Vinicius Lummertz
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Vinicius Lummertz

No início de outubro do ano passado assinei aqui no IG uma coluna com o título “O dever do MDB e PSDB para com o Brasil”. No texto eu alertava sobre o Brasil: ou retomamos o rumo em que fomos colocados em 1994 pelo Plano Real do Governo Fernando Henrique Cardoso, ou poderá se transformar numa Argentina, país que caminhou do desenvolvimento para o subdesenvolvimento.

De lá para cá, apenas quatro meses se passaram e as coisas ficaram muito piores. Tecnicamente, estamos em recessão e a previsão de crescimento do país para 2022 despencou para zero. Isso que estamos em fevereiro ainda.

Por isso preciso voltar a bater firme nesta tecla: retomar o rumo que o PSDB traçou para o país em 94 – extirpando o maior câncer nacional, a inflação, que agora nos assombra com Bolsonaro – é um dever cívico. É uma questão de resgatar os princípios que nos levaram à redemocratização, em 1985 e que construíram a Constituição de 1988.

E esses princípios nasceram dentro do então PMDB, central no processo de redemocratização entre 1983 e 85, pela formação da Aliança Democrática, quando a sigla atraiu quadros importantes do PDS, a antiga Arena, e que no futuro seria o PFL, que deu origem ao DEM e ao “novo” PSD. Unida pelo país, a Aliança Democrática não conseguiu fazer passar as eleições diretas para presidente da República, mas venceu as indiretas no Congresso, com Tancredo Neves. Na redemocratização, houve uma divisão do PMDB, que foi o PSDB, e os dois nunca mais marcharam unidos numa mesma chapa nacional. Isso é importante que se recupere no Brasil.

Nas últimas semanas, têm avançado os entendimentos para a criação de uma federação partidária entre MDB e PSDB. É importante que a gente entenda do que se trata. O que conhecemos hoje são as coligações, temporárias e que se extinguem após as eleições. Os partidos ainda podem se coligar para lançar candidatos nas eleições majoritárias: para prefeito, governador, senador e presidente da República. Nas eleições proporcionais (vereador, deputado estadual, deputado distrital e deputado federal), não há possibilidade de coligação. Os partidos que quiserem se unir antes da eleição devem formar federações.

As federações têm natureza permanente — são formadas por partidos que têm afinidade programática e duram pelo menos os quatro anos do mandato. Se algum partido deixar a federação antes desse prazo, sofre punições, tais como a proibição de utilização dos recursos do Fundo Partidário pelo período remanescente. As federações devem ter abrangência nacional, o que também as diferenciam do regime de coligações, que têm alcance estadual e podem variar de um estado para outro.

A união do MDB e do PSDB numa federação ou em coligação seria o pilar-base da chamada 3ª Via. Juntos, em todos os Estados e na chapa majoritária para presidente da República, esses partidos têm dimensão, passado, importância e força para provocar uma virada histórica nos destinos do Brasil, como fizeram nos anos 80. São capazes de atrair as forças e partidos que se encontram “flutuando” hoje nessa 3ª. Via, junto com um eleitorado estimado de 70 milhões de votos – que não quer nem Lula, nem Bolsonaro.

Na coluna de outubro, escrevi: para os que consideram que a recomposição de uma Aliança Democrática é utopia, lembro que no Brasil do início dos anos 80 a repressão da ditadura apagava qualquer luz de esperança de vermos o país voltar ao Estado de Direito. Porém, mesmo reprimido, o PMDB acendeu uma pequena chama, que depois iluminou todo o país com a campanha das Diretas Já.

E encerro este artigo como encerrei aquele. A história faz com que MDB e PSDB tenham um dever para com a Nação: que eles acendam mais uma vez a luz e iluminem o caminho. Este é o papel de líderes humanistas pautados em desapego, grandeza, risco e prêmio. Prêmio para um povo sofrido, que vive num país rico e que merece não ser enganado pelas miragens do populismo.

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