Luiz André Ferreira

Do ódio virtual à realidade: ONGs reagem às fake news

Teorias conspiratórias, desinformação e estigmas pautaram o debate sobre as ONGs nas redes sociais

Foto: Pixabay
Do ódio virtual à realidade: ONGs reagem às fake news


As Organizações Não Governamentais estão entre as principais vítimas do avanço de fake news , o florescer dos negacionistas e a onda de ataques sem provas ou evidências. Esses "escritórios do ódio" atuam livremente no mundo digital, aproveitando-se da dificuldade de localização, de responsabilização e da lentidão nos processos desses atos criminosos no ambiente cibernético.


Teorias conspiratórias, desinformação e estigmas pautaram o debate sobre as ONGs nas redes sociais dos brasileiros, conforme aponta levantamento realizado em 2023 pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas. O estudo foi conduzido com dados das principais plataformas digitais, como Facebook, Instagram, X, YouTube, WhatsApp e Telegram. 

Somente no Facebook, o tema gerou 12,5 milhões de interações, com picos de postagens nos dias 27 de abril, 21 de maio e 30 de junho de 2023. O antigo Twitter, agora rebatizado de X, é conhecido por seu perfil de mensagens mais agressivas. No seu feed, o sentimento geral é negativo: 63% das menções tinham um tom desfavorável, enquanto apenas 9% apresentavam conteúdo positivo.

"Como o relatório aponta, parte considerável do debate sobre ONGs está associada à polarização política do país, implicando uma interseção entre este debate e agendas políticas específicas. Discursos negacionistas de ordem científica, ambiental e climática, teorias da conspiração e agendas anti-LGBTQIAP+s são alguns elementos de potencial desinformativo evocados em críticas a ONGs", ressalta Renato Contente, um dos responsáveis pela pesquisa. 

Na plataforma de vídeo YouTube, as temáticas discutidas são mais diversificadas, mas com mesmo resultado negativo para a imagem das ONGs abrangendo desde questões de transparência financeira até o papel dessas organizações em contextos sensíveis, como a atuação em territórios indígenas e na Amazônia. Como observado em outras plataformas, as opiniões sobre as ONGs estão frequentemente contaminadas pelo debates político-partidários.

"Denúncias sem evidências a respeito de tráfico sexual e de órgãos de crianças, associação criminosa com milionários e governos estrangeiros e suposta conivência do atual governo em relação a esses alegados crimes compõem o cenário de desinformação sobre as ONGs", afirma Contente.

A pesquisa surge junto com o movimento coletivo  Sociedade Viva , lançado este ano por um grupo de organizações representativas do terceiro setor para dar visibilidade, transparência e criar proximidade entre a população brasileira e o impacto dos trabalhos das ONGs para a sociedade.

Quando ampliamos o olhar para além das redes sociais, as sondagens apresentam resultados mais favoráveis, evidenciando a vulnerabilidade maior do mundo digital diante das fake news . Pesquisas como a Doação Brasil 2022, realizada pelo IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, mostram que para 31% dos entrevistados, as ONGs são confiáveis e transparentes. Além disso, 67% das pessoas acreditam que as ONGs são necessárias para combater problemas sociais e ambientais.

"Em um ambiente menos contaminado por campanhas difamatórias, notamos que a visão é diferente, mas ainda assim sabemos que temos um trabalho importante a ser feito para mostrar a realidade desse universo que impacta positivamente a vida da população, ajudando em causas fundamentais, gerando renda e emprego e contribuindo para uma sociedade mais justa, democrática e verde", diz a coordenadora da Sociedade Viva, Christiane Sampaio.