A história julgará as autoridades, os empresários e os trabalhadores pelo que fizerem para abreviar a crise e ajudar a manter o país funcionando no momento mais grave. A crise gerada pelo coronavírus ainda não alcançou seu ponto mais severo mas, a essa altura da pandemia, já é possível tirar pelo menos três conclusões. A primeira é a de que um problema desse porte não pode ser resolvido do alto do palanque — e que as ações mais efetivas para enfrentá-lo dispensam vaidades pessoais e interesses eleitorais. Elas exigem união.
Estamos todos sob a mesma tempestade, mas cada um a atravessa à sua própria maneira — e esta é a segunda conclusão. O sacrifício exigido dos trabalhadores não é o mesmo dos empresários que, por sua vez, não é idêntico ao do governo. É preciso, porém, buscar pontos de convergência para que, no momento em que tudo isso chegar ao fim, possamos seguir adiante. Os problemas de cada segmento devem ser considerados sem que jamais percamos de vista que o mais importante é salvar vidas e evitar uma hecatombe.
Como última conclusão, devemos ter a certeza de que a história julgará cada um de nós pelas ações que empreendermos neste momento. Quem fizer o que está a seu alcance — ainda que a colaboração possível seja ficar em casa para evitar a propagação da doença — será reconhecido. Qualquer esforço menor do que esse receberá um julgamento severo.
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EMPRESAS E EMPREGOS
As condições de empresário e de cidadão às vezes parecem me colocar em lados diferentes nessa equação. No fundo, porém, não existe diferença: o que iguala a todos, independentemente de seu papel na sociedade, é a obrigação de fazer sua parte. E a minha parte é cuidar das empresas que dirijo não apenas para que elas não sucumbam, mas principalmente para que não levem junto os empregos que geram.
No caso específico da empresa que edita O DIA, devo admitir que ela não está totalmente recuperada dos problemas do passado que quase a levaram à falência depois de 2014. Desde então, temos nos desdobrado para eliminar as pendências que ainda restam e agido para evitar novos problemas. A crise do coronavírus é evidente, aumentou a dose de sacrifício que esse trabalho exige.
Desde que o mercado passou a sentir os efeitos da retração dos negócios, nossa atenção se voltou para dois pontos que, para nós, são os mais sensíveis. O primeiro era a necessidade de salvar os empregos e agir para que nenhum posto de trabalho desaparecesse — e isso só ocorreria se a empresa não fizesse loucuras e não gastasse além de suas possibilidades. O segundo, continuar funcionando e mantendo nosso leitor informado sobre a verdadeira dimensão do que está acontecendo.
A VIDA DO CIDADÃO
Antes mesmo de o governo anunciar as medidas que auxiliarão as empresas na travessia da crise, já tínhamos concluído, após a avaliação do impacto da queda das receitas sobre nosso fluxo de caixa, que esses dois compromissos só seriam cumpridos com o envolvimento de todos. Nossos jornalistas e demais funcionários teriam uma redução temporária dos salários e, em troca, receberiam a garantia de manutenção de seus empregos. Os valores retidos serão restituídos tão logo a tempestade a que me referi vá embora, e o mercado recupere o fôlego.
Menciono a realidade da empresa que edita O DIA apenas com a intenção de mostrar como as soluções dos problemas gerados pela crise exigem a soma de sacrifícios. A dimensão das responsabilidades de cada um é evidente, aumenta de acordo com a quantidade de pessoas atingidas por suas decisões. Nesse aspecto, a cadeia de responsabilidade do empresário é maior do que a do trabalhador e a das autoridades maior do que a dos empresários.
A semana tinha tudo para chegar ao fim num clima mais favorável do que iniciou. Percebe-se, infelizmente, que numa hora grave como esta, os três Poderes, ao invés de se unirem e remarem juntos na mesma direção, estão batendo cabeças.
Medidas provisórias destinadas a aliviar a carga que tem pesado sobre os ombros dos trabalhadores e dos empresários deveriam andar com mais celeridade. E serem aprovadas pela Câmara e pelo Senado, com o aval do Judiciário, no mesmo dia em que são assinadas pelo Executivo. É hora de baixar o tom da discussão, abandonar as vaidades e perceber que o Brasil anseia que valores mais altos se levantem para impedir que a crise se torne maior do que já é.
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