Reunindo-se o que expusemos nos textos todos ao longo dessa semana, tentaremos trazer algumas conclusões cuja razão de ser é estimular uma reflexão:
1. Há um risco real, palpável, de que o Brasil se torne um narcoestado ou um estado cooptado pelo crime. Talvez todo o seu território não, mas bolsões ou territórios tomados pelo crime já são uma realidade. E podem tranquilamente se expandir.
2. Os primeiros vitimados pelo crime organizado são as populações mais carentes, mais pobres, mais vulneráveis, especialmente os mais jovens, cooptados pelo crime para servirem de mão-de-obra para as suas ações.
3. Além dos cooptados diretamente pelo crime, considere-se os moradores dessas comunidades como suas mais sentidas vítimas, que, por exemplo, pagam mais caro pelo gás de cozinha porque o fornecedor tem que pagar uma espécie de pedágio ao crime, ou as empresas de transporte que se negam a colocar pontos nestes locais pelo risco de incêndio em seus ônibus, sem contar o medo, a intimidação e as ameaças constantes. A ideia de um crime organizado benfeitor da comunidade simplesmente não se sustenta.
4. Ações como a “Operação Contenção” não resolverão, isoladamente, o problema da segurança pública. Óbvio que não. Contudo, é inegável o seu efeito dissuasório sobre o crime organizado e também o impacto em sua dinâmica.
5. A sociedade, de modo especial os formadores de opinião, intelectuais, especialistas de todas as áreas, imprensa, precisam prestigiar o trabalho da polícia como algo presumidamente correto, e denunciar somente os excessos, os abusos, as ilegalidades. Não é, portanto, razoável numa operação em que nenhum inocente foi sequer ferido chamar a ação da polícia de “fascista”.
6. A perda de jovens para o crime não é apenas uma tragédia moral de proporções titânicas, mas algo a impactar fortemente a economia, as futuras gerações, a cultura, os costumes e mesmo a psicologia do nosso povo. Um desperdício de mentes e corações.
7. O Brasil precisa de um “choque de multiplicação de oportunidades”. Jovens sem qualquer horizonte em suas vidas se sentem atraídos pela ideia de dinheiro fácil e respeito pelo caminho da intimidação, ambos ofertados pelo crime. É preciso gerar oportunidades em todas as direções a essas pessoas, o que só virá com uma educação de qualidade e universal.
8. Por mais triste que a situaçao do RJ possa ser, ali tambem é -- historicamente sempre foi -- uma "caixa de ressonância" da sociedade brasileira e pode sair de terras cariocas uma nova fórmula de enfrentamento do crime e de construção de uma nova sociedade.

