Em seu recente encontro com o presidente dos EUA, e diante de questionamentos de jornalistas presentes dirigidos ao mandatário norte-americano sobre Bolsonaro, Lula declarou algo como “ele [Trump] vai acabar descobrindo que Bolsonaro não é nada”.
Nosso presidente parece ter falado mais para si mesmo, ou para seus correlegionários, do que emitido um parecer pensado e refletido. Raposa da política, com mais de 50 anos de [muita] vivência neste meio, Lula sabe bem que o ex-presidente, ao menos politicamente, segue vivo sim. Bem vivo em alguns aspectos.
Um desses aspectos é o Senado Federal. Atualmente, contando apenas os senadores claramente de oposição (PSD, PL, PP, União, Republicanos), temos 46 parlamentares contrários ao governo. Há ainda mais 11 senadores do MDB que podem ou não apoiar o governo, a depender de várias circunstâncias.
Mas o que é desfavorável ao governo pode ficar ainda mais complicado. Projeções para a eleição do ano próximo, 2026, em que 2/3 do Senado será renovado, mostram uma ampliação dessa vantagem pró-oposição. Assim, mesmo que Lula seja reeleito – e até o momento tudo indica que sim – enfrentará uma oposição ainda maior que a atual, contando inclusive com candidatos abertamente bolsonaristas.
Em sete estados, os cenários pesquisados pela Real Time Big Data projetam aumento da bancada de oposição (e bolsonarista) em relação aos representantes atuais: Acre, Alagoas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraná, Roraima e Tocantins podem acabar com um opositor do governo Lula a mais.
Em outros quatro estados, a oposição deve perder uma cadeira, de acordo com o cenário atual das pesquisas: Amapá, Ceará, Espírito Santo e Sergipe. Há ainda dois estados em que a situação é incerta, por falta de definição sobre quem vai concorrer ao Senado: Rio Grande do Sul e São Paulo.
Essa vantagem numérica é suficiente para a oposição eleger o próximo presidente da Casa, em fevereiro de 2027. Para conseguir uma maioria maior e mais folgada, suficiente para, por exemplo, pautar o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, a oposição precisaria de 54 senadores, o que dificilmente ocorrerá.
São Paulo é o local de disputa mais acirrada. Há um verdadeiro empate quadruplo entre, de um lado dois representantes da esquerda-raiz: Guilherme Boulos (18%) e Fernando Haddad (17%). Do outro lado, como representantes do bolsonarismo-raiz, Guilherme Derrite (16%) e Ricardo Salles (12%). Com chances menores, aparecem Marina Silva, Mara Gabrilli e Paulo Serra.
Lula e o PT sabem que há um xadrez difícil de jogar, com peças previamente perdidas. Há, contudo, boas chances de ao menos marcar boas posições e reforçar uma presença, mesmo que simbólica, algo extremamente importante em política, campo em que as imagens, os discursos e as projeções jogam papel vital.

