receita de um medicamento de uso contínuo. Durante a pandemia, por exemplo, eu aprovei um projeto para que quem faz uso desse tipo de medicamento pudesse usar a receita vencida para comprar o medicamento para não se arriscar indo para uma fila do SUS e não arriscar pegar coronavírus. Hoje a pessoa quer uma receita, às vezes ela vai para o hospital. Chegando ao hospital, eles medem alta complexidade. Se você vai fazer uma cirurgia, se você vai fazer um procedimento mais complexo, mas a pessoa entra na fila do hospital, afoga a fila do hospital porque não tem uma orientação da prefeitura de que ela consegue uma receita numa AMA, que tem uma estrutura muito mais reduzida e muito mais simples e prática para a atenção do dia a dia.

Saúde preventiva, que também é função da prefeitura. O agente comunitário de saúde é absolutamente desvalorizado! Hoje, o agente comunitário de saúde é praticamente ignorado pela prefeitura, e ele deveria ser o principal agente de saúde. Quais são os dois principais problemas primários da saúde da cidade de São Paulo? Colesterol e diabetes. Duas coisas que nunca precisam chegar nem no enfermeiro nem no médico. Coisa que você soluciona com o agente comunitário de saúde. É você controlar o açúcar, é você controlar o sal, é você controlar a alimentação daquela família, que pode ser feito com o agente que vai lá e acompanha a saúde daquela família durante todo o tempo. Todas as semanas está lá entrando em contato, sabendo como está a alimentação, tirando pressão, tirando colesterol, tirando como está a diabetes, sabendo se está com caneta de insulina. Isso tudo poderia ser feito pelo agente comunitário de saúde.

Segurança pública. Para mim, é um dos principais problemas, se não o principal problema da cidade de São Paulo! Como eu coloquei, o cercamento eletrônico, a iluminação, transformar a guarda municipal em polícia municipal para que ela possa fazer abordagem, para que ela tenha rondas ostensivas, como a ronda escolar, por exemplo. A polícia municipal deveria fazer o que a guarda municipal faz hoje a mando do prefeito. Está lá com pistola de velocidade para multar um carro e não educar, porque você está multando com radar escondido, então você não está diminuindo a velocidade, diminuindo os acidentes, você está multando com uma pessoa que nem sabe onde é que vai estar o radar naquele dia, naquela cidade, e usando para fiscalizar bairro e restaurante, quando você tem subprefeitura e fiscal para fazer isso.

A guarda municipal é força de segurança pública, reconhecida esse ano pelo Supremo Tribunal Federal, e deveria estar fazendo rondas ostensivas. Já tivemos ronda ostensiva da guarda municipal, que era a RUMU, mas que acabou no governo Marta [Suplicy]. Recriar a RUMU é um dos meus projetos, justamente para a polícia municipal estar nos lugares em que os crimes são cometidos e evitar que esses crimes sejam cometidos.

Assistência social. Desde 2015, o Cadastro Único não é atualizado. O CadÚnico é aquele que dá acesso aos programas sociais do Governo Federal, do Governo Estadual e do Governo Municipal. Se desde 2015 ele não é atualizado, e a gente tem mais de 700 mil pessoas na miséria, isso significa que tem gente que não deveria estar recebendo auxílio, mas que está recebendo hoje, e gente que precisa desse auxílio não está recebendo. Eu pretendo, inclusive, criar um bônus chamado Auxílio Sampa. Ele seria para as famílias, sendo uma bolsa a mais dos programas que já existem no Governo Federal e no Governo Estadual. Um dinheiro a mais para aquela família que topar participar de um programa da Prefeitura de emancipação, para que em dois ou três anos, ela não dependa mais de programas sociais.

E aí vamos do básico ao mais avançado. Primeiro, tirar documento. Segundo, ver se dá para fazer regularização fundiária, porque boa parte dessas pessoas moram em lugares como Parelheiros, Parque de Taipas, que você não tem a regularização fundiária. Você poder colocar o filho na escola ou na creche, o idoso no centro-dia, os pais participarem de cursos profissionalizantes, participar também de assistência técnico e financeira de uma política de microcrédito — projeto que eu aprovei a nível federal e que pode ser utilizado pela Prefeitura, mas hoje a Prefeitura faz muito mau uso desse recurso. Então, na assistência social, nós temos condições de erradicar a miséria na cidade de São Paulo. A cidade de São Paulo tem dinheiro de sobra para erradicar a miséria. E aqui eu não estou nem entrando em pobreza ainda. Estou só falando de miséria, de gente que no dia não tem o que comer, de uma pessoa que em uma semana de sete dias, come três ou quatro dias. Pessoa miserável na cidade de São Paulo, a cidade mais rica do país, é absolutamente inaceitável. Então, voltando à sua pergunta inicial, o que eu faria diferente do prefeito? Eu seria prefeito! A cidade teria um prefeito, porque hoje não tem!

Deputado, o senhor é ligado à ala da direita e vai ter pelo menos dois concorrentes. Ricardo Nunes, atual prefeito, que tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e tem ali uma concentração mais vinculada à direita. Também, possivelmente, Marina Helena do Novo, que é ligado à ala empresarial, que também poderia ter uma divisão dos votos. Teria um terceiro candidato, que seria Ricardo Salles, mas ainda não há confirmação da candidatura dele, porque não há uma legenda para que ele consiga ser candidato. Como que você vê essa divisão dos votos e como você faria para se destacar em meio à direita com dois ou três concorrentes fortes ali na disputa pela prefeitura?

Olha, hoje tem dois colocados: o prefeito Ricardo Nunes e a candidata Marina Helena. O deputado Ricardo Salles ainda busca uma legenda. Eu espero essa definição de legenda dele para considerá-lo e acho legítimo que ele queira ser candidato, mas ele ainda precisa de uma legenda para ser candidato a prefeito de São Paulo.

Em relação ao prefeito Ricardo Nunes, ele é um sujeito que é muito simples e muito fácil de se expor todos os defeitos da gestão dele, porque não tem uma qualidade. Não tem um ponto que você olhe para a gestão dele e você fala: “olha, isso aqui está indo bem.” Não existe nenhum setor na prefeitura de São Paulo que estejam indo bem. Inclusive, para mim, a única chance de Guilherme Boulos vencer a prefeitura de São Paulo é indo para o segundo turno do Ricardo Nunes, porque aí é muito fácil de ‘nadar de braçada’ em cima de todas as deficiências da prefeitura. E, mesmo com o apoio de Jair Bolsonaro, o próprio eleitorado bolsonarista e o eleitorado de direita, que é mais amplo do que o eleitorado bolsonarista, não reconhece ele como um legítimo representante. Não vê ele defendendo os valores e bandeiras da direita. Ele é um sujeito que tem o Marta Suplicy como secretária. Ele mesmo diz que é um cara de centro, mas que quer os votos da direita, ou seja, ele quer usar o eleitorado de direita para se eleger, mas não representa esses valores na gestão. [O] secretário de educação [dele] coloca a ideologia de gênero nas escolas, assinado e com a chancela do próprio prefeito. Uma cidade abandonada por crime, uma cidade absolutamente caótica com as obras que estão acontecendo em cima da hora, algumas com indício de superfaturamento, outras com indício de duplicidade de pagamento e por aí vai. É um sujeito apagado, um sujeito que não tem liderança, um sujeito que não tem presença.

Se a população, em três anos de gestão, não conhece o prefeito, não sabe quem ele é e quais são os principais programas, isso mostra que o prefeito é um absoluto fracasso!

Em relação à Marina Helena, com todo respeito à pré-candidatura dela, é uma pré-candidatura que sai de um partido que não tem direito a debate. Então, eu não vejo um candidato vencer a eleição sem participar de debate. Eu não tenho na memória nenhum que tenha vencido as eleições nessas condições. E um outro ponto é que ela ainda precisa tornar-se conhecida pelo eleitorado. Ela nunca exerceu o mandato, nunca venceu uma eleição, então ela não tem a projeção necessária, por mais que possa ter boas ideias, eu ainda não me aprofundei nas entrevistas e nas propostas dela para falar com mais propriedade aquilo que ela tem defendido, mas daquilo que eu já conheço da eleição que ela disputou para deputado federal em 2022, das propostas que ela tem defendido, tem muito alinhamento daquilo que acreditamos. Agora, ela não é, na minha avaliação, um nome que está hoje conhecido o suficiente para ser debatido pelo próprio eleitorado.

