Luiz André Ferreira

A exclusão de mulheres e negros na área de tecnologia no Brasil

O lado invisível do avanço tecnológico

Foto: FreePik
A exclusão de mulheres e negros: o lado invisível do avanço tecnológico no Brasil


Apesar de a maioria da população brasileira ser composta por 54,2% de indivíduos negros/pardos e 51,5% de mulheres, conforme dados do IBGE, o Brasil persiste como um país excludente para esses segmentos. Historicamente, a "abolição" dos escravos em 1888 e os movimentos feministas à partir dos anos 50, não conseguiram erradicar esses padrões, persistindo mesmo em setores que emergiram posteriormente e deveriam, teoricamente, serem livres desses comportamentos historicamente viciados.

Um exemplo emblemático desse fenômeno encontra-se na recente área de Tecnologia da Informação, onde as discrepâncias são ainda mais acentuadas. De acordo com pesquisa da plataforma Quemcodabr, apenas 32% da mão de obra nesse setor é composta por mulheres e 37% por indivíduos negros/pardos. Nem mesmo a influência econômica consegue romper esse bloqueio, visto que, segundo o IBGE, os salários de pessoas pretas costumam ser, em média, 39% inferiores. Em 2022, o rendimento-hora, em geral, da população ocupada branca foi de R$ 20,10, enquanto o da população preta ou parda foi de R$ 11,80, com disparidades ainda mais notáveis nos níveis mais elevados de escolaridade. 


Estudar mais não necessariamente melhora as condições de vida dessas pessoas, sendo que, segundo o próprio IBGE, a maior disparidade no rendimento-hora estava no nível superior completo, com R$ 35,30 para brancos e R$ 25,70 para pretos ou pardos, registrando uma diferença de 37,6%. A Tecnologia da Informação e o setor financeiro são os que mais concentram trabalhadores brancos, representando 56,6%. Mesmo recebendo salários inferiores, o modelo capitalista não se revela eficaz quando se trata de combater o racismo. A falta de oportunidades é tão evidente que, em 32% das empresas pesquisadas pela Quemcodabr, não há nenhuma pessoa negra integrada às equipes de tecnologia!

O especialista Leandro França, da ONG Escola da Nuvem, que promove a capacitação de pessoas em situação de vulnerabilidade social em Tecnologia da Informação, destaca essa discrepância: 

"Vivemos uma cultura em que os brancos são os que ocupam esses espaços, principalmente os de liderança. Então, ainda vejo a necessidade de mais mudanças." 

Além disso, o preconceito regional e a falta de oportunidades em certas regiões do país agravam ainda mais o quadro, conforme observa França: 

"Moro no Nordeste e percebo que existe uma grande diferença em relação às empresas criadas e em atividade, porque a minoria está aqui. Isso é muito difícil quando se trata de empregabilidade."

Essas preocupações são respaldadas pelo estudo "Panorama de Talentos em Tecnologia", realizado pelo Google for Startups com o apoio da Abstartups e da Box 1824. O estudo revela que 43% das oportunidades em Tecnologia estão concentradas apenas no estado de São Paulo, o que representa um desafio para a construção de talentos em escala nacional. Conforme a pesquisa "Diversity Matters Latin America", da McKinsey & Company, a riqueza da diversidade na força de trabalho é fundamental como um caminho para práticas inovadoras.