No dia 7 de outubro, o Hamas tirou de Yarden Bibas (quase) tudo o que ele tinha na vida: sua esposa Shiri, seus dois bebês — Kfir, de 9 meses, e Ariel, de 4 anos —, sua casa e sua liberdade. Ele manteve consigo, no entanto, seu instinto de sobrevivência, o qual o permitir manter-se vivo pelos 484 dias de cativeiro em Gaza e que agora o conduz na longa jornada pela recuperação emocional, psicológica e física.

Toda a família foi sequestrada do kibutz Nir Oz. Yarden foi imediatamente separado de Shiri e dos meninos. A cena da mãe desnorteada, sendo conduzida por homens armados enquanto segurava os dois bebês ruivos no colo, foi uma das que mais marcaram a memória de todo o mundo. Hoje sabe-se que os três foram sequestrados pelo grupo terrorista Kataib Mujahadin, e não pelo Hamas (há diversos grupos terroristas em atividade na Faixa de Gaza).

Em Israel, todos aguardaram a libertação dos três com enorme tensão durante mais de 500 dias, se esforçando para não perder a esperança. Shiri, Kfir e Ariel retornaram, no entanto, em caixões pretos, com alças baixas (propositalmente, para serem conduzidos próximo ao chão). O corpo de Shiri foi entregue somente no dia seguinte — em seu lugar, foram primeiramente enviados os restos mortais de uma mulher palestina não identificada. O Hamas alegou ter sido um equívoco não proposital.

Um mês depois do sequestro, em novembro de 2023, o Hamas havia comunicado a morte dos três como resultado de um ataque aéreo israelense. Não foi o que aconteceu: segundo legistas israelenses, os terroristas assassinaram os dois meninos a sangue frio, com as próprias mãos. Já a causa da morte de Shiri não foi revelada até o momento.

Yarden, serralheiro de 34 anos, foi libertado 20 dias antes da confirmação da morte dos três e de seu retorno a Israel.

Campanha para reconstruir sua vida

A família de Yarden promoveu uma campanha de levantamento de fundos para dispor de recursos financeiros que o permitam dedicar-se à sua recuperação e também estabelecer um memorial pra Shiri e as crianças. Em dois dias, 30.979 pessoas de todo o mundo doaram para a campanha: a meta era chegar a 1 milhão de dólares, mas ultrapassou em 70% esse valor. O pai de Yarden, Eli, foi o redator da campanha: “Yarden precisará de apoio professional para resgatar a saúde mental e recursos financeiros para gradualmente retomar algum senso de normalidade. Todo o seu mundo foi devastado: ele perdeu sua família, sua casa, todos os seus pertences. Ele perdeu tudo. Cada dia, cada minuto é um desafio”, escreveu.

Quanto à retomada do cotidiano, a irmã de Yarden, Ofri, conta que ele está reaprendendo a se alimentar de forma equilibrada e se esforça para sair para caminhadas diárias com o pai. Em uma entrevista, ela detalhou: “Temíamos que ele fizesse algo contra si mesmo caso se confirmasse a morte de Shiri e das crianças. Ficamos surpresos com a força com que ele saiu de Gaza. Pensamos que ele chegaria quebrado, destruído, mas veio com forças que não tinha antes. Isso nos impressiona todos os dias e nos dá força para lutar por ele e por sua vida.

“Ele passa todo o tempo com amigos e com a família. Lembro que quando sentamos e conversamos pela primeira vez, eu não conseguia acreditar – como era possível que ele estivesse em um túnel apenas três horas antes daquele momento? Tanto para ele quanto para nós, levará muito tempo para compreender tudo isso. Até mesmo os psicólogos e psiquiatras que nos apoiam estão aprendendo coisas novas por meio dos reféns que retornaram.

“Ainda no cativeiro, ele escolheu a vida. Apesar da dor, da ausência e da imensa saudade, Yarden decidiu que quer viver. O objetivo da campanha de arrecadação que lançamos é permitir que ele faça isso."

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