Vamos entrar já na sua candidatura, porque ela sofreu muita resistência do União Brasil, principalmente do presidente da Câmara, Milton Leite, que é uma pessoa que tem muita influência política aqui. A gente vê que Milton Leite, inclusive, começou a adotar estratégias, como, por exemplo, dizer que gostaria de ser candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes. Como você vê essa resistência? Como você tem driblado essa resistência? E a pergunta que eu acho que não quer calar: você tem legenda para se candidatar à Prefeitura de São Paulo? O União vai bancar a todo custo a sua candidatura?

Eu tenho legenda! O União vai bancar a minha candidatura e hoje eu tenho maioria no diretório para vencer a nomeação em abril do ano que vem, para ser candidato pelo União Brasil. Acredito até que tenho o apoio do vice-presidente do partido e presidente do partido no Estado de São Paulo, que é o Antônio Rueda. Tenho também o apoio do secretário-geral do partido, o Assem Neto; tenho o apoio da maior parte dos vice-presidentes da executiva e da executiva nacional; da tesoureira, a Mila Rueda; do vice-presidente, Ronaldo Caiado; do vice-presidente Mendonça Filho; do líder da bancada na Câmara dos Deputados, o deputado Elmar Nascimento; do líder da bancada no Senado Federal, o senador Efraim Filho. Eu acredito que hoje eu tenho maioria para vencer, caso isso seja levado a uma disputa, mas que acredito que isso nem sequer vá para a disputa.

O vereador Milton Leite, vendo o crescimento da minha candidatura e vendo que o crescimento da candidatura não só mostra viabilidade para vencer as eleições, mas mostra também que o partido ter uma candidatura própria aumenta a sua bancada de vereadores pelo voto de legenda, pela visibilidade, por estar no debate nacional, acredito que ele próprio, ao longo do tempo, vai se convencer de apoiar a minha candidatura. Por enquanto, ele ainda apoia o prefeito. É uma posição legítima dele. Se a gente mantiver a condição atual, vai levar o nome do prefeito para a convenção municipal, assim como eu vou levar o meu nome, mas eu tenho plena convicção de que se houver disputa — o que eu acredito que não vai haver — eu consigo a legenda.

Foto: redacao@odia.com.br (IG)
Kim Kataguiri garante ter apoio do União Brasil para disputar as eleições em 2024

Nos últimos anos vimos um MBL muito mais “enfraquecido” porque vocês perderam alguns membros. Vocês perderam o Fernando Holliday, que é o vereador aqui em São Paulo, vocês tiveram a cassação do mandato do Arthur Duval, além da perda na eleição de 2020 para a prefeitura, embora ele tenha tido uma boa candidatura, com quase 10 % dos votos. Mas, a partir de 2013, nós percebemos que houve uma ascensão, e de 2018 para frente houve uma queda. Você acredita que usar o nome do MBL nesse momento pode te fortalecer na candidatura aqui em São Paulo?

Sem dúvida nenhuma! Este ano que nós vivemos é o melhor ano do Movimento Brasil Livre. É o ano em que todos os nossos membros e porta-vozes cresceram em número de alcance, de seguidores nas redes sociais, que o movimento institucionalmente aumentou as suas lives, nós lançamos uma revista impressa própria que já tem mil assinantes — a revista Valete —, a gente lançou o Clube MBL para o financiamento recorrente e mensal do movimento e que hoje já tem de nove a dez mil assinantes. Nas minhas redes, só nesse ano, foram 500 mil [seguidores], e isso muitas vezes a imprensa ou os institutos que analisam alcance de rede não consideram essa rede, o que para mim é um erro grave. A minha principal rede é o YouTube, e o canal cresceu nesse ano 500 mil pessoas, e vai crescer ainda mais até o final do ano e ainda mais no ano que vem.

