Um dos prédios do instituto que sofreu impacto direto no dia 15 de junho
Cortesia do professor Eldad Tzahor
Um dos prédios do instituto que sofreu impacto direto no dia 15 de junho

Durante a Guerra dos 12 Dias, nome atribuído ao  conflito entre Israel e Irã com “participação especial” dos Estados Unidos, além do programa nuclear iraniano foram destruídas décadas de trabalho e de coleta minuciosa de amostras de tecidos, de DNA, de tumores e de tudo o mais que se faz necessário para alavancar as pesquisas sobre tratamento e cura do câncer.

Esse foi só um dos impactos da queda de dois mísseis balísticos sobre o Instituto Weizmann de Ciências, um dos mais avançados centros de pesquisa de Ciências da Vida e Ciências Computacionais do mundo, localizado no centro-sul de Israel.

O Weizmann foi criado em 1934 – ou seja, ainda durante o Mandato Britânico, simbolizando a importância da ciência como um dos alicerces do futuro Estado de Israel – pelo cientista judeu Chaim Weizmann, que depois viria a se tornar o primeiro presidente do país. De lá saíram uma ganhadora do Prêmio Nobel de Química de 2019, Ada Yonath, e três premiados com o Turing, considerado o Prêmio Nobel da Computação. Também ali, em 1955, foi construído o primeiro computador eletrônico de Israel, em 2004 o primeiro computador biológico e, em 2022, o primeiro computador quântico. Descobertas feitas no instituto levaram ao desenvolvimento dos mais utilizados medicamentos contra esclerose múltipla e câncer, Copaxone, Rebif e Erbitux.

Essas são apenas amostras do que é feito por lá – o instituto registrou, até 2020, mais de 15 mil patentes, segundo o site da organização.

Perda incalculável

Serão necessários anos e cerca de 700 milhões de dólares para reconstruir os 45 laboratórios que foram destruídos. O Weizmann conta com 3,8 mil pesquisadores, pós-doutorandos e estudantes. Destes, cerca de 500 cientistas perderam suas “casas” e longos anos de pesquisa, em função da destruição de materiais e também de equipamentos de alta precisão. Do edifício que concentra as pesquisas de estudo da vida não restou nada, assim como de um prédio em fase final de construção. Outras dezenas de edificações do instituto foram danificadas em diferentes graus de gravidade – a onda de ar criada pela queda de um míssil balístico tem uma força destruidora fenomenal.

Muito embora o israelense não se deixe abater e corra para recuperar o que foi destruído nesta curta guerra com o Irã – incluindo os próprios cientistas, que no mesmo dia empunharam vassouras e pás na tentativa de recuperar qualquer artefato possível de seus laboratórios –, a destruição causada ao Weizmann causa especial dor ao israelense. Isso se dá por conta de sua história e de sua vocação: lar dos maiores cientistas internacionais (literalmente, já que muitos deles vivem no próprio campus, que funciona como uma minicidade), sua missão é impulsionar a medicina e as ciências exatas. Ou seja, um local dedicado à preservação e prolongamento da vida foi atingido por um regime cuja marca registrada é a repressão, o obscurantismo e a destruição.

Perdas fenomenais

É mais fácil calcular o prejuízo material. Para citar um único exemplo, meio milhão de euros foi o valor pago por um único microscópio importado da Alemanha. Quatro meses foram necessários para que ele fosse montado e configurado no instituto. O prejuízo imaterial é bem mais difícil de ser precificado, a exemplo do grupo de 10 pesquisadores focados em estudos de neurobiologia que há pesquisa, há anos, o que leva o cérebro a desenvolver condições como autismo, esquizofrenia e outras doenças neuropsiquiátricas.

Um dos laboratórios antes dias antes da destruição
cortesia do professor Oren Schuldiner
Um dos laboratórios antes dias antes da destruição

Suas experiências são realizadas em cérebros de moscas-das-frutas, de forma que um processo que acontece ao longo de 20 anos em um ser humano possa ser observado em dias. Na explosão, as centenas de moscas modelo, criadas ao longo de anos, desapareceram como um lembrete de como a ciência depende de continuidade, paciência e condições altamente específicas que, no entanto, podem ser apagadas em segundos. Nada restou desse laboratório. Como consolo, serve o fato de que outros centros internacionais de pesquisa já estão em contato com o grupo para compartilhar suas amostras.

É comovente ver como o mundo da ciência se mobilizou com rapidez, guiado por solidariedade e colaboração internacional. Exatamente o significado oposto do que representa, hoje, o regime fundamentalista iraniano.

Talvez esta seja a amostra mais clara de como se parece a luta entre o bem e o mal.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!