Um ingrediente que tem andado mais em falta na política brasileira será essencial nas eleições municipais deste ano — e mais importantes de todas as que aconteceram desde 1985, quando o Rio de Janeiro
, pela primeira vez, escolheu seu prefeito pelo voto direto. Trata-se da ética. Todos a defendem e se apresentam como seus defensores. Na prática, porém, são raros os candidatos que têm se valido dela no exercício da política.
Refiro-me não apenas à ética exigida de qualquer ocupante de um cargo público que, por lidar com o dinheiro do povo, deveria cumprir suas obrigações com um zelo acima de qualquer suspeita. A que está em foco, aqui, é a ética que guiará as ações de cada candidato na disputa eleitoral de 2020. É ela que determinará os instrumentos que cada um utilizará para tentar conquistar o eleitorado. Ela é o primeiro passo: candidatos que não respeitam os adversários e que se valem de expedientes desonestos para destruir os oponentes certamente não respeitarão o eleitor caso venham a ser escolhidos.
A SAFRA DE DOSSIÊS
Basta que as eleições se aproximem para que comecem a circular os dossiês apócrifos, que têm como único objetivo enxovalhar a reputação desse ou daquele político. Tem início, com eles, uma chuva de denúncias sobre irregularidades não necessariamente verdadeiras, que normalmente têm como alvo os candidatos mais bem colocados nas pesquisas. Ninguém quer saber se eles contêm notícias requentadas nem se estão baseadas em documentos falsos ou verdadeiros. O que interessa é o estrago que a acusação pode causar à reputação daquele que se pretende atingir.
A falta de ética, que é a mãe da corrupção, tem sido constante nas eleições e acabou se tornando um traço cultural da política brasileira. Nesse cenário de vale tudo, as questões principais, que deveriam ocupar o centro do debate, acabam ofuscados por temas secundários. E os pontos que realmente interessam — ou seja, as soluções para os problemas do município — acabam ficando em segundo plano.
As acusações sem fundamentos e as tentativas de se destruir a reputação alheia têm custado caro não só ao Rio, mas ao país inteiro. O Brasil parece ser o único lugar do mundo em que as pessoas consideram legítimo fazer política colocando em dúvida a prática política. Em que se disputam cargos públicos apresentando como credencial o fato de o candidato nunca ter ocupado cargos públicos na vida. Em que alguns candidatos se valem da suposta desonestidade do adversário e tentam transformá-la numa cortina de fumaça que encobre a própria incapacidade de apresentar soluções para os problemas.
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TRIBUNA LIVRE
Essa situação, claro, precisa mudar. O que o eleitor espera são respostas concretas para os dramas cotidianos que a pandemia do coronavírus se encarregou de tornar ainda mais evidentes. A paciência para debates vazios já se esgotou. Temas de natureza puramente ideológica tendem a perder espaço na disputa deste ano e a ceder lugar para as propostas de solução dos problemas da cidade.
O eleitor não quer saber se o prefeito que melhorará a qualidade do transporte público no Rio será de esquerda ou de direita. O que ele quer é um sistema livre da corrupção, em que os ônibus se tornem mais pontuais e andem menos lotados. Ele também não quer saber se a obra em frente a sua casa será tocada por alguém que faça a campanha vestido de vermelho ou que prefira usar o verde e o amarelo. O que ele quer é a obra feita.
O brasileiro que voltará às ruas quando a pandemia passar, pode esperar, será muito mais exigente do que aquele que, meses atrás, se recolheu ao isolamento social. Ele quer postos de Saúde e hospitais que o atendam. Quer escolas que ofereçam a seus filhos aulas regulares e de boa qualidade. A ética de cada candidato, portanto, fará diferença nessa hora — e ela começa pela clareza com o que cada um defende o que pretende fazer.
Essa tem sido uma preocupação constante de O DIA . O jornal e a rede acabaram de dar voz a 17 pré-candidatos à prefeitura sobre aquilo que eles pretendem fazer pelo Rio. As lives serão levadas, agora, às principais cidade do estado. A próxima fase do projeto será a seção Tribuna Livre, que estreia no próximo domingo. Nela, cada pré-candidato dirá ao eleitor como pretende lidar com os principais problemas da cidade em seus quatro anos de mandato. O cidadão quer saber, cada vez mais, o que pretende fazer para melhorar sua vida. Nessa hora, o candidato precisa ter ética — nem que seja para evitar promessas que não seja capaz de cumprir.
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