Então, este ano é o melhor ano do Movimento Brasil Livre. Símbolo máximo disso, a gente vai fazer agora o Congresso Nacional do Movimento Brasil Livre, como a gente faz todos os anos. Nos últimos dois anos, foi um evento para 1 .500 pessoas. Neste ano é um evento para 3 .000 pessoas, e a gente já está aí com mais de 2 .700 ingressos vendidos. São pessoas que pagam para participar do Congresso do Movimento, do nosso congresso simulado e da formatura da Academia MBL. Nós nunca tivemos tantos alunos também na nossa escola de militância, que é a Academia MBL. O movimento está no seu melhor momento, está colhendo os frutos da sua coerência, do seu trabalho sério, duro e, mesmo quem discorda da MBL, respeita o MBL por saber que é uma força política relevante e que conduz o debate sério. Eu escuto isso muito na Câmara dos Deputados, de deputados de esquerda que discordam de mim e falam: “olha, eu respeito, sei que você é um deputado de conteúdo e etc e tal”, e depois de fazer essa ressalva parte para a discordância. Muito diferente de vários outros parlamentares que não tem respeito, que não tem articulação, que não tem construção dentro da Câmara dos Deputados e isso é uma coisa que eu construí e eu levo a imagem do Movimento Brasil Livre, mesmo em âmbito estadual.

O deputado Guto Zacarias é outro que explodiu e cresceu ainda mais do que eu. O que ele tem de números, de alcance, de TikTok com vídeos até 70 milhões de visualizações. O desempenho dele com a própria nomeação, mesmo a gente não tendo feito campanha para o governador Tarcísio, ainda assim ele nomeou como um dos vice-líderes do governo o deputado Guto Zacarias do MBL e que tem feito um excelente trabalho, sempre elogiado pelo governador, com um projeto já sancionado, que é o jovem capitalista. Então eu não vejo como prejuízo algum. Pelo contrário, eu acho que a militância do MBL nunca esteve tão grande e diferente de outros candidatos que precisam pagar pra gente fazer campanha pra eles no MBL. As pessoas pagam para nos ajudar, pagam para serem militantes e possuem muito mais qualidade justamente por passar por um processo de formação.

Nos bastidores vocês já estão se articulando para fazer do MBL um partido político. Nós vemos uma movimentação muito grande dos partidos em formar federação para que eles não se fechem, principalmente aqueles ‘nanicos’, como por exemplo o Patriota, PSC, Cidadania também que se juntaram com o PSDB, ou o PCdoB que agora se juntou com o PT nessa federação. Queria saber de você uma coisa, o MBL vai virar um partido político? Como que está essa situação? Qual é a sua expectativa em relação a formação desse partido e com que potência o MBL vem? Ele vem com potência de se sustentar sozinho ou com necessidade de fazer uma federação pelo que você tá vendo nos bastidores?

Começando pelo final, eu vejo zero necessidade de se formar a federação. O objetivo, se o MBL conseguir formar um partido político, é bater a cláusula de barreira sozinho. Não é depender de nenhum outro partido, e mesmo que não bata a cláusula de barreira, não é como se a gente dependesse para existir da cláusula. A gente pode continuar existindo como partido sem bater cláusula, mas acredito que a gente bateria sim até pelo número de pessoas que a gente planeja eleger nos próximos anos. Agora, a formação de um partido político, a gente sabe que é difícil. Sabemos que é demorado e que vai ser difícil, que vai demorar e que o foco da militância para o ano que vem não vai ser o partido político: vão ser as nossas candidaturas para vereador, principalmente nas capitais, e as prefeitura de São Paulo — em que eu sou pré-candidato — e do Rio de Janeiro — em que o Pedro Duarte é pré-candidato. Então, eu vejo que é um projeto que a gente tem já há muito tempo, que a gente não levou em frente por todas as dificuldades, burocracia e etc., mas que finalmente vamos dar o start e tentar construir esse partido. Mas, nesse primeiro momento, esse projeto fica em segundo plano porque o principal foco do movimento deve ser as eleições no ano que vem.

