
Instalou-se um cabo de guerra analítico no campo da economia. Basicamente, há os que defendem as muitas conquistas do governo federal, expansão do PIB, emprego em alta e fico nos mais pobres. De outro lado, os que vêem o copo meio vazio, criticando a fragilidade das bases econômicas, juros altos e inflação fora da meta.
Sobre a inflação, o IGP-M acumulado está bastante fora da meta de inflação, de 4,5%. O IGP-M é utilizado amplamente na fórmula paramétrica de reajuste de tarifas públicas (energia e telefonia), em contratos de aluguéis e em contratos de prestação de serviço. É um índice que reflete muito diretamente o poder aquisitivo médio da população. Em abril estava em 8,50% de alta, em maio recuou para 7,07%. Há, portanto, uma força inflacionária em curso, e não simples má vontade para com o governo.
Dívida pública. A dívida bruta do Brasil ultrapassou os R$ 9 trilhões pela 1ª vez na história em outubro de 2024. Somou R$ 9,032 trilhões no mês, com alta de 1,16% em relação a setembro e de 14,13% ante outubro de 2023. O BC (Banco Central) divulgou o dado no seu relatório “Estatísticas Fiscais”, o que torna o dado, portanto, oficial.
E, objetivamente, cabe a pergunta: o que o governo fez e faz para reduzir essa dívida? Nada, ou quase isso. E ainda pior do que a dívida é o comportamento governamental em relação ao tema. Lula já declarou que não vai cortar gastos públicos, o que não deveria surpreender ninguém, afinal, um dos primeiros atos de seu governo foi criar 9 (nove) ministérios novos.
Acontece que mercado precifica isso. Como um banco trata um devedor que está a todo momento pedindo dinheiro emprestado sem cortar nenhum tipo de gasto em sua vida? Trata como um mau devedor, alguém cuja inadimplência é bastante provável. Emprestará para esse devedor, mas em condições ruins, juros altos.
Então, o mercado não é malvado e nem bonzinho, e nem anti-Lula. Mercado é anti-perdularismo, é anti-má gestão, é anti-irracionalidades. Aliás, em Lula 1 e 2 o mercado financeiro, bancos em especial, ganharam muito dinheiro. Mas, àquela altura Lula seguia um caminho mais ortodoxo em termos econômicos e basicamente manteve as balizas do plano real.
Bolsonaro governou um ano sob condições normais, 2019, dois anos sob uma inédita pandemia, 2020 e 2021, e 2022 foi ano eleitoral. As análises de certos economistas o colocaram como o pior governo de todos os tempos. Considerou-se a pandemia? Não. Não foi poupado, portanto. Ok.
Ora, porque quando chega a hora de analisar o governo Lula, deveríamos ser mais compreensivos, até mesmo condescendentes, e procurar encontrar só aspecto positivos em suas ações? Vale o antigo ditado popular: pau que dá em Chico, dá em Francisco. Não há má vontade contra Lula. Há análise e esta análise indica certos pontos vulneráveis e com risco de se tornarem problemas ainda maiores no futuro.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG