Lula: um animal político
Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula: um animal político


Enquanto o mundo vai dando sinais claros de descompasso humanista e intransigência, com medidas e atitudes radicais contra qualquer política humanitária e inclusiva, o presidente Lula mostra que, cada vez mais, está maduro para enfrentar a ultradireita que avança em todo lugar. Em Portugal, um brasileiro foi eleito deputado pelo Chega, partido de extrema direita, que tem como uma de suas principais bandeiras impedir a entrada de brasileiros no país. É a piada pronta. Seu líder, um Bolsonaro com sotaque, fez campanha prometendo prender o Lula caso fosse eleito.

Nosso país-irmão esteve por 8 anos sob o governo socialista do ex-primeiro-ministro Antônio Costa. Uma investigação fajuta lançou dúvidas sobre a sua honestidade e ele resolveu renunciar em novembro. Agora, o PS obteve 28.66% dos votos. Mesmo sendo completamente esclarecido que, na verdade, o investigado era um homônimo. Uma imaturidade do socialista que propiciou a antecipação das eleições e a vitória da Aliança Democrática, centro-direita, com 29.54% dos votos.


O líder do partido, Luís Montenegro, já está em composição para fazer maioria e governar Portugal. O mais grave é que o partido de ultradireita, o Chega, obteve o terceiro lugar, com 18.3%. O presidente André Ventura, um extremista de direita, cresceu com a pauta anti-imigração e teve o apoio entusiasmado do ex-presidente Bolsonaro. O partido de centro-direita disse que não iria se organizar com a ultradireita, mas a palavra empenhada não é o forte dos direitistas.

No Brasil, o Presidente Lula dá demonstração de equilíbrio político ao questionar, ainda que intramuros, a conveniência da cassação de Sérgio Moro. Cassar um senador desmoralizado, isolado e sem nenhum prestígio e, talvez, dar vitrine à extrema direita, neste momento, pode ser um erro político. A reflexão vem de quem foi perseguido e preso pelo autoritarismo do então magistrado. Possivelmente, ninguém tenha mais motivos para dar um troco político nesse fascista do Moro do que o Presidente Lula.

Claro que foram muitos os perseguidos e injustiçados. Ainda nesta semana, recebi uma mensagem de áudio emocionante de um ex-senador, que também foi perseguido pela Operação Lava Jato, contando o quanto era importante, para quem estava preso em Curitiba, ouvir e ler minhas críticas contundentes a esse grupo de indigentes intelectuais - Moro e seus procuradores amestrados - desnudando a instrumentalização do Judiciário e do Ministério Público.

Imprescindível fazermos uma reflexão sobre o crescimento da ultradireita no mundo como um todo. As propostas racistas, misóginas e xenofóbicas ganham força e os extremistas posam de radicais com orgulho. Cultuar a tortura, negar o direito do pobre e preto, bem como discriminar o estrangeiro e as mulheres, são pautas que saíram do armário e dão identidade a esse bando. É necessário maturidade política nesse embate.

Embora seja um opositor ferrenho do senador Sérgio Moro e defenda que ele deve ser cassado e depois responsabilizado por seus atos, inclusive criminalmente, respeito a ponderação do Presidente Lula. O que não podemos é dar motivos para o crescimento da ultradireita que representaria a hipótese da vitória da barbárie sobre o humanismo.

Lembrando-nos de Augusto dos Anjos, no poema Versos Íntimos:

“Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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