Nas últimas décadas, políticos vêm utilizando as belezas do Rio de Janeiro e o espírito otimista do carioca como o biombo que esconde todo tipo de transação tenebrosa praticada na cidade e no estado. A estratégia deu certo por muito tempo. Tão certo que muitos de nós nos deixamos iludir pela noção de que tudo o que há de errado no Rio não decorre de erros locais: é apenas a manifestação local de um problema que é nacional. O Rio, nesse caso, seria apenas a vitrine onde são expostos os equívocos do país inteiro.
Cada dia, porém, fica mais difícil ocultar a realidade: males que realmente existem em outras partes do Brasil — como o descaso com a saúde pública, a falta de segurança e, claro, a corrupção — parecem encontrar no Rio o ambiente perfeito para crescer e se multiplicar. Por mais nacionais que sejam, eles são mais fortes aqui. Existem saídas para isso? Claro que sim. Mas enquanto não assumirmos nossa parcela de culpa pela situação continuaremos repetindo os erros que mergulharam o Rio no estado de calamidade em que se encontra.
Cada um precisa fazer sua parte. Nós, da rede O DIA , estamos fazendo o que nos cabe como veículo de comunicação. Desde a última quarta-feira, vimos mostrando em nossas plataformas e redes sociais, que alcançam mais de 60 milhões de pessoas em todo o país e mais de 700 mil leitores diários, lives com os pré-candidatos à Prefeitura do Rio. A intenção é abrir espaço para que todos os 15 que já se lançaram exponham suas ideias com liberdade e clareza. Faremos o mesmo nas principais cidades do estado. Com base em informações seguras e de primeira mão, o cidadão poderá escolher o melhor caminho para livrar a cidade de seus problemas.
Você viu?
“POR PARA FUNCIONAR” — Pelo que se ouviu nas primeiras entrevistas, com o ex-prefeito Eduardo Paes (pré-candidato pelo DEM) e com o economista Paulo Rabello (PSD), existe, sim, espaço para ações que permitam ao Rio caminhar com as próprias pernas. Paes, por exemplo, defende uma relação não de confronto como a atual, mas de parceria com os governos federal e estadual, mas ressalta que a prefeitura não pode fugir das responsabilidades que são apenas suas. “É preciso pôr a prefeitura para funcionar”, resume. Ele entende, por exemplo, que há espaço para a redução de impostos nas áreas em que houve aumento exagerado do IPTU, desde que haja uma boa gestão da arrecadação do município. “Governar não é um jogo de improviso”.
Rabello, por sua vez, inclui entre suas propostas a implantação de um prontuário eletrônico que contenha informações detalhadas sobre a saúde de cada cidadão carioca. Esse recurso, já disponível em outras localidades do mundo, teria sido uma arma importante no acompanhamento e no combate da pandemia. Rabello também defende que a prefeitura precisa gerar oportunidades para os jovens que hoje nem estudam nem trabalham e livrá-los da influência do crime organizado.
PRIMEIRO DO RANKING — É preciso ouvir cada pré-candidato e, depois de formar a opinião, fazer a escolha certa. O que não se admite mais é ver o Rio sempre em primeiro lugar no ranking nos problemas brasileiros. Há casos de corrupção em outros lugares? Sim — mas no Rio eles têm sido frequentes e rumorosos. Há problemas de segurança nas outras capitais? Claro — mas no Rio eles assumem proporções bem mais preocupantes. Há problemas de Saúde em outras partes do país? A pandemia do coronavírus está aí para mostrar que sim.
No Rio, há pelo menos três décadas, a incompetência do poder público e, infelizmente, os desvios vultosos de dinheiro parecem tornar tudo mais grave. Essa tem sido a regra, com o respeito às devidas exceções. A denúncia de desvios dos recursos destinados ao combate ao coronavírus, que explodiu na semana passada, infelizmente, não passa de mais um exemplo disso. É preciso, claro, aguardar a apuração dos fatos. A simples existência de indícios de corrupção num momento em que todos deveriam se preocupar em salvar vidas, no entanto, já mostra a dimensão do problema. O Rio não pode mais aceitar esse tipo de situação e a forma mais segura de demonstrar isso será nas urnas. O contrário disso seria desistir da cidade que amamos e que pode, sim, voltar a mostrar o que tem de melhor.
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