Hoje saí com Miney, cachorra da minha filha, após muito tempo sem levar caninos para passear. Logo lembrei de alguns detalhes que não mudam com o passar dos anos: por que o cão se irrita loucamente com algum colega preso atrás de um portão e esbraveja com as duas patas da frente agressivamente fixadas no portão do inimigo? É mais encenação com o pelo da nuca arrepiado, do que inimizade irretratável. O paradoxo é que, na mesma rua em que fez um escândalo com um cão, ignora outro deblaterando contra ele?
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Por que será que alguns cheiros que ele detecta no terreno façam com que estanque abruptamente, dando um tranco no ser humano da outra ponta da corrente? Não há o que o tire daquele aroma que o interessou, focinho grudado no chão, inamovível.
Ao contrário do gato, que joga terra para trás para cobrir direitinho suas necessidades, o cão joga terra, pedrinhas e poeira para trás, com as quatro patas, de forma aleatória, como se cumprisse aquele gestual por obrigação, sem o sentido prático de cobrir o que obrou?
Por que será que o cachorro, após encontrar o local em que deve marcar seu território, roda, roda, roda, em círculo fechado, e só então deixa cair o seu precioso xixi, mas só um pouquinho, para ter mais munição pra frente?
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Se for pra fazer o número dois, então, pelo menos mais três voltas antes de se aliviar. Quando recebi a Miney com sua respectiva coleira, notei dois saquinhos de plástico presos nela. Deduzi que minha filha queria me passar a segurança de que não ficaria impossibilitado de recolher a mercadoria, mesmo em excesso.
Acontece que, logo ao sair, a cachorra fez uma vez, depois de mais uma quadra, fez d e novo. Comecei a ficar preocupado. Não deu outra, mais uma quadra e lá está ela se espremendo de novo, mais material direto ao chão. E os dois saquinhos plásticos já tinham ido. A sorte é que ela soltou o último pedaço junto a um jardinzinho.
Como o material parecia seco, olhei pros lados, não divisei nenhuma câmera, e então, com o lado de fora do meu mocassim, empurrei a coisa para o jardinzinho. Saí com culpa, olhando para o céu e assobiando, enquanto ela me seguia, indiferente à minha aflição.
Agora me diga uma coisa, você que também passeia com seu cão: por que pegar cocô quentinho dá mais nojo que o frio?