Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo (05/12/2022)
Alan Morici
Vinicius Lummertz é ex-ministro do Turismo (05/12/2022)

“Não teremos um Turismo de massa no Brasil sem uma classe média forte”. Fiz essa afirmação recentemente em entrevista que concedi às “páginas vermelhas” da revista Economy&Law, publicação que tem como maior público empresários, juristas e políticos do Brasil. Foi um dos argumentos que usei para responder à questão levantada pelos jornalistas da revista: “Com o crescimento do Turismo teríamos impactos sociais importantes?”

Minha resposta foi positiva, mas lembrei que se quisermos ver um país mais justo, teremos que aumentar salários e isto se faz aumentando a demanda pelo trabalho e melhorando a produtividade. Aliás, como a discussão política no Brasil por muitas vezes deseduca em vez de educar, são poucos os que falam na relação entre produtividade e ganho social – como um país que tem uma produtividade per capita de ¼ dos países desenvolvidos pode sonhar viver nos mesmos patamares? Daí emerge o pesadelo brasileiro.

Repito: não teremos um turismo de massa no Brasil sem uma classe média forte. E não se constrói classe média forte sem aumento de produtividade. A produtividade e a escala são fundamentais para podermos ser mais competitivos em preços no mercado internacional, é um mercado muito competitivo, e com isso, além de trazermos turistas estrangeiros, fazermos com que mais brasileiros tenham acesso ao Turismo. Lideranças como a Chieko Aoki e Luiza Trajano defendem muito esse ponto, de um turismo mais eficiente e acessível.

Mas não é possível mudar as consequências sem mudar as causas. Nisso, o Turismo pode ajudar muito, ao gerar empregos e compensar o aumento de automação e mecanização que é natural em outros setores. Então, precisamos desamarrar e apoiar o Turismo do Brasil também por uma questão social. Se hoje temos o maior potencial, o ambiente de negócios ainda está entre os piores do mundo.

Enquanto isso, os líderes mundiais do Turismo enxergam o Brasil como um dos cinco maiores potenciais do planeta. Comecemos com uma pergunta simples: quantas centenas de bilhões de dólares deixam de ser investidos no Brasil todos os anos, por questões burocráticas e de falta de eixos de prioridades de país? E isso não apenas no Turismo diretamente, mas também em infraestrutura, de forma geral.

Neste ponto os jornalistas da Economy&Law me questionaram se o conceito de “Economia do Visitante” engloba tudo o que o Turismo vem se tornando no planeta. Disse a eles que esse novo conceito que estamos ajudando a difundir no Brasil traduz as possibilidades e a dimensão que o Turismo tem atingido e ampliará nos próximos anos. Significa que o Turismo potencializa não apenas a Economia do Turismo em si, com suas atividades diretas, indiretas e induzidas, mas também proporciona escala para muitos outros empreendimentos a partir dos visitantes e turistas.
Esportes, entretenimento, festas e eventos de grande porte, que acontecem porque contam com a adição do público e movimento proporcionado pelo Turismo, viabilizando a sua realização: são os casos da F1, dos Congressos e Feiras, de festivais como o Rock in Rio, Lollapalooza e o The Town, que será realizado em São Paulo. Tudo isso é Economia do Visitante, que inclui ainda uma multitude de serviços de apoio, incluindo publicidade, consultoria, inteligência de mercado, possibilitados por esta escala econômica adicional que o Turismo proporciona.

Muitos falam da recuperação que teve a cidade de Nova Iorque – mas isso não seria possível sem os US$ 70 bilhões que são trazidos por 65 milhões de visitantes anualmente. Os visitantes no Turismo funcionam também como multiplataforma para toda a economia, inclusive para as indústrias. Um caso brasileiro, a Serra Gaúcha, é onde se vê o Turismo elevando e potencializando toda a indústria da região.

Esse pensamento sobre a Economia do Visitante levou à questão seguinte: o desenvolvimento do Turismo no setor privado, os novos modelos de negócio, que são tendências para o futuro. Na minha opinião, o Turismo no Brasil obrigatoriamente terá que se desenvolver de forma cada vez mais integrada com outros segmentos de negócio, como acontece nos melhores destinos do mundo; e o primeiro a propor isso deve ser o setor público. Esta sensibilidade deve ser aprimorada, pois as cadeias produtivas vivem emperrando no Brasil.

A produtividade dos sistemas sendo baixas, os custos sobem. Os transportes aéreo, rodoviário, ferroviário e a navegação marítima e fluvial, por exemplo, não podem ser pensados como segmentos estanques e sim como a conectividade integrada, uma indústria de bilhões que é fundamental para a economia global e brasileira, aonde o Turismo e as Viagens são esteios e protagonistas.

Outro exemplo é o segmento imobiliário integrado ao Turismo, dominante hoje globalmente, com participação de fundos de investimento, de um planejamento integrado de hotelaria, moradia, parques, atrações, propriedade compartilhada. Não tratamos mais do Turismo à moda antiga e sim da “Economia do Turismo”, que se define pelo sentido novo da “Economia do Visitante” e tudo que daí emerge.

Porém, enquanto o Brasil não enxergar tudo isso, continuará a ser apenas um dos grandes potenciais turísticos do planeta. Há como fazer, é possível - e mostramos como é exequível nos nossos quatro anos de gestão na Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo.

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