A liberdade de expressão, de pensamento e de imprensa não foi uma conquista fácil para a humanidade. Levou séculos. Um exemplo que nos é caro foi o que ocorreu ao longo do nosso século XIX. Visitantes estrangeiros chegaram a comentar a excessiva liberdade de imprensa de que gozávamos, não encontrada comumente nem mesmo em países europeus de então. E não foram apenas 67 dias, mas 67 anos, tempo de duração do Império. Tão logo proclamada, veio a censura na chamada República da Espada.
Essa bela tradição de liberdade de 2/3 de século foi respaldada por uma frase lapidar de D. Pedro II, sempre atual: "A imprensa se combate com a própria imprensa". Ou seja, com o debate civilizado. Não obstante esse passado ilustre, as recaídas autoritárias foram uma constante em nossa História republicana. Como explicá-las e seus pífios resultados?
Sem dúvida, uma influência perversa nessa direção foi o positivismo de Auguste Comte, que tomou conta dos corações e cérebros de militares e civis republicanos. A máxima de Comte soa como música para ouvidos autoritários: "Assim como não existe liberdade em física e química, também não deve havê-la em política, onde deve ser implantada uma ditadura científica". Já sabemos no que deu, depois, a famosa ditadura do proletariado proposta por Marx e colocada em prática por Lênin e diversas lideranças marxistas mundo afora.
Já tivemos duas longas ditaduras, Vargas (1930-1945) e a militar (1964-1985), cujos resultados nos trouxeram sequelas, inclusive atrasando o País com a mentalidade de "soluções" autárquicas e de implantação das empresas estatais. O rastro de corrupção e malversação de dinheiro público foi monumental. A privatização foi necessária para consolidar o sucesso, como no caso da Embraer, dentre várias outras. A brutal perda de tempo histórico da Lei da Informática, de 1984, é um trágico exemplo da reserva de mercado.
O ex-ministro Paulo Guedes, ao longo dos últimos quatro anos, exemplificou como esse Frankenstein empresarial é disfuncional. Dilapidou dinheiro público, que poderia ter ido para saúde, educação e infraestrutura tão necessárias ao bem-estar da população. Nas últimas quatro décadas, a renda real per capita cresceu abaixo de 1% ao ano. A reversão havida em anos recentes na direção correta foi muito prejudicada pela Covid-19. Mesmo assim, sem corrupção, as estatais deixaram de ser fontes de prejuízos.
Os inaceitáveis eventos ocorridos no dia 8 de janeiro, domingo, em Brasília, confirmam que a violência continua na ordem do dia. O ranço autoritário volta se manifestar. Algo muito parecido já havia ocorrido no passado com integrantes do Movimento dos Sem Terra. Para este, a luta de classes é o motor da História. Movimentos de oposição ocorreram sem violência nos últimos meses. Ao extrapolar a linha pacífica, deu mão forte ao atual governo no sentido de implantar o controle social dos meios de comunicação, discurso reiterado de campanha. A luta contra a censura perdeu pontos no episódio. Cabe agir, respeitando as práticas democráticas porque elas correm risco.