"No meio de uma crise aguda, é especialmente importante manter a cabeça fria e avaliar cuidadosamente o impacto da crise ucraniana na nossa segurança", disse o chefe de Estado da Finlândia, Sauli Niinisto, em comunicado, após um encontro com deputados e responsáveis da área da Defesa.
A invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou um acalorado debate na Finlândia sobre se o país, militarmente não alinhado, deveria aderir à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com uma sondagem recente a mostrar que, pela primeira vez, a maioria dos finlandeses é a favor da adesão.
Petições para um referendo sobre a adesão à Otan reuniram dezenas de milhares de assinaturas no final de fevereiro, o que significa que a questão será debatida em breve no parlamento em Helsinque.
A Finlândia, que partilha uma fronteira de 1.300 quilómetros com a Rússia, manteve-se neutra durante a Guerra Fria em troca da garantia de Moscou de que as tropas soviéticas não invadiriam o seu território.
O país nórdico, de 5,5 milhões de habitantes, aderiu à União Europeia (UE) e mantém uma estreita parceria com a Otan, através da qual partilha informações e recursos.
"O nosso ambiente de segurança está a sofrer mudanças rápidas e dramáticas hoje", sublinhou Niinisto, acrescentando que compreende plenamente "a preocupação sentida pelos finlandeses e a necessidade de reagir à situação".
No que se refere à questão da adesão à Otan, os especialistas acreditam que a Finlândia poderia atuar em conjunto com a vizinha Suécia.
A sua adesão aumentaria as tensões entre a Rússia e o Ocidente, uma vez que a expansão da Aliança para leste é a principal queixa de segurança apresentada pelo Kremlin.
Na sexta-feira passada, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo advertiu que a adesão dos países nórdicos à Otan teria "graves repercussões militares e políticas", um aviso ignorado por Helsinque.
Entretanto os EUA fortalecem laços com uma Finlândia cada vez mais simpática à Otan
Biden se reuniu com seu colega Sauli Niinistö logo após o país nórdico romper sua tradicional posição de neutralidade diante da crise na Ucrânia.
A reunião ocorreu em um cenário de crescente apoio entre os finlandeses a uma possível entrada na Otan, apesar do alerta do Kremlin sobre "consequências militares" para a Finlândia se seguir esse caminho.
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Biden não se referiu expressamente a essa possível entrada na Aliança Atlântica, mas elogiou a estreita cooperação que a Finlândia, assim como a Suécia, mantém com esse órgão.
Um aliado da Otan
"A Finlândia é um parceiro chave dos Estados Unidos, um aliado robusto também em matéria de defesa e um aliado da Otan, especialmente no que diz respeito à força e segurança da zona do Mar Báltico", sublinhou o presidente ao receber Niinistö no Salão Oval.
Seu colega finlandês respondeu que seu país está fazendo "o que pode para ajudar" o povo ucraniano, "que está lutando bravamente por seu país".
A Finlândia é o segundo país europeu - depois da Ucrânia - que compartilha mais quilômetros de fronteira com a Rússia e já sofreu uma invasão semelhante pela União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial, por isso a questão da Otan sempre foi especialmente sensível.
Finlandeses mudam de posição
No entanto, em pouco mais de um mês, a percentagem de finlandeses que se opõem à adesão à Otan caiu de 43% para 28%, enquanto, entre os que apoiam, houve um aumento de 30% para 53%, segundo pesquisa publicada nesta segunda-feira.
O encontro entre Biden e Niinistö ocorreu horas depois que o presidente russo, Vladimir Putin, pediu aos países vizinhos que não tomassem medidas que pudessem "agravar a situação" e garantiu que "não tem más intenções" em relação aos estados vizinhos.
Como resultado da aproximação da Suécia e da Finlândia à Otan, tem se registado manobras militares com submarinos possuídos de armamento nuclear no mar de Barents, na península de Kola, no norte da Escandinávia.
O mesmo sucede na Suécia com o avistar de aviões russos de guerra sobre o espaço aéreo daquele país nórdico.
Com tudo isto já vamos no décimo segundo dia de confrontos entre a Rússia e a Ucrânia.
Davide Pereira.
Finlândia.