Depois de cinco meses sem receber visitantes, os principais monumentos do Rio de Janeiro foram reabertos. Desde ontem — sábado, dia 15 — o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a roda gigante Rio Star operam dentro de normas consideradas seguras pelas autoridades. O funcionamento, como recomenda o bom senso, será limitado e terá que seguir cuidados sanitários para evitar a disseminação do coronavírus
. O resultado deverá ser avaliado nos próximos dias e o que se pode fazer a respeito, por enquanto, é aplaudir a iniciativa e torcer para que tudo dê certo.
Esses monumentos são peças importantes do motor que faz girar a Economia da cidade. Saber que eles estão retomando a atividade pode ser visto como uma boia de salvação positiva no meio do oceano de más notícias que vem inundando o Rio. Os procedimentos adotados, pelo menos no papel, seguem protocolos parecidos com os que marcaram a reabertura de outros monumentos conhecidos — como a Torre Eiffel, em Paris, e o Empire State Building, em Nova York. Todos os cuidados parecem ter sido tomados.
A mesma sensibilidade que se vê no Rio de Janeiro não é percebida em outros lugares do país. Em São Paulo, por exemplo, os parques de lazer foram colocados em último lugar na lista do que deve ser aberto. Poderiam perfeitamente voltar a funcionar caso fossem tomadas medidas de segurança semelhantes às adotadas para a reabertura dos monumentos cariocas.
ACIMA DA LEI —
Mais do que em outras grandes cidades do mundo, boa parte das atividades que movimentam a Economia do Rio de Janeiro dependem das aglomerações. Mas, enquanto ainda não é possível reunir multidões em segurança, é preciso cuidado. De qualquer forma, é melhor ir abrindo aos poucos do que manter tudo fechado sabe-se lá até quando...
Os pontos turísticos reabertos agora são importantes para a Economia carioca. Mas há outros negócios, pulverizados por toda cidade, que talvez sejam até mais relevantes como fontes de geração de renda e de oferta de empregos. Os bares e restaurantes, por exemplo, precisam ser tratados com mais carinho e respeito. A crise que se abateu sobre eles, claro, tem sua causa primária nas medidas necessárias para controle do coronavírus. As dificuldades, porém, têm sido agravadas pela insensibilidade dos bancos e da Justiça do Trabalho (que, no Brasil, parece mais interessada em destruir do que em proteger os empregos) e de outros agentes que parecem não entender a gravidade da situação.
Você viu?
Sentenças vem sendo proferidas sem que se levem em conta as mudanças na legislação trabalhistas aprovadas pelo Congresso Nacional para o enfrentamento da pandemia. Isso mesmo: juízes, que têm por obrigação fazer cumprir a lei, ignoram as normas definidas pelo poder legislativo e continuam agindo como se a pandemia jamais tivesse existido. Há casos de empresários que conseguiram a duras penas levantar um empréstimo que lhes permitiria manter abertas as portas de seu estabelecimento por mais alguns meses e que, na hora de pegar os recursos, percebem que o dinheiro foi bloqueado por ordem da Justiça para cobrir indenizações que, a rigor, não eram devidas nesse momento de crise.
LEVAR VANTAGEM —
A Economia precisa votar a funcionar, é claro — mas não basta reabrir as portas para que tudo se normalize. Na vida real, os meses de paralisação causaram prejuízos que levarão meses para ser cobertos. Alguns empresários, com certeza, nem terão fôlego para voltar a reabrir. É preciso que todos os envolvidos deixem de olhar apenas para os próprios interesses, sentem para conversar e não queiram levar vantagem sobre a dificuldade. Todos precisam se entender e, para isso, é necessário falar a mesma língua. Do contrário, a ruína será inevitável.
Ninguém está sugerindo, aqui, que as autoridades fechem os olhos para o que há de errado nem que deixem de agir diante de casos que ponham em risco a saúde da população. As aglomerações nos bares, depois que teve início o Campeonato Brasileiro de futebol, claro, são focos potenciais de disseminação da pandemia e exigem providências (desde que essas providências, claro, não se resumam a penalizar os donos dos estabelecimentos).
Este é um ano atípico para todas as atividades e os torcedores precisam encontrar uma nova maneira de expressar sua paixão. Soluções existem, é claro. Talvez já seja hora de adotar providências que permitissem a volta dos torcedores ao Maracanã, ao Engenhão e a São Januário. Respeitados os cuidados sanitários, mantida uma distância prudente entre um e outro e exigido o uso de máscaras, por que não tentar? Seria pelo menos uma forma, ainda que tímida, de permitir que o carioca volte a ter um pouco de alegria depois de tanta tristeza.
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