Mulher vota nas eleições do Parlamento Europeu, em Atenas, Grécia, em 9 de junho de 2024
ARIS MESSINIS
Mulher vota nas eleições do Parlamento Europeu, em Atenas, Grécia, em 9 de junho de 2024


Para quem quiser acessar mais material meu e de outros pesquisadores, deixo aqui o  link do Instituto Convicção, do qual faço parte.

A polarização esquerda-direita viveu um novo capítulo no  último dia 9 de junho. E dessa vez a guinada à direita foi a protagonista das eleições locais, dos países – 21 dos 27 países da UE foram às urnas –, e também do Parlamento Europeu. Há quem diga ter sido a vitória mais expressiva e ampla da direita desde o fim da 2ª guerra, início dos anos 1950.

Macron dissolveu o parlamento francês e o primeiro-ministro belga Alexander De Croo renunciou, abrindo espaço para a mudança também na Bélgica. Outros países do bloco podem seguir caminhos semelhantes, muito embora na Itália, a líder de direita Giorgia Meloni verá seu partido ampliar a sua bancada no parlamento italiano.

Como em todos os temas sociais, políticos e jurídicos, é preciso analisar o quadro com cautela, ou, como diriam os antigos romanos, “cum grano salis”. A Europa viveu uma das maiores levas migratórias dos últimos tempos e isso teve um impacto grande sobre a sociedade europeia.

Entre 2015 e 2016, uma enorme leva de muçulmanos ingressou na UE. Neste sentido, mais de 350.000 pessoas deslocaram-se de países islâmicos, sobretudo Síria e Líbia, fixando-se em diversos países europeus, de modo especial Grécia (235.000 imigrantes) e a Itália (115.000 imigrantes). Mas Itália e França também receberam um fluxo bastante expressivo desse mesmo grupo.

As razões para isso podem ser identificadas em duas frentes: a. guerra civil síria, com forte atuação do Estado Islâmico, inclusive com a prática de atentados em solo europeu e; b. recusa de outros países muçulmanos, incluindo Jordânia e Arábia Saudita (essa última em tese mais aberta a questões humanitárias), em receber os refugiados em seus territórios.

A Turquia, país culturalmente mais próximo desses povos, até absorveu um grande contingente de refugiados, mas já implementou medidas restritivas, forçando os imigrantes – por vezes famílias inteiras – a buscarem espaço em direção ao leste e ao sul da Europa. Outro foco de deslocamento humano foi a guerra Ucrânia-Rússia, iniciada em 2022, e que vem forçando a movimentação de refugiados por toda a Europa.

Mas o que isso tem a ver com a  eleição do dia 9 de junho? Bastante. A Europa criou o que se usou nominar de “rede social protetiva” construída no bojo do chamado Estado do Bem-Estar Social (welfarestate). Essa estrutura, contudo e como a lógica faz supor, não foi concebida para atender um contingente tão amplo de pessoas como o hoje observado.

Esse afluxo de pessoas pressiona os recursos oficiais destinados à saúde, segurança, transporte, moradia, infra-estrutura, colocando em risco conquistas feitas pelos europeus e voltadas aos mesmos europeus. É neste contexto que a direita e a extrema direita surgem, ou ressurgem, defendendo, em termos gerais, uma “Europa para os europeus”.

O momento parece ser de risco, ou ao menos é essa a leitura que os Europeus estão fazendo. E se há risco, precaver-se desse risco adquire ares de medida urgente, ultra necessária.

A esquerda “vende” sonhos, ou na linguagem política, a utopia de uma sociedade inclusiva e igualitária. Já a direita lida com a realidade como ela é. Ao que tudo indica, e neste momento, os europeus não querem sonhar, mas apenas e tão-somente resolver os seus problemas.

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