Para você ser prefeito de São Paulo, você precisa ter um caminho de ação muito grande com dois polos em que você fez muita oposição nos últimos anos. Um deles é o governo federal, por conta da grande ligação com São Paulo, a maior capital do país, maior cidade do país, maior metrópole da América Latina. Outro é com o governador Tarcísio de Freitas, que hoje comanda o Palácio dos Bandeirantes e que é aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Como que você pretende manter esse diálogo com o governo federal e com o governo estadual, caso seja o prefeito de São Paulo?

Olha, diferente de um cargo proporcional — que é o que eu ocupo de deputado federal — o parlamentar representa um seguimento da sociedade. Ele representa os eleitores que votaram nele. O prefeito de São Paulo, o governador de São Paulo e o presidente do Brasil não escolhe quem representa. Ele representa a todos. O presidente representa o Brasil inteiro, inclusive quem não votou nele ou quem votou nulo. O governador a mesma coisa. E o prefeito representa todo mundo. Quem não votar em mim, eu vou representar. Quem votar nulo ou branco, eu vou representar, porque esse é o papel de chefe de executivo. É muito diferente da postura que você tem como deputado federal, em que você vai representar um segmento e, por isso, você vai ser mais incisivo, você vai marcar mais posição. O prefeito não. O prefeito precisa governar e precisa governar com todo mundo. E precisa governar escutando todo mundo. Então, a interlocução que eu vou ter com o governo estadual e com o governo federal, sempre que a cidade de São Paulo precisar de interlocução com o governo do estado e com o governo federal, estarei disposto a conversar. Não interessa a divergência ideológica, mesmo porque isso precisa ficar de lado na hora que você governa uma cidade, um estado ou um país. Se você não deixa isso de lado, você continua no palanque, você continua fazendo campanha. E não é essa a minha intenção. Minha intenção é que depois de ganhar, acabou a campanha, começou o governo, é hora de chamar todo mundo que eu discuti, que eu critiquei, que eu tive embates duros, para sentar, conversar, compor e construir.

Foto: Lula Marques/ Agência Brasil - 24.05.2023
Kim Kataguiri terá que disputar votos da direita contra Nunes e Marina Helena, além de Ricardo Salles, caso o ex-ministro consiga legenda para se candidatar

Agora, temos um problema muito grande aqui em São Paulo que se chama Cracolândia. Nós temos muitos índices de roubos e furtos ali na região central da cidade, Santa Cecília, República, e é uma concentração muito grande desses usuários de entorpecentes naquela região. E a sempre cabe essa pergunta: o que fazer para ou tirar eles dali ou reduzir o índice de criminalidade naquela região, que é uma das regiões mais nobres da capital?

Olha, primeiro ponto, vacina. Esse é um ponto central que eu tenho batido muito. A vacina contra o crack, a vacina contra a cocaína, que está sendo desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com outras duas universidades internacionais, fica pronta no ano que vem. Eu disponibilizei já R$ 5 milhões para emenda parlamentar do desenvolvimento dessa vacina. O prefeito Ricardo Nunes, de maneira vergonhosa, destinou, salvo engano R$ 3 milhões. Esse valor, para o prefeito da cidade de São Paulo, não é absolutamente nada. Para mim, que sou deputado federal, R$ 5 milhões é muito. Você manda para um hospital, um deputado federal, quando manda muito para um hospital grande, manda R$ 1 milhão. Eu disponibilizei, em um mandato de um deputado, R$ 5 milhões para essa vacina, que precisa ser incentivada, que precisa ser desenvolvida. Na minha avaliação, se eu fosse prefeito hoje, eu daria todo o dinheiro necessário para que a pesquisa fosse desenvolvida, porque esse é o problema central da cidade de São Paulo. Nós precisamos investir na vacina contra o crack e precisamos vacinar todos aqueles que estão na Cracolândia.

