O tempo do poder judiciário
Reprodução/Flipar
O tempo do poder judiciário


No último domingo, estava assistindo ao excelente documentário sobre o  8 de janeiro quando fui surpreendido com uma afirmação do ministro Alexandre de Moraes sobre 40 financiadores que teriam tido contra eles medidas cautelares. Na mesma hora, fiz uma mensagem para os editores do programa. Acompanho as investigações de perto, tanto quanto possível, e tenho escrito sempre cobrando ações exatamente contra os financiadores, os políticos, os militares e a família Bolsonaro. Será que tinha passado despercebido? Como já era 1h da madrugada, pensei em ligar para as jornalistas no dia seguinte. Ao acordar, às 6 horas do dia 8, deparei-me com a notícia de que tinha sido iniciada a 23ª fase da Operação Lesa Pátria e que os alvos eram exatamente os patrocinadores: 46 deles.

Ou seja, imaginei eu: como o ministro Alexandre já tinha determinado as medidas cautelares quando gravou para o documentário, ele anunciou que eles seriam o objeto antes da deflagração da operação, que demora mesmo um tempo até ser levada a cabo. Infelizmente, parece que os alvos não foram os grandes detentores do poder econômico, mas foi um avanço. 


Mas essa questão me fez desenvolver um raciocínio que entendo ser absolutamente importante. Há uma inegável preocupação, um mal-estar até, pelo fato de terem sido presos, processados e condenados quase tão somente os pretendentes a “aprendizes de terrorista” , no dizer do ministro Barroso. Revendo as falas do Ministro Alexandre de Moraes, certamente quem mais conhece os detalhes de toda a Operação, ele faz questão de afirmar, com seu jeito categórico de ser, que as investigações estão se dando sobre todos os que tiveram responsabilidade nos atos golpistas.

Em seu discurso, no ato em defesa da Democracia que se deu em 8 de janeiro, no Salão Negro do Congresso - Democracia Inabalada -, ele fez questão de frisar: “Impunidade não representa paz nem união. Absolutamente todos aqueles que pactuaram, covardemente, com a quebra da Democracia e a tentativa de instalação de um Estado de exceção serão devidamente investigados, processados e responsabilizados na medida de suas culpabilidades”. E continuou, “apaziguamento também não representa paz nem união”.

Esse foi o tom de toda a cerimônia, sintomaticamente convidada e organizada pelos Três Poderes da República. Foi muito simbólico que o convite tenha sido assinado pelo Presidente da República, Lula, pelo Presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, e pelo Presidente do Poder Judiciário, Luís Roberto Barroso. E que o evento tenha contado com a presença firme do atual procurador-geral da República, que fez um discurso comprometido com uma atuação republicana.

Ao encerrar a solenidade, Lula definiu por todos o sentimento dos democratas: “Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos. Não há perdão para quem atenta contra a Democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo. O perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo conduto para novos atos terroristas” . Enquanto isso, ao fundo, as pessoas entoavam um grito de: “sem anistia”.

Ou seja, é uma questão de tempo. E o tempo do Judiciário não é o mesmo das nossas angústias e ansiedades. Tem que ser feita uma investigação séria, bem fundamentada e com respeito a todos os direitos e garantias constitucionais dos golpistas acusados. Se adotarmos os métodos da barbárie, os bolsonaristas terão vencido.

É bom saber que a hora do acerto de contas com o Brasil e com a Democracia está chegando. Como bem lembrou o procurador-geral, Paulo Gonet, citando Shakespeare, na peça A Tempestade, “O que é passado é prólogo”.

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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