Aline Macedo
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Aline Macedo

A discussão política está em alta no cotidiano dos brasileiros, principalmente às vésperas do segundo turno. Ainda assim, os debates não estão lá muito saudáveis: em meio a preconceitos e efeitos da polarização política, os conceitos se dissolvem. Para democratizar o conhecimento e deixar as discussões mais produtivas, a cientista política Juliana Fratini reuniu pesquisadores de diversas vertentes no livro "Ideologia: uma para viver", apresentando um panorama completo do atual pensamento político. Em entrevista a O DIA, ela explica o que é a direita e a esquerda, fala sobre os riscos do extremismo e explora possíveis soluções.

O DIA: Qual é a importância de definir o espectro político?

JULIANA: É interessante conhecer os conceitos de esquerda e direita, que expandiram a partir da democracia, para saber o que a pessoa entende que seja melhor para a organização de sua própria vida e da coletividade. De um modo geral, esses conceitos tratam de toda a história do posicionamento da política contemporânea — são termos que nasceram na Revolução Francesa e mudaram com o tempo.

O que define a direita?

A direita é uma composição de crenças tradicionais — optam pela defesa da família, da pátria e das estruturas vigentes, em que o homem é o detentor do poder de fala e de mando na própria casa, em que a religião define uma determinada conduta moral. Ela tende a ter um posicionamento mais republicano, de ordem, num sentido que as pessoas abrem mão do que é uma prioridade individual em favor de uma coletividade mais forte.

E a esquerda? Como definir?

Grupos que optam por uma quebra das estruturas tradicionais, que defendem justiça social num aspecto emancipatório econômico e ampliação de direitos. Tanto é que a esquerda e o progressismo se assemelham muito a valores democráticos: a democracia tende a ser um regime plural, para incluir mais pessoas por meio da ampliação dos direitos civis, sociais e políticos.

Por que esses conceitos hoje são tratados como "bem" e "mal"?

A política é um espaço de disputa de poder. E nesse contexto, os conceitos são instrumentalizados com a finalidade de convencer os indivíduos de que uma posição é melhor do que a outra. Na realidade, todas têm valores interessantes — o problema é que elas se tornaram extremistas a partir de uma imposição do que defendem.

Como e quando um dos polos se torna extremo?

Se tornam extremos porque querem impor um pensamento e uma maneira de se posicionar no mundo que, aparentemente, se torna obrigatória, a partir da força da narrativa em cada região. Por exemplo, onde você tem a força de uma instituição religiosa hegemônica, provavelmente haverá um sentimento de que há a imposição de uma conduta ali. Eu entendo que a esquerda é muito criticada por isso, até pela história de lideranças que foram libertárias e tentaram conduzir os cidadãos para regimes melhores, mas tiveram comportamentos autoritários.

Qual é o perigo do desgaste de termos como fascismo e comunismo?

Isso inviabiliza a discussão política de fato e o desenvolvimento de políticas públicas em geral. Faz com que a política tenha uma narrativa viciada, saindo do campo racional e de desenvolvimento para um campo afetivo e normativo — de forma prejudicial, sem que exista o entendimento do respeito ao outro, pela diferença de posição. Outro ponto importante é que os adversários passam a ser inimigos que precisam ser eliminados.

Como restabelecer as pontes?

Essa é a pergunta de R$ 1 milhão. A capacidade de ampliar as discussões e de incorporar outras lideranças dentro dos espectros é a melhor forma de se estabelecer pontes e criar agrupamentos maiores de poder político. Na disputa deste ano, temos duas grandes lideranças populistas fazendo isso. O Lula, por um lado, trouxe a Simone Tebet, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes: são poderes que se unem em uma frente maior do que a esquerda. Bolsonaro, pela direita, também precisou estabelecer conexões com lideranças conservadoras e liberais, atraindo nomes como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Cláudio Castro.

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