Um outro ponto é a internação compulsória para quem não tem mais condições. 49% da Cracolândia está lá há mais de 10 anos. Quem não tem mais condições mentais de tomar decisões por si próprios, precisa ser internado compulsoriamente. E isso é sempre escandalizado e sempre se fala muito em direitos humanos, em setores da esquerda, em setores da imprensa, quando a gente fala em internação compulsória, mas não existe o direito humano de se matar fumando crack. Não existe o direito humano de você destruir a própria vida usando uma droga. Não existe o direito humano de você degradar, destruir, depredar, furtar, roubar o centro de São Paulo, seus comerciantes e os seus moradores. Então, a internação compulsória, para quem não tem mais condições de tomar decisão por si próprio, é a solução a ser tomada.

E falta vontade política e coragem para fazer isso. Por quê? Porque esse é o tipo de coisa que traz muitos processos ao prefeito. Muitas associações, ONGs, setores do Ministério Público vão processar o prefeito que tomar a iniciativa de fazer internação compulsória. O prefeito precisa ter coragem de fazer isso, ainda que ele saiba que vai responder aqueles processos até depois que ele sair da prefeitura. Então, falta vontade política nesse sentido.

Parte da Cracolândia é morador de rua. E morador de rua precisa de assistência social. Você precisa escutar, porque hoje tem vaga em abrigo que não é utilizada. Vaga em abrigo no centro, vaga em abrigo próximo da Craccolândia. O morador de rua não é escutado. Ele quer levar o seu animal de estimação e ficar com o seu animal de estimação. Hoje você tem dois tipos de abrigos nesse sentido na cidade de São Paulo. Aquele que aceita o animal de estimação, mas separa ele do dono e aquele que não aceita. Todos precisam aceitar. Olha, minha proposta, no primeiro dia de prefeitura, todos os abrigos vão aceitar animais de estimação e vão ter estrutura para o animal de estimação ficar junto com o morador de rua. Por quê? Se eu fosse morador de rua, tivesse um animal de estimação — um cachorro, um gato que me acompanhasse — e eu tivesse que escolher entre ir para um abrigo e dormir num abrigo, mas perder o amigo da minha vida, eu preferiria ficar na rua, dormir na rua com o meu animal de estimação, com o meu amigo, do que ir para um abrigo da prefeitura. Então é perfeitamente compreensível as pessoas que não aceitarem ir para o abrigo da prefeitura.

Outro ponto é não podem levar os seus pertences, ou, quando podem levar, não tem lugar para deixar. Precisa ter um local decente, porque todo mundo tem as suas coisas. Eu tenho as minhas coisas, eu guardo as minhas coisas na minha casa. O morador de rua não tem casa. Às vezes ele vai lá, leva um carrinho junto com ele que ele junta as suas coisas, e tem as suas coisas. Todo mundo tem o direito de ter as suas coisas, e de manter as suas coisas. Por que o morador de rua não tem esse direito no abrigo da prefeitura? Tem que poder levar!

E flexibilidade em relação ao horário também. O tempo, para mim, para você, nós marcamos essa entrevista: teve um horário, a gente se encontrou nesse horário, a gente vai dormir no horário, a gente acorda no horário, tem despertador. O morador de rua não tem essa sensação de tempo, porque a realidade que ele vive é outra, não é uma realidade baseada no relógio. Então a gente não pode ter esse rigor de horário que você tem nos abrigos hoje da prefeitura, porque isso espanta o morador. Não necessariamente ele quer ir dormir no horário que a prefeitura quer que ele vá dormir, e ele não quer acordar no horário que a prefeitura quer que ele acorde. Você precisa adaptar. É uma coisa que pode se solucionar de maneira muito simples, você faz uma parceria com a NCCG privada, que no setor público é mais engessado, você mantém o funcionamento do abrigo durante períodos mais longos, mas com a parceria com a NCCG privada você consegue, com muita facilidade.

