Sabe aquele ditado: a primeira impressão é a que fica? Essa frase resume bem o primeiro dia da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos atos de 8 de janeiro.
A CPMI nem teve seus trabalhos em oitivas iniciados e a polarização da comissão começou a dar as caras. Deputados das bases governista e oposição se atacaram e o tumulto está oficialmente instalado entre os parlamentares.
Os primeiros protagonistas foram Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos do Val (Podemos-ES). O primeiro atacava as articulações do governo para conseguir maioria na comissão, enquanto o segundo complementava as críticas.
Presidindo a sessão naquele momento, o senador Otto Alencar (PSD-BA) tratou de colocar 'ordem no recinto' e disse a Marcos do Val que o Senado não 'era uma delegacia'. A fala de Alencar foi vista como um recado aos bolsonaristas que tentarem tumultuar os trabalhos.
A mensagem, porém, foi visualizada e ignorada. Parlamentares que conversaram com a coluna já afirmaram que vão aproveitar as brechas para atacar o governo.
Alguns ainda estudam meios de colocar o próprio governo federal entre os investigados. A estratégia visa reduzir a pressão sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve ser convocado a depor.
Roteiro pré-definido
Na política, quando se trata de CPIs, logo vem o argumento de que "sabe como começa, mas não sabe como termina". A frase é correta, mas a CPMI deve trazer um tempero a mais.
Se a CPI da Covid no Senado os barracos entre os parlamentares eram constantes, a CPMI do 8 de janeiro deve colocar incêndio nos corredores do Congresso Nacional. Ao contrário da CPI da Covid, que mirava apenas as ações do governo Bolsonaro, a comissão dos atos antidemocráticos deve mirar a ideologia política.
Na visão de parlamentares, a comissão deve mostrar os financiadores, os envolvidos nos atos e as relações entre os suspeitos e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Se concretizado, o potencial de destruição a imagem do ex-presidente será devastador.
CPMI da pizza
A movimentação pela convocação de testemunhas para as oitivas estão dando dor de cabeça para governistas e opositores, mas apenas uma pessoa terá uma dor maior: a senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Além de ser a relatora da comissão, ela terá a missão de não fazer com que a investigação vire "pizza".
Em diversas vezes, as comissões foram usadas apenas para enfraquecer o governo ou até mesmo prejudicar algum político. Essa deverá ter um destaque diferente.
Os depoimentos podem colaborar com as investigações da Polícia Federal sobre os atos antidemocráticos e até levar a novas fases da Operação Lesa Pátria. Além disso, pode aumentar a quantidade de processos sobre o tema no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para se concretizar, porém, é necessário quebrar apenas uma barreira: a polarização.
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