O advogado Marcos Ferreira lançou na semana passada o livro "SUZANE: A verdade não revelada" e promete apontar sérios vícios no julgamento que levou Suzane von Richthofen a ser condenada como mentora do assassinato dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002. Convidado da promotoria para acompanhar os bastidores do processo, o jurista é um árduo crítico da espetacularização de casos assim.
No livro, Marcos alega que Suzane não teve seus direitos constitucionais garantidos durante o julgamento no Tribunal do Júri. "A opinião pública a condenou antecipadamente como mentora, psicopata e manipuladora, e a promotoria levou a tese para o tribunal, mesmo que prova alguma apontasse para isso”, afirma em entrevista exclusiva à coluna. "Suzane, sob influência ou não, participou da morte dos pais, mas não restou provado que ela foi a mentora do crime", garante.
Segundo o advogado, qualquer criminoso precisa ter os direitos resguardados no Tribunal do Júri. "No caso de Suzane, não fosse a pressão popular, a farsa criada para gerar a ideia da motivação e a cobertura espetacular da imprensa, todo o julgamento que se traduziu num verdadeiro espetáculo circense, seria anulado, bastando que o júri tivesse ocorrido num país sério, que respeita o devido processo legal e a liturgia centenária do Tribunal do Júri", explica.
Ferreira conta que decidiu escrever o livro questionando e apontando as falhas no julgamento não para inocentar Suzane, que estava na mansão enquanto os pais eram mortos, mas por enxergar o caso de modo diferente e entender que a verdadeira Justiça só é feita quando as leis são respeitadas. "Não é possível que casos sejam conduzidos pelas autoridades com interferência midiática e se ignore provas ou falta de provas, apenas para que se propague com o resultado contaminado a falsa ideia de que a justiça neste país funciona".
Marcos Ferreira lançou o livro pela Editora Primeiro Capítulo, do Grupo Editoral Atlântico, que tem sede em Portugal, e garantiu distribuição no Brasil e na Europa. Nas páginas do livro são mostrados todos os vícios do julgamento. "Espero que a leitura provoque reflexão e o Brasil pare de transformar casos sérios como este em espetáculo, e, o que é pior, com a conivência e exploração por parte do Ministério Público", conclui.
"Linha Direta" censurada?
Marcos Ferreira também é um dos advogados da mãe de Henry Borel, Monique Medeiros, ex-esposa de Jairinho, condenado pela morte do garoto e que tentou impedir a exibição do "Linha Direta", nesta quinta-feira (18), contando sobre o caso. Embora tenha sido a defesa do ex-vereador do Rio de Janeiro quem havia conseguido liminar impedindo o programa da Globo de ser exibido, o advogado concorda que a atração não deveria ir ao ar. Segundo ele, como o caso ainda vai ser julgado, isso pode influenciar os jurados. Ainda de acordo com o advogado, a Globo está sendo parcial, a medida que em nenhum momento procurou Monique, mãe do Henry para expor sua versão e informar a sociedade que ela foi absolvida sumariamente de 4 das 5 acusações que o MP fez contra ela. O defensor conclui que o fato dela estar solta, mesmo sob pressão social, é prova bastante de que ela é inocente e não teve qualquer envolvimento com o crime.
“Como pode um programa ser sério se seus idealizadores sequer procuraram a mãe da criança para ouvir a versão dela, entender e informar o público por qual razão ela está solta e o Jairo, não? Ora, impossível compreender isso como liberdade de expressão. Isso para mim é a verdadeira expressão da informação seletiva, que não tem compromisso algum com a verdade”, diz ele.
O "Linha Direta" sobre o caso pode ir ao ar graças a uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes .