Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo (12/12/2022)
Alan Morici
Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo (12/12/2022)

Um dos males que afetam o Turismo no Brasil é o preconceito. Tenho dito isso sempre e repeti mais uma vez, recentemente, em entrevista que concedi às “páginas vermelhas” da revista Economy&Law, publicação que tem como maior público empresários, juristas e políticos do Brasil. A questão levantada pelos jornalistas da revista foi a seguinte: “A proposta de legalização de cassinos integrados a resorts pode alavancar o Turismo brasileiro?”

Apesar da minha resposta afirmativa – e com a ressalva de que isso não significa que não devamos tratar da questão com a cautela e os cuidados necessários - coloquei mais uma vez que o Brasil é um país pleno em preconceitos em relação ao Turismo, que precisam ser superados. Um exemplo claro disso são os hotéis dentro de parques nacionais, que é uma prática comum no mundo todo, e aqui no Brasil temos raríssimos casos, como no Parque Nacional de Itatiaia, em que um hotel foi construído antes da área virar parque, em 1931, e principalmente o Hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu, que é um dos melhores hotéis da América Latina, mas foi inaugurado em 1958! Desde então, não temos mais hotéis relevantes dentro de nossos parques. Atraso e preconceito são velhos companheiros de viagem no nosso país.

Uma situação semelhante acontece com a questão da legalização dos cassinos – é preciso analisar com cuidado os muitos efeitos positivos e encadeados. Principalmente se for seguida a fórmula proposta pelo projeto de lei mais avançado tramitando no Congresso, que autoriza os resorts integrados a cassinos, grandes empreendimentos hoteleiros em que os cassinos não poderiam ocupar mais de 10% da área total, que é bastante equilibrada. Não podemos esquecer o papel dos cassinos da Urca e Quitandinha na formação da classe artística e “show business” brasileiro nos anos 1940, e a forma como os novos investimentos poderiam alavancar e promover o turismo, entretenimento e toda uma rede de serviços

O que precisa ser combatido é o jogo ilegal, a evasão de recursos do jogo on-line que se propõe taxar, e outros jogos não regulamentados. Vejam que mesmo a China considera os cassinos fundamentais para a sua estratégia de Turismo, razão pela qual incentiva uma das melhores estruturas do mundo, em Macau. Assim, os que jogam legalmente jogam no próprio país. Ou seja, eles não tiveram medo, e sim coragem.

O mesmo raciocínio usei quando da pergunta “o senhor fala bastante em parques naturais como grandes aliados do turismo. No Brasil há inúmeros parques, muitos desconhecidos e com pouca visitação. Como reverter?” Respondi que o Brasil está entre os três países com maior potencial de Turismo natural do planeta, segundo o World Economic Forum - na verdade, sabemos que é o número um. Perdemos duas posições na era Bolsonaro. Ao redor do mundo, grandes parques naturais funcionam há décadas como destinos turísticos que atraem milhões de turistas todos os anos. Os parques fazem parte do segmento do turismo natural, com uma demanda crescente em São Paulo e em todo o Brasil, mas estão ainda subutilizados.

São áreas com um enorme potencial para lazer, educação ambiental e entretenimento sustentável. Em São Paulo melhoramos a infraestrutura para receber os turistas em nossos parques, realizamos concessões para exploração de serviços em condições competitivas e sustentáveis e abrimos espaço para novos equipamentos turísticos, como teleféricos, pontes, skywalks, tree top skywalks e a hotelaria para pernoite dentro dos parques, como já citei o exemplo do Hotel das Cataratas.

Novamente, o que falta fazer: um planejamento integrado, com visão madura e adulta para estas áreas. O Brasil deve ser o país dos “Parques para o Planeta”.

Outro paradoxo do Turismo brasileiro tratado na entrevista à Economy&Law foi o de que os brasileiros gastam muito mais no Exterior do que estrangeiros gastam em turismo no Brasil. Os jornalistas me perguntaram se não há como esses brasileiros também consumirem mais turismo internamente. Minha resposta foi a de que há um grande espaço para a substituição competitiva de importações no Turismo.

Por exemplo, os brasileiros viajam muito para o exterior para visitar parques temáticos e de lazer. Em São Paulo, a Lei dos Distritos Turísticos e os Distritos por nós instituídos, Serra Azul, Olímpia e Andradina, caminham nesse sentido. No governo Temer, retiramos os impostos na importação de equipamentos para parques temáticos sem similar nacional; da mesma forma, estimulamos setores importantes que precisam crescer, com o fim de exigências como a de 100% de tripulação brasileira em cruzeiros marítimos e a abertura do capital das companhias aéreas.

Tanto no segmento de luxo, em resorts, parques naturais, temos potencial para crescer no mercado doméstico. Precisamos ter preço e qualidade em bom termo para atrairmos o turista brasileiro de todos os níveis de poder aquisitivo, também aquele que gasta no exterior. Mas, para isso, precisamos em primeiro lugar abandonar preconceitos; e investir com trabalho, planejamento e ações de governo – em parceria com a iniciativa privada - em todos os setores do Turismo, para fazer o brasileiro conhecer, gostar e viajar pelo Brasil.

Na mesma linha de pensamento, não posso deixar de comentar como nos causa estupor e susto quando se observa que as eleições nacionais ocorreram sem maior menção ao Turismo, mega potencial para o desenvolvimento e geração de empregos para o futuro do Brasil.

E também continua a causar espanto quando nas transições de governo, como agora, e com o país em extrema dificuldade para fechar suas contas, pouco ou quase nada se fale sobre melhorar o ambiente para investimentos, no Turismo, como em Energia e Infraestrutura. Do que se fala no Brasil? Dívidas, juros, falta de dinheiro e popularidades; fala-se muito do círculo vicioso, mas muito pouco em sair dele.

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