Gleisi e Lula de mãos dadas em evento de aniversário do PT
Reprodução/Partido dos Trabalhadores
Gleisi e Lula de mãos dadas em evento de aniversário do PT

Líderes políticos têm que lidar, praticamente de modo corriqueiro, com o
desgaste de colaboradores de seus governos, sejam ministros de Estado,
parlamentares ou outros. Com Lula isso não é diferente. Aliás, nem um pouco
diferente.

Enfrentando uma popularidade em queda livre desde novembro do ano
passado, o presidente da República resolveu agir e implementou algumas
mudanças. Primeiro, passou a ser ele próprio o grande porta-voz do governo,
comunicando e falando em nome próprio e em nome de seu governo.

Funcionou? Não exatamente. Lula, no passado um orador eloquente e
carismático, parece ter sentido o peso dos anos e da refrega política, por certo
desgastante. Tem falado demais e comunicado de menos como, há algum
tempo, ao pedir para as pessoas não comprarem esse ou aquele alimento “se
estiver caro”.

Outra frente de mudança se deu nos ministérios. Todos esperavam um Lula
pragmático, abrindo espaço em seu ministério para acomodar nomes do
"Centrão". A prática, contudo, mostrou outra coisa: uma espécie de "dança das cadeiras interna", do PT mesmo, buscando outros objetivos.

Nísia Trindade, a ministra da Saúde de perfil técnico, cedeu sua vaga a
Alexandre Padilha que, por sua vez, perdeu o posto de principal articulador
político do governo para Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidente do PT.
Gleisi se afastará da presidência do partido e não se sabe ainda quem a
substituirá. Seu papel será, como ela mesma declarou, “construir alianças para
2026”.

O objetivo está correto. Com um Lula ao menos visto como líder isolado e sem
articulação, esse xadrez do poder para 2026 é vital. Gleisi terá que usar a
máquina governamental para atrair apoios. A tarefa é difícil, indigesta, mas não
há outro caminho. Assim, o objetivo é correto, a estratégia, porém, também
seria? Aí já são outros quinhentos. O tempo dirá.

E neste ponto, Padilha e Gleisi, que nunca foram próximos de Haddad – na
verdade ambos já se desentenderam com o ministro da Fazenda – parecem se
alinhar mais com o presidente: caminho é manter ou até aumentar o gasto
público, e não o diminuir, como quer Haddad e o mercado.

Gastar também significa irrigar os campos políticos para que dêem boa safra
para 2026. Gleisi, Padilha e Lula acreditam nisso. Neste contexto, Haddad --
que já foi chamado de fraco por Gilberto Kassab, aliado do governo -- terá que
aceitar a gastança ou pegar o boné e ir embora.

Lula, bem ao seu estilo, não "enquadra" e nem demite Haddad, mas antes o
deixa à própria sorte para ser canibalizado por terceiros, sejam da esquerda ou
da direita. Terceiriza o processo.

É Lula sendo Lula.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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