
Minha vida toda associei a ressaca ao abuso alcoólico: você acorda e percebe seu corpo cansado e a cabeça girando, com aquela tremenda vontade de não sair da cama. Mas foi exatamente com essas sensações que 10 milhões de israelenses acordaram ontem, Após a primeira noite das últimas 12 em que puderam dormir sem os intervalos assustadores causados pelos alarmes antiaéreos que avisavam sobre o lançamento de mais mísseis balísticos iranianos contra Israel.

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Uma amiga, mãe de três meninas, resumiu o sentimento em uma mensagem curta: “Que coisa insana foi levantar hoje e mandar as crianças para a escola como se nada tivesse acontecido”. Porque israelense, para quem não sabe, é assim mesmo: vive na velocidade da luz, mal parando para processar os acontecimentos.
Felizmente, foi um conflito curto. Teria se estendido mais, caso o presidente americano Donald Trump não tivesse esbravejado com ambos os lados, impondo o cessar-fogo que, agora, precisa ser costurado e transformado em um acordo. Os israelenses aguardam agora as cenas dos próximos capítulos, que certamente serão confusos, tempestuosos e cheios de imprevistos, como tudo o que acontece nessa parte do mundo. E ainda resta descobrir o quanto seu principal objetivo foi alcançado: a destruição do programa balístico e atômico do Irã. Trump encerrou o conflito antes de fosse possível avaliar, de fato, o grau de destruição do programa nuclear iraniano.
Por ora, o israelense não volta para uma rotina normal como em outros países do mundo, já que a guerra em Gaza continua. Ardemos de esperança que o enfraquecimento do Irã abra uma porta para seu fim, com a libertação dos 50 reféns israelenses que continuam prisioneiros do Hamas após 630 dias.
Resumo da ópera
Se eu pudesse apontar os destaques positivos destes 12 dias de loucura, diria o seguinte:
- Donald Trump provou que não mentiu quando, durante a campanha, deixou claro estar ao lado de Israel (e merece nossos elogios, mesmo que saibamos que ele também é um grande interessado em manter o Irã longe de uma arma nuclear). Ao liberar armamentos e trazer o peso do exército americano para nossa região, garantiu a Israel mais segurança para finalmente concretizar o plano de ataque ao projeto nuclear e balístico do Irã. O bombardeio das usinas atômicas foi a cereja (necessária) do bolo.
- O humor como escudo: a quantidade de memes criados nesses dias demonstrou que o imbatível humor judaico não se rende jamais, mesmo nos momentos mais incertos. E ajudaram muito a aliviar a tensão destes dias e noites longuíssimos.
- Todo mundo correndo para casa: assim como ocorreu na semana do massacre perpetrado pelo Hamas, em 7 de outubro de 2023, os israelenses lutaram com todas as suas energias para voltar para Israel. Cerca de 140 mil ficaram “presos” fora do país durante os dias em que o aeroporto permaneceu fechado. Alguns poucos milhares conseguiram de fato chegar, seja por navio (do Chipre), seja por terra (a partir do Egito ou da Jordânia). Essa é uma cena que não se assiste por aí e, nos próximos dias, todos finalmente serão trazidos de volta para casa.
- A força do voluntariado: essa atividade tão desprendida e amorosa, novamente manteve nossos corações aquecidos. Milhares de pessoas — entre elas muitos jovens que estavam temporariamente sem aulas e sem trabalho, uma vez que a rotina foi suspensa por aqui — correram para as áreas atingidas pelos mísseis iranianos para ajudar a recuperar jardins, carregar malas, consertar janelas e tudo o mais, no sentido de apoiar a rápida reconstrução do que não foi completamente destruído.
- Rara união política: nossos políticos temporariamente conseguiram deixar as bravatas de lado e se uniram em torno do objetivo comum de enfraquecer o regime iraniano, aqui chamado de “a cabeça do polvo” (cujos tentáculos são os grupos terroristas que financia e treina: Hamas, Houthis e Hezbollah, que têm em comum o culto à morte, a loucura e o nome começando com H). Posso até torcer publicamente para que essa união continue, mas estaria torcendo em vão...

Como bênção para Israel e para mim mesma, desejo que estes sejam nossos últimos dias de guerra, e que esse esforço nos ajude a receber de volta os 50 reféns que ainda esperam, precisam e devem voltar para casa. Porque podemos nos recuperar de quase tudo, mas da ausência deles, não.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG