Antonio Minhoto

Eleições municipais e 2026: o futuro é logo ali – parte 2

O presente diagnóstico, ou constatação, comprova a carência de lideranças nacionais à esquerda

Eleições municipais e 2026: o futuro é logo ali – parte 2
Foto: Caio Barbieri
Eleições municipais e 2026: o futuro é logo ali – parte 2


Muito embora o mundo político, especialmente os partidos, saibam bem da importância das  eleições municipais para os seus projetos nacionais e regionais, no caso específico do PT, nota-se uma presença muita escassa de seu maior representante, o  presidente Lula, nas eleições municipais deste ano.

E essa ausência foi sentida pelos candidatos de sua base. Havia uma expectativa de que o presidente atuasse como um grande cabo eleitoral da esquerda. Lula,  contudo, concentrou-se em apenas três cidades, o que é pouco, bem pouco, no contexto. Nos bastidores, se fala em agenda corrida, ciúmes entre candidatos e desejo de se evitar exposição excessiva.

A maior esperança de Lula, até mesmo num plano pessoal, é por certo a cidade de São Paulo, governada pelo PT já em três ocasiões. Esse foco se dá por ao menos dois motivos: a. São Paulo é uma caixa de ressonância política do Brasil, (re)conquistá-la seria importante e; b. governar São Paulo, mesmo que por meio de um partido da base de Lula, mas claramente de esquerda, PSOL, seria uma demonstração de força política evidente para o PT e o presidente.

Também em off, nos bastidores, o PT já assume que o ambiente está desfavorável para Boulos conquistar São Paulo. Ele segue o figurino que elegeu o atual presidente em 2002, encarnando uma espécie de versão 4.0 do “Lulinha Paz e Amor”, mas, a entrada de  Pablo Marçal (PRTB) na corrida, com um estilo kamikaze, anti-sistema e carente de propostas, acabou atrapalhando o psolista.

De todo modo, se São Paulo está difícil para a esquerda, a Grande São Paulo pode trazer notícias melhores para os petistas. São Bernardo é uma espécie de questão pessoal para o presidente e seu candidato, Luiz Fernando (PT) que reprisar a conquista de Luiz Marinho em 2016. Além de Fernando, os petistas têm Alencar Santana em Guarulhos e Emídio de Sousa em Osasco, e ainda buscam reeleger José Filippi em Diadema.


Seja como for, os candidatos de esquerda, especialmente do PT, esperavam uma participação bem mais efetiva, especialmente quando se nota que o partido tem candidaturas próprias em 13 capitais. Um Lula engajado poderia influir de modo decisivo nestas disputas locais, seja pela participação popular, seja pela arrecadação de dinheiro, seja para mostrar a força da candidatura.

O presente diagnóstico, ou constatação, comprova a carência de lideranças nacionais à esquerda. Se a direita tem figuras como Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro, o deputado Nikolas Ferreira, Tarcísio de Freitas e Romeu Zema, a esquerda possui líderes regionais apenas.

Lula não fala abertamente, mas tem seguido a orientação de integrantes de seu partido de não se expor. Se entrasse de cabeça numa eleição, como em São Paulo, ele poderia trazer os eventuais revezes de uma derrota para a sua imagem. É como lidar com fogo: “nem tão longe que te esfrie, nem tão perto que te queime”.

Para ler mais textos meus e de outros pesquisadores, acesse  www.institutoconviccao.com.br.