Embora encabulado, resolvi transcrever a preciosa e espontânea carta que recebi de um espectador da TV Cultura, de onde saí em 1994.
Confira abaixo:
"Tomo a liberdade de escrever essa carta em nome de uma geração inteira que é grata ao senhor, que nem tem idéia disso. A 'geração X', dos nascidos entre os anos de 1960 e 1980 (...).
Quando o senhor assumiu a presidência da Fundação Padre Anchieta, em 1986, nossos aparelhos de televisão tinham um selector giratório de canais com poucas opções. Além do canal 3, que servia para ligar os telejogos, havia transmissão nos canais 2, 4, 5, 7, 9, 11 e 13. A FPA, mantenedora da TV Cultura , era canal 2. (...) Se a TV Cultura já vinha nos preparando para a alfabetização com o 'Catavento' e o 'Curumim', seus sucessores como o 'Rá-Tim-Bum' e 'X-Tudo' mantiveram esse padrão (). O 'Eureka!' transformava a TV numa feira de ciências ao vivo, colocando cientistas e inventores lado a lado com alunos fazendo experiências e demonstrações científicas até então inéditas. E, no sábado, o 'Enigma' nos colocava para pensar e torcer em meio a questões de história e geografia ().
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Conforme fui crescendo, parecia que ia sendo acompanhado pela programação. Primeiro veio o 'Revistinha' (). Depois, o 'Matéria Prima', e o 'Fanzine', quando um pouco maior eu já queria refletir sobre o mundo e suas notícias. O mesmo acontecia com o entretenimento: passei dos desenhos para o 'Mundo da Lua', desse para o inesquecível 'Anos Incríveis', até chegar ao 'Confissões de Adolescente', às vésperas do meu vestibular e um ano antes de sua saída da FPA.
Por falar em vestibular, lembro de um professor de cursinho citando 'O mundo de Beakman', a reunião mais perfeita entre humor e rigor científico que já vi. Mas esse era só um exemplo. Show de ciência, 'Olho vivo', 'O Professor', e, é claro, 'Vestibulando' não só me ajudaram a entrar na faculdade, como foram responsáveis por me fazer apaixonado por divulgação científica. (). Agradeço mais uma vez por mim e pelos milhões de pessoas que tiveram o privilégio de assistir à TV Cultura nessa época. Tenha certeza de que nem eu, nem metade das pessoas da minha geração seríamos o que somos se não fosse por seu trabalho.
Muito obrigado.
Daniel Martins de Barros"