Não se engane com a imagem da simpática senhora de profundos olhos azuis e cabelos grisalhos ao olhar para a foto de Irmela Scheramm. Por trás dessa fachada, reside um espírito inquieto e pronto para combater a intolerância. Uma pichação de cada vez.
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Tudo começou numa manhã de 1986, quando a alemã de 71 anos encontrou um panfleto de apoio ao criminoso de guerra nazista Rudolf Hess colado em um ponto de ônibus perto de sua casa, em Berlim. Ao voltar para casa depois do trabalho, a então professora de uma escola para crianças especiais decidiu que precisava tomar uma atitude. Armada apenas da chave de casa, raspou meticulosamente o panfleto até deletá-lo por completo.
Desde então, segundo suas contas, Irmela apagou, cobriu e arrancou mais de 130 mil mensagens de ódio espalhadas pelas ruas do seu país. Hoje, é uma das ativistas mais respeitadas da Alemanha e coleciona prêmios por seu trabalho, além do reconhecimento de boa parte da mídia.
Em recente entrevista à rede de televisão "CNN", Irmela explicou sua missão. “A propaganda do ódio sempre me incomodou muito. Quis fazer algo concreto, indo além de palavras vazias. Eu poderia ver a pichação de uma suástica, pensar ‘que coisa horrível’ e continuar a caminhar. Decidi que não iria esperar alguém fazer algo a respeito.”
Ao longo de sua cruzada particular, a ativista já enfrentou ameaças de morte, foi multada por grafitar sobre patrimônio privado e testemunhou a triste transformação dos radicais ao longo das décadas.
Segundo Irmela, hoje os refugiados vindos da Síria e de outras regiões dilaceradas pela guerra são os principais alvos dos ultranacionalistas alemães.
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“As pessoas já me disseram que sou intolerante, que não respeito o direito de livre expressão dos ultranacionalistas. Mas, para mim, há um limite para tudo. E ele chega quando começa o ódio e o desprezo pela humanidade”, completa a ativista alemã.