Nuno Vasconcellos
Daniel Castro Branco/Agência O Dia
Nuno Vasconcellos

Se existe um ponto a respeito do qual todos os que se manifestam sobre a pandemia do novo coronavírus ( Sars-Cov-2 ) estão de acordo é que, depois que ela passar, o Brasil terá que incorporar novos hábitos e se dedicar a problemas que têm merecido pouca atenção até aqui. São muitos, mas entre eles se destacam a gestão e os procedimentos do sistema de saúde pública. A despeito do zelo dos profissionais que colocam a própria vida em risco para dar assistência digna ao cidadão, a impressão que se tem é a de que o trabalho poderia ser mais eficiente se novos métodos e procedimentos forem incorporados. Entre eles está o tratamento dado à informação.

Isso vale, é óbvio, para o Rio de Janeiro — mas desta vez, pelo menos, o problema não está restrito a nosso município e a nosso estado. Ele é nacional. Seria muito bom que se pensasse desde já na implantação de um sistema que abrangesse o país inteiro e que, também, agilizasse e desimpedisse o trânsito das informações capazes de orientar as autoridades na tomada de decisões. E, também, de alertar a sociedade para os eventuais riscos que corre.

CADASTRO ÚNICO DE SAÚDE — Isso é fundamental: as autoridades precisam estar prontas para agir sobre problemas nos quais nunca pensaram. A questão é que, nem o presidente da República nem os atuais governadores e prefeitos tinham em suas plataformas eleitorais qualquer proposta sobre a forma de lidar com um problema da magnitude dessa pandemia. Mesmo assim, a ameaça surgiu e cabe a eles a missão de liderar o combate a uma ameaça que não estava no radar de ninguém.

Muitos deles, com certeza, gostariam de ter em mãos informações mais seguras sobre as circunstâncias que cercam as decisões que lhes cabem tomar. Elas são cruciais para lidar com desafios como esse — e não é preciso ter bola de cristal para saber que ameaças dessa natureza se tornarão cada vez mais frequentes daqui por diante. Dono de um dos mais inclusivos e capilarizados sistemas de Saúde pública do mundo, o SUS , o Brasil tinha tudo para dispor de ferramentas capazes de agilizar a circulação de informações entre o Ministério de Saúde, as secretarias estaduais e municipais e todos os hospitais e postos de atendimento do país. Mas não: para saber o número de infectados pela pandemia, o governo federal precisa ser informado do número pelas secretarias estaduais.

Ora, já que o sistema é único, deveria existir — e há tecnologia disponível para isso — um cadastro igualmente único, que concentrasse numa só base de dados tudo o que se passou com qualquer cidadão desde a hora do nascimento. O certo seria que um cidadão brasileiro, de qualquer estado, não precisasse relatar a cada vez que precisa de atendimento, em qualquer parte do país, todo o seu histórico de saúde. Os remédios prescritos, os resultados dos exames a que foi submetido e os diagnóstico que recebeu a cada vez que recorreu aos postos de saúde estariam arquivados numa mesma base.

DECISÕES SEGURAS — Imagine, por exemplo, se no primeiro momento da ameaça do coronavírus, as autoridades do Rio de Janeiro soubessem quais eram e onde estavam as pessoas com histórico de problemas pulmonares e iniciassem por elas as providências capazes de salvar vidas. Ou, ainda, que, ao alertar para o aumento da procura por atendimento num determinado posto de saúde, o próprio sistema indicasse onde e como os recursos disponíveis deveriam ser alocados.

Uma discussão como essa, com certeza, parece não fazer sentido neste momento em que a crise entra em seu ponto mais agudo. Principalmente agora em que todas as atenções estão voltadas para o relaxamento das medidas de isolamento social e para a retomada da atividade econômica. Mas é justamente aí que ela se revela importante. Um sistema como esse, inclusive, ajudaria a orientar as decisões que precisam ser tomadas neste momento em que o relaxamento das medidas entraram na ordem do dia. As autoridades poderiam, então, tomar as providências com bases em dados reais. E não com base em palpites e jogadas de risco que, se derem certo, podem transformá-los em heróis. Mas se derem errado, como é mais provável com tudo o que é feito de improviso, podem se transformar em bombas armadas sob as cadeiras que ocupam.

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