Então, isso também precisa ser solucionado do ponto de vista da assistência social. E do ponto de vista da saúde, nós temos 39 leitos de atenção psicossocial, álcool e drogas na cidade de São Paulo. 39 leitos. Nós temos 39 leitos para mais de 5 mil pessoas na Cracolândia. Como é que a gente vai atender, mesmo quem quer se internar voluntariamente? Não tem leito. Não tem como atender essas pessoas. Então precisa ter uma atenção. Eu pessoalmente já precisei, desde o dia que eu nasci até o final do meu primeiro mandato de deputado federal, eu dependi do SUS. No primeiro mandato de deputado federal, eu não aderi ao plano da Câmara nem a nenhum outro. E precisei dos centros de atenção psicossocial e dos hospitais psiquiátricos da cidade de São Paulo para ter atendimento, que não é segredo para ninguém. Eu tenho ansiedade, tenho depressão e tenho insônia. E quando eu precisei, eu não tive atenção. Houve uma negligência e até um mal tratamento muito grande. Então, se o SUS tem problemas gigantescos de fila, sucateamento, mau atendimento e falta de equipamento, na atenção de saúde mental, ele é infinitamente pior. E isso, para solucionar o problema de álcool e drogas, é fatal. Você vai fazer com que o sujeito continue com o problema de vício em álcool, problema de vício em drogas — mesmo que ele queira se tratar — porque não tem onde ele se tratar.

Mesmo nos locais em que ele pode se tratar, vamos supor que ele consiga uma dessas vagas, ainda assim essas vagas não estão bem estruturadas para fazer com que ele não só se cure do vício da droga ou do álcool, mas, posteriormente, precisa ter um acompanhamento e uma assistência da Prefeitura para ele ter moradia e emprego, para ele consega ‘andar com as próprias pernas’, porque não adianta tratar a droga e o álcool e volta para a rua, vai voltar para a droga, vai voltar para o álcool. Então, precisa ter um acompanhamento posterior. Ele precisa ter uma casa, a casa dele precisa ter televisão, precisa ter sofá, precisa ter cama, e a Prefeitura tem recurso para tudo isso. A Prefeitura de Salvador fez isso com um orçamento mais de 12 vezes menor do que a cidade de São Paulo. Claro, com menos habitantes, mas com mais pobreza e com mais desigualdades, eles conseguiram fazer. Aqui a gente consegue fazer também.

E a criminalidade naquela região? A criminalidade é ronda ostensiva. É câmera com reconhecimento facial. [É preciso] a presença ostensiva de rondas da polícia militar e da polícia civil. A polícia civil precisa estar lá porque a gente tem um problema estrutural na nossa polícia, que é um problema a ser resolvido a nível federal, e que infelizmente a gente não consegue resolver no curto prazo. O policial militar que vê um crime, pega um crime em flagrante, ele não pode colher depoimento da vítima, ele não pode colher depoimento de testemunha, a vítima precisa aceitar ir até uma delegacia para fazer um B .O. para depois não dar em nada. Então, a gente precisaria, no mundo ideal, que houvesse um ciclo completo de polícia. Que o policial que chegou na ocorrência, ele possa pegar imagem de câmera, testemunho de quem viu o crime acontecendo, relato da vítima, ouvir o próprio suspeito e já encaminhar e fazer um relatório para o Ministério Público decidir se denuncia ou se não denuncia o sujeito. Mas isso, infelizmente, não existe. Se não existe, o que a gente faz pra solucionar? Podemos colocar bases da polícia civil já no lugar, para não precisar deslocar a vítima pra um local distante pra fazer um B .O. para não solucionar nada. A PM pegou em flagrante, já leva para polícia civil, onde já ficha o sujeito e levado para audiência de custódia. Ele vai preso de acordo com o critério do juiz, que está cumprindo os critérios legais.

Então, integrar as forças de segurança pública, o sistema da polícia civil precisa conversar com o da polícia militar, com o da polícia federal e com o da polícia municipal que vamos criar. Hoje, nenhum desses sistemas se conversam. Você tem retrabalho e ineficiência. Então, tanto pra Cracolândia, quanto pra outros lugares em que você tem uma criminalidade alta, você precisa dessa integração das forças, porque, pra além da ostensividade, você precisa de inteligência.

Só um ponto. Essa criação de cabines da polícia civil precisaria muito do governador. Mas há um grande déficit na polícia civil hoje no estado de São Paulo. Você acha que conseguiria colocar isso daí, mesmo com a polícia civil em déficit?

