Vinicius Lummertz é secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo e ex-ministro do Turismo
Arquivo pessoal
Vinicius Lummertz é secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo e ex-ministro do Turismo

Confesso que a intenção dessa coluna era mostrar cabalmente, com números, dados e informações a relação direta entre vacinação e as internações e mortes nesta “onda Ômicron” que assolou o planeta. Mas uma declaração do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga , resumiu o assunto: “Aqueles que se internam nos hospitais ou nas unidades de terapia intensiva, a grande maioria são indivíduos não vacinados”, afirmou. De fato, o maior hospital de São Paulo, o Hospital das Clínicas, tem mais de 80% de não vacinados entre as suas internações.

Ou seja, o próprio ministro oscilante negacionista reconhece o óbvio: que a vacina protege contra essa nova variante também e que os não vacinados é que são o grande problema. Agora, imagino o tamanho da bronca que ele tomou do chefe por causa dessa declaração - mas meu palpite sobre isso deixarei para a conclusão desse texto.

Ora, se até o fraco ministro admitiu o valor das vacinas, é difícil aceitar que um dos maiores ídolos do esporte mundial, o tenista Novak Djokovic , não tenha entendido, ele que é hoje o número 1 do mundo – e mostra que o apagão moral, mesmo sendo de uma minoria, não se dá apenas no Brasil.

Djoko, depois de muito insistir em entrar no país sem se vacinar para jogar o Aberto da Austrália - do qual é nove vezes campeão - foi finalmente deportado pelos australianos. É, sem dúvida, uma das polêmicas mais discutidas no planeta nos últimos dias. Para mim, está claro: Djoko tem todo o ‘direito’ de não se vacinar, desde que não tenha contato com outras pessoas.

Por outro lado, a Austrália tem todo o direito de proteger seus cidadãos e evitar que sejam contaminados por alguém que inclusive escondeu que havia estado na Espanha antes de embarcar para o território australiano. É fraude, é mentira.

E a coisa na Austrália está feia: a Ômicron está ‘viralizando’, com o perdão do trocadilho, e o que está salvando os australianos é o que está salvando os brasileiros: a vacina.

E aqui eu digo a vocês: é tudo uma questão de (bom ou mau) exemplo. Djoko, com todo o respeito, pode continuar a ser o melhor do mundo, mas já perdeu a admiração de muitos. O número 1 do tênis precisa compreender que a consagração não é apenas uma bela carreira, mas as atitudes e comportamento ao longo da vida - o conjunto da obra. O preocupar-se com os outros.

Vejam Pelé e Maradona. Quando foi eleito Atleta do Século 20, com certeza os jurados não levaram em conta apenas a carreira excepcional do brasileiro – sem dúvida o melhor de todos os tempos - como também seu comportamento diante da vida. Ainda em 1969, ao fazer seu milésimo gol no Maracanã, o Rei do Futebol o dedicou às crianças do Brasil, pedindo que essas crianças - hoje gente com cerca de 60 anos de idade - pudessem ter um futuro melhor, com educação, saúde e oportunidades. Depois de encerrada a carreira, Pelé infelizmente pisou na bola ao não reconhecer uma filha fora do casamento – e vai carregar esse mau exemplo para o resto da vida. Quanto a Maradona, bem…. fui admirador do seu futebol, mas com certeza não foi bom exemplo para ninguém, nem mesmo para o sofrido povo argentino que o idolatra.

Bom, para finalizar, como prometi, vou dar meu palpite sobre o tamanho da bronca que o ministro Queiroga tomou do chefe dele depois ter declarado que a maioria dos internados pela Ômicron são os não vacinados. No mínimo, foi ameaçadora. Tanto que no dia seguinte Queiroga voltou suas baterias contra o arqui-inimigo dos negacionistas, o governador João Doria, que vacinou a primeira criança - um indígena - de 5 a 11 anos no país, depois de muita resistência do chefe do ministro.

Queiroga atacou Doria com fúria no Twitter: “Acha que isso vai tirá-lo dos 3%. Desista!”. Desista de vacinar as pessoas, ele quis dizer? Pior que o ato falho de acusar o governador de SP de estar simplesmente fazendo a coisa certa, tais declarações são deformações retóricas graves.

Tanto o desatinado bolsonarismo quanto o equivocado tenista e superatleta do tênis vivem da mesma deformação de que a liberdade individual estaria acima de tudo, até por caprichos, da vida de todos os demais seres humanos.

Assim foi durante a escravidão no Brasil, esticada ao máximo pelos que a defendiam como um direito e uma liberdade de posse pelo proprietário. Usam o liberalismo às avessas, para Bolsonaro não sair do palanque, para Queiroga continuar ministro e Djoko viver num Olimpo esportivo descolado da vida real.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!