Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo
Alan Morici
Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo

O governo norte-americano dá sinais de um giro de 180 graus na sua política em relação ao Brasil, com efeito na América Latina, que mandou um claro e inusitado sinal de uma nova relevância do nosso país nas relações bilaterais com efeitos no hemisfério. E isso difere dos discursos de Biden na cúpula da OEA em 22 de junho, quando nada foi dito de maior interesse para a América Latina.

Naquela ocasião, a pauta foi esvaziada e excludente dos países socialistas como Cuba, Venezuela e Nicarágua, levando o México ao arrasto na alienação. Na reunião da OEA, a pauta foi reativa ao tratar de imigração ilegal e do tráfico de drogas, deixando de lado a integração para o desenvolvimento regional. Biden falou apenas para a política interna dos EUA. Porém, há alguns dias, Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, enviado de Biden, trouxe novas mensagens, entre as quais a de uma nova intenção política, e que foi relatada ao presidente Lula, no convite para o encontro com o presidente Norte Americano, em Washington.

Este novo racional incluiu uma diferenciada aproximação com o Brasil, já como reflexo da nova geopolítica mundial e que redesenha o desejo dos EUA por diminuir sua dependência de países longínquos para países próximos, além de mencionar o Brasil como uma potência energética limpa, ter petróleo, mercado interno e conter a maior parte da Amazônia. E, acima disso, ser um país amigo, sem maiores instabilidades internas, sobretudo culturais e religiosas. Tudo isso em contraponto às relações conflituosas que os EUA têm com a Rússia na Europa, na guerra da Ucrânia, e nos imbricamentos históricos insolvíveis no médio oriente.

No andar superior está a disputa com a China, cuja influência se expande no Sudeste Asiático e pelos competentes avanços do megaprojeto de integração econômica pela política “one belt one road” e da nova rota da seda — e, por aqui, como o maior parceiro comercial do Brasil. Também se ressalta as relações comerciais com a Rússia em fertilizantes e a complexa cooperação militar com outros países da região.

Estaríamos nas bordas de uma Doutrina Biden como uma forma contemporânea da velha Doutrina Monroe -“a América para os Americanos” - da qual decorreu a vulgata “o que é bom para os americanos seria bom para os brasileiros“? E, por residirmos na área de influência dos EUA, a sinalização deste movimento já havia sido dada de forma imediata com o apoio irrestrito aos resultados das eleições presidenciais brasileiras. Entenda-se: o diferencial da política externa Norte-Americana, na ordem mundial emergente, baseia-se no seu alegado predomínio moral pela defesa da democracia contra seus contendores atuais, como a China, Rússia, Pérsia e Turquia.

Abre-se, pois, uma oportunidade para o Brasil e que demandará muita inteligência política e diplomática ao manejar os equilíbrios dos interesses nacionais e do povo brasileiro, nesta ordem, quando o Brasil é chamado a se mover das margens para o centro, estendendo o seu peso e tamanho ao novo protagonismo e responsabilidades vindouras. Nestes passos, estão as reformas que nos levariam a OCDE – o início da despedida da nossa longa adolescência política em direção a um lugar de maturidade do xadrez mundial para onde estaremos sendo inexoravelmente seduzidos e atraídos.

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