Acho que sim, porque a gente tem a operação delegada. A prefeitura pode usar recursos para financiar tanto a polícia militar quanto a polícia civil quando eles estão de folga. Ela pode comprar folga para eles trabalharem na cidade. Claro que o comandante continua sendo governador, mas é evidente que quando é a prefeitura que está pagando, você tem uma influência gigantesca da prefeitura em quais ações e onde elas serão efetivadas. Então a gente tem os meios, sim, para fazer isso. Hoje você já tem a operação delegada com a polícia militar. O grande problema é que o prefeito não sabe onde colocar o comercial.

Qual que é a sua expectativa pra eleição do ano que vem?

Minha expectativa é vencer! Vou trabalhar pra isso, não disputo pra perder! Estudei e estou terminando de elaborar [o plano de campanha]. Aliás, eu acho que o meu é o que está na fase mais avançada, sendo o mais detalhado de todos, não aquela cartinha para o “Papai Noel” que todo candidato protocola no teste da época de disputar a eleição. O meu programa de governo é um programa sério, pronto, com base em evidência, estatísticas em cidades que deram certo, como o programa no estado do Ceará em educação básica, na cidade do Sobral e em Fortaleza, vamos implementar na cidade de São Paulo. Claro que isso é competência do governo do estado, mas também tem escolas municipais que tem ensino médio. Ensino médio em tempo integral, que deu certo e fez com que você tenha o melhor ensino médio do país em Pernambuco. Em Pernambuco, tem o meu amigo ex-ministro da educação, Mendonça Filho, que implementou, quando foi governador, o ensino médio em tempo integral e que funciona até hoje. Como ministro, implementou isso para financiar com dinheiro do governo federal. Vamos implementar também na cidade de São Paulo.

O programa da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, que manda os melhores alunos da rede para Nasa e para Disney, para ampliar os horizontes deles, para alimentar os sonhos deles, em um programa que eu tenho chamado de “Sonho Grande”. Vamos implementar também na cidade de São Paulo. Então, vamos pegar Londres, como eu já falei do Anel de Aço, Nova York, como já falei sobre a iluminação pública, Medellín, para a integração do transporte público da periferia paro centro, o adensamento populacional de Nova York e de Barcelona, para aas pessoas terem moradia mais barata, próximo do lugar onde elas trabalham, e não ter esse deslocamento monstruoso da zona leste para o centro. É onde mora boa parte das pessoas, e elas trabalham uma hora e meia de ônibus de distância. Não precisamos rever tanto a lei de saneamento como parte do plano diretor que acabou de ser revisto, mas com deficiências gigantescas, para ter adensamento populacional, porque é mais fácil de levar infraestrutura, porque diminui o trânsito, diminui a emissão de carbono.

A cidade de São Paulo, ela está extremamente espalhada na periferia, onde não tem o mínimo de estrutura. Eu estive no Parque de Tapas no último final de semana e lá, na penúltima vez que eu fui, eles estavam com água suja e barrenta ainda. Eles não compravam roupa branca porque a água é barrenta e sujava na hora de lavar. Agora, como é que eles solucionaram o problema? Chamaram o cara da Sabesp para fazer um gato e trazer a água da Sabesp por meio de um gato. A prefeitura poderia fazer isso se tivesse regularizado. Hoje, ela não pode fazer porque não tem regularização fundiária. É como se o Parque de Tapas, com aquelas centenas de famílias, não existisse para a Prefeitura. Assim como Parelheiros e São Miguel. Se não regularizou, o poder público não pode entrar. Então precisa regularizar para ter o mínimo. Estou falando de água, que é um negócio básico e que na cidade de São Paulo você não tem. As pessoas mais pobres não têm acesso a água limpa. E esgoto a céu aberto nem se fala. Esgoto correndo solto em Parelheiros, invadindo casa das pessoas quando chove, alaga. Já fiz doação de salário, inclusive, pra uma menina em Parelheiros que tem a síndrome dos ossos de vidro, que possui os ossos muito sensíveis e que é cega. Ela mora no lugar que, sempre que alaga, enche de esgoto. Tem muita coisa para ser feita, tem muita coisa pra ser implementada e eu busquei as melhores soluções no Brasil e no mundo para isso. Então, se a minha perspectiva não fosse vencer, eu não estaria na disputa da eleição!